Ana Ribeiro Rodrigues
NC / Urbi et Orbi


O acordeão é um instrumento musical que ganha adeptos em Alpedrinha

Era o centro das atenções nas festas e bailes no passado, mas ao longo dos anos foi perdendo o lugar de destaque, sobretudo junto dos mais jovens, e já não cativa tanta gente. Mesmo assim, o encontro que juntou no Clube Académico de Alcongosta cerca de 25 acordeonistas, mostrou que há ainda muitos entusiastas e que há um número significativo de jovens na região que optaram por aprender este instrumento.
Patrícia Santos, de 19 anos, é um desses casos. Tinha dez anos quando os avós lhe ofereceram o acordeão vermelho que trás consigo. O pai incentivou e foi para a Academia de Música e Dança do Fundão aprender. Entretanto começou a fazer espectáculos com um colega, para além de participar nos convívios da Associação de Acordeonistas da Beira Baixa, que conta com 86 associados. E o facto de ser uma das poucas raparigas entre tantos homens faz com que chame mais a atenção, como aconteceu em Alcongosta. Na altura em que começou a tocar com a colega Aline o burburinho no público deu lugar ao silêncio.
"O som do acordeão nunca vai acabar", frisa Patrícia. E sustenta a sua opinião com as várias pessoas que frequentam as aulas de acordeão na Academia. No seu caso aprendeu a ler uma pauta, como acontece normalmente com os acordeonistas da nova geração. Mas há excepções, de gente que "toca de ouvido", como a maior parte dos da velha guarda. Luís Ferreira tem 17 anos e cresceu a ouvir tocar o avô, que há pouco mais de um ano lhe ofereceu a sua concertina. Desde então, foi experimentando, o avô foi dando umas dicas e com alguma persistência conseguiu aprender. "Se não fosse o meu avô nem sequer pegava nisto", diz. Agora já fala, com entusiasmo, nas características do instrumento e explica que a concertina é mais difícil de tocar que o acordeão, por ser "um instrumento diatónico, que faz um som diferente ao abrir e ao fechar".
Instrumento caro
Adelino Miguel, de 76 anos, com o seu acordeão negro ao peito, diz que "é um instrumento que divertiu o País durante 50 ou 60 anos". "Não se fazia uma festa sem ele e um acordeonista era a alegria da terra. É um instrumento muito completo e difícil de aprender, exige dedicação, e se não se treinar todos os dias não se vai lá". Fala quem comprou um acordeão aos 20 anos, quando arranjou dinheiro para ele, e nunca mais o largou. Entretanto, dedicou-se a afiná-los e a arranjá-los. "Agora já não há gente nas aldeias e os jovens querem fazer música só a carregar num botão, como fazem agora", lamenta. Por isso diz que fica satisfeito quando encontra gente nova a tocar, só tem pena de não haver mais sítios onde se ensine.
Um acordeão pode custar à volta de cinco mil euros e o facto de ser caro pode ser um factor que reatraia alguns interessados. Adelino Aníbal queixa-se ainda dos 12 quilos que pesa o seu, um peso que "com a pressão aumenta e depois de andar algum tempo com ele já não pesa isso, pesa mais", frisa.
O convívio foi uma organização do Clube Académico de Alcongosta, em parceria com a Junta de Freguesia da localidade e a Associação de Acordeonistas. Uma iniciativa que decorreu em paralelo com o Torneio de Rolho e um almoço oferecido à população em geral. Segundo David Rodrigues, presidente da colectividade, tratou-se de mais uma actividade para potenciar o convívio no clube, com o envolvimento de todos quantos quisessem participar. Com a animação, a cargo de um instrumento de cariz popular, pretendeu-se não só adequar a música a um jogo que é também tradicional, o rolho, jogado habitualmente na colectividade, como também trazer os sons das concertinas e acordeões para as ruas de Alcongosta. "Uma forma de divulgar o instrumento e dar mostras da sua vitalidade", realça.