Por Ana Maria Fonseca e Eduardo Alves



Para o responsável pelo Centro de Informática, as Ciências Exactas continuam a ser um dos pilares da UBI

Urbi et Orbi - Há quanto tempo preside à Unidade das Ciências Exactas?
José Pacheco de Carvalho -
Já presidi por várias vezes, algumas delas na qualidade de presidente do Conselho Directivo. Mais recentemente foram feitas algumas mudanças nos regulamentos, e o presidente da Secção Científica passou também a ser por inerência o presidente do Conselho Directivo. Nessa qualidade também já fui eleito.

U@O - Quais são as maiores dificuldades com que se depara no exercício do seu cargo?
J.P.C -
Como presidente da Unidade não têm sido encontradas nenhumas dificuldades dignas de assinalar porque temos tido sempre um bom relacionamento com todos os órgãos da UBI.
Mas a Unidade tem alguns problemas. Abrange um grande número de alunos de várias disciplinas, cursos e diferentes áreas. É um eixo estrutural da UBI, e uma base fundamental de todas as áreas científicas e tecnológicas, já que os conhecimentos de base das Ciências Exactas são necessários em praticamente todas as áreas científicas.
Para além dos recursos humanos, dos espaços, do papel e da bibliografia, são precisos meios laboratoriais e computacionais, que requerem recursos consideráveis. E nesse sentido, embora a Unidade se encontre bem dotada de equipamentos, tem de haver actualizações para as quais os orçamentos mais recentes não têm ajudado muito. Depois, aos custos de equipamento há que acrescentar os custos de funcionamento bastante elevados, porque é necessário renovar equipamentos específicos, alguns dos quais já atingiram o fim de vida útil. E nós temos de dividir os alunos por turnos, e atender às capacidades dos laboratórios, até porque pedagogicamente não se pode ter um laboratório superlotado, e têm de se dar as aulas com o mínimo de condições de qualidade.
Por outro lado, os alunos vão avariando o equipamento, normalmente através do processo de ensino-aprendizagem. É preciso mandá-lo reparar, ou adquirir novo. A parte laboratorial requer um investimento constante em termos de funcionamento. Então, como os orçamentos precisam de ser complementados com outras verbas, temos concorrido a vários programas e bastantes têm sido financiados o que permite arranjar recursos adicionais para a Unidade fazer face a essas despesas.


"Os alunos, cada vez mais, fogem das ciências"



"As ciências exactas são de importância vital"

U@O - Há algum tipo de colaboração com empresas?
J.P.C. -
Tem havido alguma. Há empresas que têm oferecido equipamentos ligados a alguns cursos. Por exemplo na área da optometria e optotecnia.
As próprias empresas apercebem-se da existência de cursos que lhes interessam e promovem equipamento junto dos departamentos e dos alunos. Os próprios estudantes também são muito activos, na procura de interligações com entidades exteriores.
Os alunos cada vez mais fogem das ciências. Como é que vê isso?
De facto é uma realidade que o número de alunos tem estado a diminuir nos anos mais recentes. A nível geral, mas no caso desta unidade isso também se verifica. Acontece que há cursos em que a procura continua a ser muito boa e as vagas têm sido preenchidas na totalidade. Por outro lado, têm aumentado as classificações dos últimos alunos colocados. Estive a consultar alguns dados estatísticos e esta realidade é um facto.

U@O - Que papel representam as ciências exactas na UBI?
J.P.C. -
Considero que as ciências exactas são de importância vital e fundamental a nível nacional e internacional. Na UBI considero que são mesmo um eixo estruturante e a base fundamental de todas as áreas científicas e tecnológicas.
A Unidade engloba os departamentos de Matemática, Física e Química, tem um corpo docente altamente qualificado num total de 60 doutorados, seis docentes em mestrado e 42 em doutoramento. Estes números inserem-se numa política geral de qualificação de pessoal docente, na aposta na qualidade e melhoria da mesma. Também temos um grupo de pessoal não docente experiente e que se tem vindo a qualificar.


