António Fidalgo

A decadência do Ocidente

O livro de Jacques Barzun, Da Alvorada à Decadência. De 1500 à Actualidade, vindo a lume originalmente em 2000 nos Estado Unidos, e publicado o ano passado em Portugal, pela Gradiva, é um livro de peso. Tem 844 páginas de mancha densa. É de peso também no sentido de que trata de um largo período da história e de que o retrato que faz é em certos pontos bastante minucioso. A todos os títulos é certamente um típico e bom livro para o tempo de férias.

O tema da decadência do Ocidente é recorrente. O livro de Oswald Spengler, A Decadência do Ocidente, publicado na Alemanha em 1922 (Der Untergang des Abendlandes) é sem dúvida o livro que mais eco encontrou. Olhando a História vemos que efectivamente reinos, impérios e civilizações surgiram e desapareceram no tempo. O império britânico do Século XIX e o império ibérico do século XVI, apenas para nomear dois impérios conhecidos e próximos, pertencem hoje ao passado como muitos outros impérios desaparecidos. A obra de E. Gibbons, Declínio e Queda do Império Romano, é uma visão sobre séculos da história de Roma, da glória republicana e imperial à sua tomada pelos bárbaros. Mesmo civilizações e culturas passaram como episódios da história que, em determinados momentos, pretendem ou parecem resistir à usura do tempo.

Será que vivemos numa época de decadência? Se sim, quem somos nós que a vivemos e desde quando? O livro de Barzun é antes de mais um livro sobre a identidade do Ocidente, uma resposta à pergunta de quem são os que fazem o Ocidente. A data de 1500 reporta-se crucialmente á reforma religiosa que atravessou todo o século XVI e com que se inicia a era moderna. O Ocidente é a designação vasta para incluir a emergência do individualismo, da emancipação do sujeito, da afirmação da liberdade de consciência, do surgimento do estado-nação. Barzun traça um arco do início do século XVI aos finais do século XX. Decadência significa a perda, considerada em curso, da identidade construída aos longo de cinco séculos pela Europa e América.

O termo decadência comporta um pesado significado que, pelo menos numa primeira abordagem, é-se levado a rejeitar. Mas decadência é relativa ao que se surge de novo e que vinga. Ora se pode parecer que estamos numa perda de identidade no Ocidente, teremos de ser mais cautelosos na observação e na avaliação do que se passa, não apenas no mundo muçulmano, e que depois do 11 de Setembro e do 11 de Março se reveste de uma ameaça próxima, mas também e sobretudo do que ocorre nos países populosos da Ásia, onde vive mais de metade da humanidade.