Anabela Gradim

O ataque das piranhas vermelhas

É uma agitação. Um verdadeiro frenesim. Nos últimos tempos, semana sim, semana sim, somos brindados com algum caso ou micro-escândalo no âmbito da comunicação social lusa. Ora é ponto consabidamente consensual em qualquer manual do género que «newsman is no news». Quando o são, como por cá têm sido, algo se há-de estar a passar, embora possa ser muito difícil determinar exactamente o quê.

Por ordem não necessariamente cronológica, cá vai uma amostra do que vimos andando a ganhar e perder: Há mexidas na Lusomundo, sai Henrique Granadeiro, entra Luís Delgado. Há animação quanto baste na direcção do Diário de Notícias. Sai Marcelo Rebelo de Sousa da TV onde comentava, saída essa seguida de declarações contraditórias entre o administrador da TVI e o comentador. Sai Rodrigues dos Santos por causa da nomeação pela administração de uma correspondente em Madrid, pouco tempo depois de um jornal anunciar que a sua direcção tinha os dias contados. Sai um parecer da AACS pedido expressamente pelo Governo para evitar um inquérito parlamentar ao caso Marcelo, e depois veementemente rejeitado por membros desse mesmo governo. Last, but not least, Sampaio vetou a Central de Comunicação que o executivo pretendia constituir para se assessorar na tarefa de comunicar. Está mal. Está-se mesmo a ver pela sucessão de casos que, como nenhum outro, este Governo tem má imprensa e dificuldade em transmitir a sua mensagem junto dessas centrais de propaganda de humor instável que são os jornais: e esse é um facto óbvio, e que não deixa de ser sui generis, que Santana tenha má imprensa desde que tomou posse.

Enfim, que dizer de tudo isto? A sucessão de casos, as versões contraditórias. Qual o significado deste súbito aparecimento da imprensa nas primeiras páginas dos jornais?
Gosto de consultar o fórum do Expresso, sei lá, assim a modos que para arejar e contactar com ideias novas, ou simplesmente diferentes. Pois no desta semana vinha uma explicação para o «newsman being news»: é tudo uma enorme conspiração da esquerda (piranhas vermelhas – a metáfora é minha) aliada a alguns sectores do PSD que não gostam do Dr. Santana. São eles que todas as semanas fazem rebentar nas páginas dos jornais casos que de algum modo atinjam quem nos governa, etc, etc.
Agradou-me muito esta explicação. É que, pronto, se é assim, ufa, temos a democracia a funcionar, e já posso dormir descansada.