"Participação do aluno e do docente são fundamentais"

"Continuam a ingressar no Ensino Superior alunos com notas negativas"

U@O - Como vê o interesse cada vez menor dos alunos pelas ciências, e como pode isso afectar a Unidade?
J.P.C -
Têm estado a ser tomadas pela universidade em geral uma série de medidas. Estou a falar de medidas que visam minorar a situação de haver menos alunos, e para procurar atrair mais gente. O facto é que continuam a ingressar no Ensino Superior alunos com notas negativas, o que não se passa na UBI. Mas as regras de acesso deviam ser iguais para todas as instituições. Para não penalizar umas e beneficiar outras.
Só para enumerar algumas medidas, independentemente de sabermos que é preciso apostar em novos públicos, em novas actividades, incrementar a pós-graduação, inovando sempre. Mas há várias acções que já foram levadas a cabo, por exemplo, acções de marketing e de divulgação junto de várias entidades, entre escolas, a divulgação de informação na comunicação social, os dias da UBI, a divulgação de informação utilizando as novas tecnologias de informação e de comunicação, via Internet, uma vez que nós dispomos de bons recursos computacionais e de boas ligações à Internet, através da rede Ciência, Tecnologia e Sociedade. Em Outubro, por exemplo, a nossa conectividade passou de 12 para 20 Megabits por segundo. Há muita procura e portanto estes aumentos periódicos são necessários.
Por outro lado, os antigos alunos já licenciados e os docentes têm muito contribuído para esta divulgação. Tem sido feito um incremento considerável ao nível do apoio social aos alunos. Mais residências, um maior número de camas, as cantinas, etc.
A própria avaliação externa e reestruturação dos cursos penso que tem impacto junto dos potenciais candidatos. Os regimes de tutorado, tendo em vista um melhor acompanhamento dos alunos. As novas metodologias pedagógicas, incluindo o e-learning, que é uma das vertentes do projecto e-UBI em curso, para proporcionar no fim de contas as melhores condições aos alunos e cativá-los. Ainda a nível da própria cidade da Covilhã, verificamos que se tornou acolhedora para os alunos, com uma vida académica atractiva.
Mas estes problemas são a nível nacional e têm-se verificado também noutros países. Vemos a própria geração mais jovem, e penso que se familiarizou desde muito cedo com os meios audiovisuais, com grandes quantidades e variedade de informações, o que a levou a ser muito mais sensível e cativável por áreas novas e recentes em Portugal. E a nível do ensino secundário, nota-se de facto, um certo desinteresse por áreas como a matemática, a física e a química, matérias consideradas muito difíceis. Então é necessário inverter esta situação que considero prejudicial para o desenvolvimento do País.

U@O - Que projectos futuros há para a Unidade?
J.P.C. -
A Unidade, através do e-learning, que já está a disponibilizar vários conteúdos, através da rede geral de informática da UBI, e pensa-se incrementar os conteúdos das várias disciplinas, quer a nível de graduação, quer a nível de pós-graduação. A própria disponibilização dos conteúdos nos locais onde os alunos estão como seja o facto de eles se encontrarem nas residências, frequentarem as cantinas, etc., permitirá, penso eu, que a difusão da informação seja maior e que isso também possa contribuir para o sucesso escolar, independentemente de agora haver metodologias em que o aluno está mais perto do docente, que facilitam esse sucesso. A participação do aluno e do docente no sistema são fundamentais. O processo de Bolonha é muito importante e prevê isso. Este ano temos uma tentativa de aproximação a esse processo, que aliás já tem vindo a ser feita anteriormente. É um ano de transição.


"Penso que da interdisciplinaridade das áreas nascem ideias novas"



"Criação de cursos estratégicos em áreas científicas"


U@O - Prevê-se a abertura de novos cursos na Unidade?
J.P.C -
A esse nível há algumas ideias para a criação de cursos estratégicos em áreas científicas da unidade, alguns planeiam envolver outras unidades, tais como a Faculdade das Ciências da Saúde e as Ciências da Engenharia. Mas ainda não devemos divulgar informação sobre este assunto por ainda não ter sido presente aos órgãos competentes.
Penso que da interdisciplinaridade das áreas nascem ideias novas para a criação de novos cursos que poderão atrair mais públicos. Sabemos que, neste momento, os cursos de ensino estão a atrair menos alunos. Mas acredito que daqui a alguns anos vai voltar a haver necessidade de professores.
Falo da interdisciplinaridade na medida em que um determinado curso novo vai utilizar recursos de várias unidades. Isto tem a ver com a própria estrutura matricial da universidade e de facto acho que é um modelo que tem funcionado bem. E tem permitido optimizar recursos a vários níveis.

U@O - Concorda com a ideia que já veio a público e que juntaria a Unidade de Ciências Exactas à das Ciências da Engenharia?
J.P.C -
Considero que não se deve confundir complementaridade com fusão. As unidades são complementares não se podendo confundir as áreas científicas existentes em cada uma delas, que estão bem definidas. Por outro lado acho que este modelo tem funcionado bem, e tem produzido bons resultados quer a nível de ensino, quer de investigação. Actualmente há pessoas de vários departamentos e unidades diferentes a participar nos mesmos projectos de investigação. Isso tem tido todo o interesse. De qualquer maneira, as unidades complementam-se no todo que é a UBI.

