António Fidalgo

Números negros

São números negros os que vemos no recente Relatório da OCDE sobre as qualificações escolares dos portugueses e da evolução que houve de 1991 a 2002. Basta atermo-nos à Tabela A3.4a, relativa ao grau de educação da população entre os 26 e os 64 anos. A média dos trinta países, onde se encontram além dos europeus, também a Austrália, o Japão, os Estados Unidos, a Turquia e o México, é, em 2002, de 33 por cento abaixo da conclusão do ensino secundário, 44 por cento com o secundário feito e de 23 por cento com um grau de ensino superior. Quais as percentagens em Portugal? São de 80 por cento abaixo do secundário, 11 por cento com o secundário feito e 9 por cento com um canudo superior. Piores números que estes apenas os tem o México. Na Turquia 16% da população entre os 26 e os 65 anos tinham em 2002 concluído o ensino secundário.

Pode ser que não seja desgraça ser pobre, mas já é desgraça não querer deixar de o ser. E pior ainda é não querer deixar de ser burro. É que de 1991 a 2002 a evolução dos números, e da realidade que representam, ainda consegue ser mais negra que os próprios números olhados separadamente. A Espanha e a Irlanda de 1991 a 2002 baixaram em 20 pontos percentuais a parte da população que ficava sem um diploma do ensino secundário. A Espanha passou de 78 para 58 e a Irlanda de 60 para 40. Portugal ficou-se por uma descida de 6 pontos, de 86 para 80.

Falta de investimento? Com certeza que não. Portugal é dos países com uma das maiores despesas em educação. Como dizia o Prof. Silva Lopes no jornal O Público de 20 de Setembro: “Nós já gastamos com a educação mais do que a média da OCDE. Temos 30 por cento de professores a mais em relação à média e as turmas mais pequenas dos 27 países comparados. Temos o menor número de aulas para os alunos e as menores cargas horárias para os professores. Por fim, sobretudo no fim da carreira, temos alguns dos professores primários mais bem pagos da Europa.”

Falta de estímulo? Também não. A diferença salarial por grau de ensino é superior em Portugal que na maioria dos outros países. Em Portugal um licenciado ganha, em média, três vezes mais que alguém que não concluiu o secundário.

Falta de ambição, certamente. Há tempos houve uma sondagem onde a maioria dos portugueses estava satisfeita com o seu grau de conhecimentos. É esse o problema. Contentamo-nos com pouco.