Por Eduardo Alves


A tese agora apresentada na UBI vem preencher uma lacuna existente nesta área

Poucas foram as alegações dos membros do júri perante este tese pioneira. Amélia Augusto, docente no Departamento de Sociologia da Universidade da Beira Interior apresentou um estudo que enquadra “pela primeira vez, o tema da infertilidade, no contexto social.
Emergente nas notícias, também no meio científico, nomeadamente no campo da medicina, este assunto sempre foi tratado ao sabor das correntes que sobre ele têm influência. Torna-se uma certeza, com esta tese, o facto da infertilidade ser uma doença. Como tal, “tem todo um processo clínico de diagnóstico e de cura”. No entanto, o que a investigadora social traz de novo é o facto “desta mesma doença ter impacto ou contornos sociais”. Segundo a autora do estudo, a patologia, quando diagnosticada, “chega a ter receitas sociais”. A fuga a comportamentos sexuais de risco ou a gravidez em idades aconselhadas, são algumas das prescrições médicas que “têm fundamentos sociais”.
Uma das características que apaixonou Amélia Augusto foi o facto de “este ser um tema que se tem vindo a impor na agenda”. Durante todo o processo de investigação, onde foram ouvidos casais, médicos e outros especialistas houve tempo para chegar a um denominador comum. “Este é um assunto multidisciplinar”, sublinha a investigadora social. Contudo, “tem sido tratado de forma hermética por cada campo que toca”. Política, religião, ciências médicas e outros, são alguns dos “lobbies” que filtram a informação que chega ao grande público.




Debate torna-se urgente

Esta tese “é um primeiro passo para o efectivo debate deste assunto”, refere o júri constituído por Pedro Manuel Botelho Hespanha, professor associado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, João Carlos de Freitas Nunes, professor associado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Graça Maria Carapinheiro, professora associada do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Maria Johanna Christina Schouten, professora associada da Universidade da Beira Interior, Alcides de Almeida Monteiro, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior, António Fernando Tavares Cascais, professor auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Cristina Lage Bastos, investigadora auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. O carácter pioneiro do estudo consegue “desenhar alguns caminhos que têm de ser tomados para que haja uma verdadeira abordagem de um assunto tão delicado”, remata a mais recente doutora da UBI.
A falta de um debate global sobre este assunto tem vindo a criar “preconceitos sociais que nem sempre são os mais correctos”. A tecnologia, por outro lado, utilizada pela medicina tem, nestes casos, “uma dimensão humana”, explica Amélia Augusto. As soluções aplicadas para este tema e para esta patologia, “devem também carecer de uma visão social, de uma fotografia geral do mundo dos pacientes”, adianta Amélia Augusto.

Continuar o estudo

As conclusões agora alcançadas levam a novos estudos

No final da apresentação de três horas, na Sala dos Actos da Reitoria da UBI, a docente de sociologia confessou querer descansar, “relativamente aos estudos”. Esta pesquisa mostrou-se “um verdadeiro desafio”, visto tratar-se de uma área “inovadora, inexplorada, mas que era imperativo estudar”. As entrevistas, a escrita da tese e sobretudo, o apontar de alguns caminhos, “são bases para futuros trabalhos”, reitera a autora. Esta docente frisou ainda o facto de, em Portugal, “não se conhecerem quaisquer dados relativamente à vida dos casais”. Números esses que possam dar início ou ajudar em trabalhos académicos.