U@O - Imaginando a unidade e a universidade daqui a alguns anos, como gostaria de vê-las?
J.P.C -
Tendo em atenção o que se está a verificar, espero que a UBI continue a crescer, a consolidar-se e a afirmar-se cada vez mais como instituição de ensino e investigação, nacional e internacionalmente. Desejo que continue a contribuir para o desenvolvimento regional e nacional, e que vença os desafios colocados pela declaração de Bolonha, que continue a melhorar a qualidade das necessidades que tem vindo a perseguir.
Quanto à Unidade, espero que se transforme em Faculdade e que continue a trabalhar a vários níveis no interesse geral da universidade.


"Faculdade - questão de autonomia e delegação de competências"

"Devia saber-se o que as faculdades podem e como é que podem fazer certas coisas"

U@O - De que depende a transformação em Faculdade?
J.P.C. -
É uma questão de regulamentarem o que é que as faculdades podem e como é que podem fazer, a questão das autonomias, a delegação das competências. Neste momento já temos uma delegação de competências do Senado, para alguns actos e para autorizar algumas despesas, mas há uma competência central. Não temos um número de contribuinte diferente, e é nesse sentido que penso que se caminha. Temos uma contabilidade e tesouraria únicas, temos vários serviços administrativos centrais.
Bom, penso que estar a multiplicar as contabilidades por todos os departamentos seria desastroso. Acho que há estruturas que têm de existir a nível central sem terem de se multiplicar. Mas estas questões também se relacionam com as leis dos ministérios, que periodicamente mudam, e as universidades têm de adaptar os seus estatutos às novas leis. Nesse sentido têm-se estado à espera de legislação vária para depois poder ser adaptada a organização interna das universidades, entre elas o processo de Bolonha.
A UBI já se está a adaptar, embora haja aspectos em que é necessário esperar. Seria contraproducente estar a avançar com aspectos que depois terão de ser alterados.

U@O - Acumula as suas funções de presidente da Unidade com as de director do centro de informática?
J.P.C. -
Director do centro de informática é um cargo que é por nomeação reitoral, por intermédio do conselho científico, e tenho estado desde 1989, e também tenho participado no conselho consultivo da FCCN. Como presidente da Unidade é um cargo que é por eleição e não por nomeação.
No entanto as actividades num e noutro caso são diferentes. São dois cargos diferentes em que não se misturam assuntos nem competências.





Perfil



Nasceu em 26 de Março de 1952 na cidade da Guarda, freguesia da Sé. Filho de pais professores do ensino secundário das áreas de Matemática e de Germânicas, que exerceram funções no Liceu Nacional da Guarda e em Liceus de Coimbra, cresceu na cidade mais alta, onde frequentou o ensino básico na Escola do Bonfim.
Mais tarde ingressou no ensino secundário no Liceu Nacional da Guarda, o qual concluiu no Liceu Nacional de D. João III em Coimbra em 1969 com a classificação final de 18 valores.
Tendo frequentado os dois primeiros anos dos preparatórios em Engenharia Electrotécnica na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, concluiu a Licenciatura no ramo de “Electrónica e Telecomunicações”, no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa em Julho de 1975 com a classificação final de 17 valores.
Está na UBI desde 1975, altura em que a instituição era Instituto Politécnico da Covilhã (IPC). “Concorri e ingressei como assistente eventual no Departamento de Física do IPC em Outubro de 1975”, lembra. Passou a assistente do IPC em 1978, funções que continuou a exercer no já Instituto Universitário da Beira Interior.
Ainda como assistente do IPC em 1978, concorreu às bolsas de estudo de pós-graduação no estrangeiro, tendo optado pela da Comissão Permanente INVOTAN. Assim, frequentou a Faculdade de Ciências (Departamento de Física) da Universidade de Manchester, em Inglaterra, tendo obtido os graus de Master of Science e de Doctor of Philosophy. “Foi-me concedida equivalência ao grau de Doutor em Ciências, na especialidade de Física Aplicada, pela Universidade de Coimbra em Abril de 1986. Desde então passei a professor auxiliar do IUBI e, a seguir, da UBI”, conta.
Concorreu e passou a professor associado de nomeação definitiva da UBI, a partir de 1995, exercendo as suas principais actividades no âmbito dos Departamento de Física, de Matemática/Informática (e, posteriormente, de Informática) e do Centro de Informática.
Casado e pai de uma filha, reside na Covilhã.
Nos tempos livres gosta de nadar, especialmente no Verão, “embora também gostasse de continuar essa actividade no Inverno. Gosto também de ouvir música, de ver televisão e de jogar no computador, embora a minha filha tenha mais vocação para essa área, agora dedica-se menos porque entrou para Engenharia Civil, aqui na UBI, e está muito mais ocupada”.