António Fidalgo

O debate político

O debate político tornou-se ele mesmo tema do debate político que anima a campanha eleitoral em curso. Os que se sentem em desvantagem nas sondagens querem o maior número de debates possível; do outro lado, de quem se sente em vantagem na corrida eleitoral, há o desejo de menor exposição ao confronto de líderes partidários, a dois ou a cinco. As acusações surgem, aqueles afirmando que quem evita o debate o faz por medo, estes dizendo que há mais política além dos debates mediáticos.

Não há democracia sem debate. Não podemos conceber a vida política democrática, a participação em pé de igualdade dos cidadãos na gestão da coisa pública, segurança, justiça, educação, saúde, sem o recurso ao debate político, ao livre e até aceso confronto de ideias. O que distingue a vida política democrática face a outros regimes políticos é, desde a pólis grega, justamente o recurso à palavra e só à palavra na praça pública, com exclusão da violência. É a força das palavras, o seu poder de persuadir o maior número de membros da assembleia, o único meio de alcançar e de exercer o poder.

Há no debate uma dimensão de luta, de vencer um adversário ou de perder para ele, que uns podem desejar e outros podem temer. O debate exige perícia, treino, preparação e também coragem. Contudo, o debate político também não pode ser considerado um simples show-off mediático. Muitos debates políticos são hoje matéria interessante e apetecível para os grandes meios de comunicação de massas. Aí os debates servem mais para entreter, no formato de política entretenimento, do que para clarificar ideias, de expor programas, de apontar soluções. A pressão que os diferentes órgãos de comunicação social, em particular as televisões exercem sobre os candidatos quanto aos debates mostra bem que é a agenda mediática a ditar o debate político e não a agenda política. Muitos vezes são os políticos que querem a transmissão dos debates e são as televisões que a recusam.

Resumindo, o debate político como tema do debate político é um tema controverso e, portanto, digno ele mesmo de ser debatido. Os eleitores ouvirão um e o outro lado sobre este tema e depois formarão a sua própria opinião quanto à necessidade ou à dispensabilidade de mais debates.