Por Eduardo Alves


Os dois docentes da UBI envolvidos no projecto

O homem vem cabisbaixo a percorrer a entrada do aeroporto. A passos largos, a figura caminha em direcção ao atendimento. Num relance, por entre os cabelos compridos e o chapéu à cowboy surgem uns olhos castanhos que passam pelo leitor óptico. Pouco tempo depois, os mesmos vão servir para pagar a conta de um café bebido à pressa e um pastel mal mastigado. O carro que ficou estacionado durante largos meses no silo do aeroporto começar agora a funcionar, logo depois dos olhos deste mesmo indivíduo sinistro terem passado pelo identificador. Por fim a porta do apartamento dá sinal verde, mal o leitor óptico desta, lê a íris do sujeito.
Termina assim o guião de uma possível antevisão hollywoodesca do futuro. Um futuro que para Luís Alexandre e Hugo Proença, docentes no Departamento de Informática da UBI, pode não ser tão longínquo. Estes dois investigadores estão empenhados em criar uma base de dados biométrica, a maior do mundo, através de imagens da íris. O olho humano serve de base a este tipo de investigação.




Um projecto com utilizações ilimitadas

Nas palavras de Luís Alexandre, “a íris do olho humano é como uma identidade própria, como a impressão digital”. Com a vantagem de ser inalterável e também, mais fiável. Uma base de dados biométrica não é mais do que “um grande conjunto de fotografias da íris das pessoas”, explica este responsável pela cadeira de reconhecimento de padrões, num mestrado que está a ser leccionado na UBI. Alguns projectos que já estão em desenvolvimento em outros pontos do planetas consistem na catalogação das fotos da íris. Depois de tirada uma fotografia ao olho, os cientistas conseguem isolar a imagem da íris “e segmentá-la”. Isto é, “conseguem dividi-la em segmentos e transformar esses mesmos segmentos, em números”, explicita o docente. Logo após a recolha desses mesmos números é atingido um algoritmo. Esse mesmo algoritmo, formado por números, passa a ser o bilhete de identidade da pessoa em causa.
Luis Alexandre e Hugo Proença afirmam que já existem outras bases de dados. Uma delas, com cerca de 50 fotos, “serve mesmo de padrão”. No entanto, as investigações que são desenvolvidas a este nível requerem “imagens com qualidade máxima e recolhidas em determinadas condições”. Uma das vantagens que os dois investigadores da UBI se propõem introduzir no estudo biométrico “é que as imagens estejam em condições normais”. Algo que torna a sua utilização muito mais simples e prática.

Novo sistema muda identificação normal

O olho humano ocupa lugar central neste projecto que pode catapultar o nome da Universidade

Aos olhos destes dois investigadores, que com toda a certeza também vão constar da base de dados, “a segurança tornou-se, hoje em dia, um pilar imprescindível numa sociedade democrática”. Daí que o reconhecimento automático (identificação/autenticação) de pessoas por sistemas informáticos “seja fundamental”. No sistema biométrico, neste caso a trabalhar com a íris humana, “são aproveitados dados de cada pessoa, que são inalteráveis” para identificar esta mesma personalidade. No reconhecimento das pessoas podem ser utilizadas várias imagens, como as impressões digitais, imagens da face, da mão e da retina. Sendo que esta última é a que apresenta menos probabilidades de engano.
Estes investigadores acrescentam que os estudos realizados até ao momento no domínio da íris apontam para utilidades infinitas. Tudo o necessita de uma autenticação “pode ser feito através da leitura da íris”. Desde o controlo do horário de trabalho, que se faz, normalmente com cartão magnético, até à abertura de portas ou outras coisas que necessitem de uma identificação. “Tudo pode ser feito através da íris”, remata Luís Alexandre.




Dados protegidos pelo anonimato

Os autores daquela que se espera ser a maior base de dados biométrica do mundo explicam que os dados contidos na mesma são totalmente anónimos. Todos os interessados em “doar a imagem da sua íris”, apenas têm de mencionar a idade a sexo. Um processo simples “que não demora mais de um minuto”. Os investigadores explicam que “os olhos são fotografados, as pessoas mencionam o sexo e a idade, sem necessitar de se identificarem e depois recebem um cartão com a imagem da sua íris e a respectiva assinatura biométrica”. Uma forma de recordar esta participação. As imagens são depois catalogadas, segmentadas e estudadas até se chegar ao algoritmo das mesmas. Outra das novidades desta base de dados, “é a sua forma publica”. No final de Outubro, os dois investigadores esperam ter já os resultados na página oficial deste evento. Uma novidade neste campo e que “vai ajudar a que outras investigações nesta área possam cruzar dados e resultados com as actividades que estão a ser desenvolvidas na Covilhã”, adianta Luís Alexandre. As sessões de recolha vão começar já no próximo dia 27 de Setembro e prolongam-se até 8 de Outubro. Os interessados devem dirigir-se ao secretariado do Departamento de Informática, no bloco 6, piso 2, entre as 9 e as 19 horas. Nesta acção, os dois investigadores contam com a colaboração do Núcleo de Estudantes de Informática da UBI (NINF) e do Centro de Recursos de Ensino e Aprendizagem (CREA), o primeiro está a procurar voluntários entre a comunidade estudantil e o segundo fornece o material técnico utilizado na recolha de imagens.