Liliana Machadinha
NC / Urbi et Orbi


Segundo os dentistas covilhanenses, as mentalidades entre os mais novos estão a mudar

O mês da saúde oral chegou ao fim. Apesar da existência de algumas campanhas de prevenção, esta data destina-se a assinalar e alertar as pessoas para a protecção e tratamento dos problemas da boca. Mas, segundo alguns médicos dentistas, a afluência de pacientes mantém-se durante todo o ano, não registando valores superiores no mês de Outubro.
É cada vez mais evidente que as pessoas procuram os dentistas com o intuito de prevenir problemas orais e reparar o existentes. O medo da cadeira, do som da broca aliados à falta de informação de muitos utentes contribuíam para que as visitas às clinicas só acontecessem quando era necessário. Uma dor de dentes constante levava o paciente ao consultório para arrancar a raiz desse mal estar, sem compreender que poderia prevenir o problema ou então restaurá-lo. Mas estas situações aconteciam há algumas décadas atrás, segundo a opinião de especialistas, que já laboram na área há muitos anos. Actualmente a situação é a oposta. As consultas de prevenção são habituais e raros são os doentes que desejam remover o dente, em vez de o restaurar. Ainda que o principal motivo das visitas a clinicas dentárias seja a estética e não tanto a preocupação com a saúde oral, estão ambos "relacionados e não se invalidam", assegura Rui Miguel Conceição, médico dentista na Covilhã. As mentalidades estão a mudar e principalmente nas faixas etárias mais novas. A razão que aponta para este facto prende-se com a consciencialização das crianças e com a criação de hábitos de higiene oral que "manterão durante toda a vida". Outra situação que ilustra a "crescente preocupação" das pessoas por uma boca sã passa pelos jovens de 20 e 30 anos que se dirigem à clinica para colocarem aparelhos para endireitar os dentes. "Quer seja por terem mais informação, por já receberem o seu próprio salário ou porque o emprego o exige" procuram este tipo de procedimentos médicos, esclarece Rui Conceição. Também adultos quinquagenários, que apesar de serem uma "minoria", declara, procuram corrigir a sua dentição.

"Já ninguém arranca se pode tratar"

Da mesma opinião é Paulo Pinto, também médico dentista, e garante que desde que se instalou na Covilhã, "há muitos anos", que a preocupação dos covilhanenses com os problemas orais é "evidente". Actualmente, e independentemente das camadas etárias a que pertencem, as pessoas dirigem-se às clinicas dentárias para se "precaverem e tratarem dos dentes", sustenta Pinto. "Já ninguém tem interesse em arrancar se podem tratar", assume ainda ao explicar que as condições físicas e estéticas, quer no trabalho, quer por bem estar pessoal, são mais "rigorosas". Maria do Rosário Rodrigues, educadora de infância, vai ao dentista "no mínimo" duas vezes por ano, por prevenção e para resolver "alguns problemas que possam ter aparecido". Por entender que é "necessário ter cuidado" com a saúde oral tenta incutir às crianças, através de programas e campanhas, a mesma preocupação, ensinando-as a escovar, o uso flúor e do fio dental . Os cuidados com a boca são "essenciais, porque podem evitar muitas doenças", assegura. Para Maria Rodrigues já não existem motivos para se ter medo de ir ao dentista, visto as regras de segurança e higiene já se "praticarem em todas as clinicas".

"Não é nada barato"

Mas apesar de defender que todas as pessoas deviam fazer "no mínimo uma visita anual" ao dentista, também acredita que a informação não chegou a todas as camadas etárias, "há quem vá por questões de estética e outros só quando é necessário". Também os preços são alvo de crítica, pois "não são nada baratos", acusando ser uma das razões de muitas pessoas não irem ao dentista, refere ao considerar a situação nacional de baixos salários e desemprego. Maria Rodrigues contacta com muitos pais na sua profissão e reconhece existirem agregados familiares com condições financeiras "muito baixas". Confessa que já teve casos em que certas crianças não puderam ir a visitas de estudo, "porque os encarregados de educação não tinham cinco euros para dar para o bilhete". Para resolver esta situação sugere que o "Estado devia ter campanhas para agregados com rendimentos financeiros baixos", pois se o dinheiro escasseia "até para a comida, também não há para levar os filhos ao dentista".