"A formação deve ser adequada aos problemas da nossa zona" afirma José Robalo
Abertura de fronteiras
Sector têxtil vai ter medidas de apoio para atenuar fim das quotas alfandegárias

Para José Robalo, presidente da ANIL, só isto não basta, e continua a defender a prorrogação do prazo para a eliminação das taxas, para que se possa praticar um "comércio justo".


Ana Rodrigues Ribeiro
NC / Urbi et Orbi


A Comissão Europeia anunciou na semana passada um conjunto de sete medidas que têm como objectivo atenuar o impacto da eliminação total das taxas alfandegárias para os produtos têxteis e de vestuário entre os estados que fazem parte da Organização Mundial do Comércio (OMC), prevista para Janeiro de 2005. Mas para José Robalo, presidente da Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios (ANIL) e da Federação da Indústria Têxtil e do Vestuário (FITVP) este é "um passo necessário mas não é suficiente".
Mais de 50 países, entre os quais Portugal, são signatários da Declaração de Istambul. Um documento que apela ao prorrogamento do prazo para a liberalização por mais três anos, para durante esse período serem criadas as medidas necessárias para um "comércio leal". Isto porque acusam países como a China ou a Índia de concorrência desleal, por não praticarem um comércio justo, livre e de não cumprirem as regras estabelecidas pela OMC. Por isso vêem estas sete medidas apenas como uma meia vitória, uma vez que a principal reivindicação continua a ser a mesma e, a pouco mais de dois meses do prazo, ainda esperam ver o seu pedido atendido.
O estímulo da pesquisa e da inovação, a criação de fundos estruturais para fazer face a crises imprevistas, a garantia da formação profissional contínua, o reforço contra a pirataria e a contrafacção, a conclusão da zona euro-mediterrânica, melhorar o acesso aos mercados de países terceiros e o reforço do diálogo com a China são as medidas propostas.
No entanto, José Robalo sublinha que havia outros aspectos preconizados. Exigências relacionadas com o controlo de aspectos sociais e ambientais, como é o caso do trabalho infantil ou os materiais usados nos produtos. "Para que quem não cumprisse as regras mínimas fosse penalizado", frisa. "Porque nós não podemos estar a alimentar um sistema que é condenável", acrescenta. Mas diz que neste assunto, apesar de os estados reconhecerem os riscos iminentes, alguns têm receio de aprovar medidas mais restritivas porque há interesses e "lobbys" em jogo.

Conseguir cláusulas de salvaguarda vai ser difícil

Outra das intenções das associações ligadas ao sector é tentar accionar cláusulas de salvaguarda, à semelhança do que os Estados Unidos querem fazer em relação às importações da China, que já cobre 75 por cento do seu mercado. Nomeadamente no que diz respeito a calças, camisas de malha e de tecido e roupa interior. Uma medida que José Robalo considera ser difícil de implantar na Europa, ao contrário do que deverá acontecer nos Estados Unidos. E por isso teme que isso faça com que a China inunde a Europa com os seus produtos.
José Robalo considera as medidas anunciadas positivas e acredita que podem fazer com que as dificuldades do sector possam vir a melhorar de uma forma gradual. Mas vê-as como medidas "globais" e diz que o seu impacto em cada país ou região depende da forma como forem implementadas em cada sítio. No que toca à formação o presidente da ANIL defende que é um aspecto a melhorar, uma vez que "alguma da formação que tem sido dada não é a mais adequada". "A formação não pode ser uma coisa estática. É preciso criar novos cursos. Dar uma formação mais voltada para os problemas da nossa zona e não se fazerem cursos só por fazer", advoga.

"Portagens são atestado de estupidez às pessoas do Interior"

O sector têxtil na região tem passado por dificuldades e, segundo José Robalo, o pagamento de portagens na A23 vai também afectar esta indústria, contribuindo para o agravamento do problema.
O presidente da Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios considera a medida do Governo "um atestado de estupidez às pessoas do Interior" e diz que até concorda com o princípio do utilizador-pagador, "mas então o exemplo teria que vir de Lisboa". E faz referência às injecções de verbas feitas pelo Estado para manter o Metro, a Carris ou a Transtejo, que todos pagam mas só alguns utilizam.