José Geraldes

Microcrédito


A palavra microcrédito começa já a fazer parte do vocabulário português. E a realidade que expressa, teve já honras e um congresso recente na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
Numa fórmula breve, o microcrédito assenta no empréstimo de dinheiro a pobres para a fundação de pequenas empresas. Foi o economista Muhammad Yunus que lançou a ideia e com tanto êxito que fundou um banco, o Grameen Bank, para a concessão dos empréstimos.
M. Yunus explica que a filosofia do Grameen “virou o sector bancário do avesso”. Ou seja, “emprestar dinheiro aos muito pobres, aos mais pobres, sem garantias”. O facto parece relevar de uma loucura mas a verdade é que os pobres a quem foram concedidos empréstimos, têm pago a tempo e horas os empréstimos ao contrário de muitos ricos.
M. Yunus parte do princípio de o crédito ser um direito fundamental “ao permitir que uma pessoa mude a sua própria vida”. O economista sublinha que normalmente “a resposta à pobreza é a caridade”. Neste caso, o banco Grameen escolheu a via do empreendorismo. As pessoas deixam de viver do regime assistencial para se tornarem donas do seu próprio destino.
Iniciada num dos países mais pobres do mundo-o Bangladesh- depois alargada à Indonésia, Bolívia, Peru e Equador, a experiência já tirou da miséria milhões de pessoas. E com a vantagem de lhes dar autonomia na gestão dos negócios e um sentido gratificante na realização dos projectos que sonharam.
Actualmente existem no mundo 12 mil instituições a conceder microcrédito, segundo a filosofia do seu fundador.
Em Portugal, a Associação Nacional de Direito ao Crédito(ANDC), fundada há cinco anos, funciona de acordo com os princípios de M. Yunus, em parceria com o banco Millennium e o IEFP(Instituto do Emprego e Formação Profisional). Com 300 sócios, já concedeu 349 empréstimos que criaram 420 empregos atingindo 1,5 milhoes de euros de créditos, em Lisboa, Porto, Setúbal e Beja.
As mulheres constituem o estrato social que mais beneficiou com os microcréditos, em 55 por cento, sobretudo nas áreas da restauração e do comércio alimentar.
Quem conseguiu os empréstimos reembolsou-os na percentagem de 77 por cento, cumprindo as suas obrigações para com a banca no pagamento de 36 prestações mensais fixas a taxas de juro baixas. E só uma parte das dívidas ao banco é coberta pela garantia da Associação Nacional de Direito ao Crédito. A taxa de lucro quase não existe.
É de notar o sistema ter revelado casos de sucessos profissionais, o que demonstra o microcédito ser também uma forma de promoção das pessoas.
Na actual situação portuguesa de falências e empresas a fechar, o micocrédito pode tornar-se numa alternativa para novos negócios. Basta que se abandone o hábito português do fatalismo e se enfrente a realidade com olhos de um futuro possível. E não estar à espera, como é costume, dos subsídios que tolhem o espírito de iniciativa.
O microcrédito funciona como uma boa fórmula moderna da solidariedade de que tanto se fala mas que pouco se pratica.