António Fidalgo

O inglês e o seu ensino

O inglês é incontestavelmente a língua franca dos nossos dias. É língua nativa ou oficial em países importantes, economica e demograficamente, como os Estados Unidos, a Austrália, a Índia, a África do Sul e Nigéria, entre outros. E é a língua estrangeira que se fala tanto nas zonas desenvolvidas da China às grandes cidades da América Latina. A sua difusão hoje por todo o globo só terá semelhança com o latim na bacia mediterrânica à altura do império romano. É eventualmente a única língua que um viajante precisa de saber em qualquer canto do mundo para comunicar com os locais.

Mesmo na Europa em vias de união é o inglês que se impõe como a língua de todos, sobretudo à medida que mais países se juntam ao projecto europeu e mais aumenta a diversidade linguística. É em inglês que alemães falam com portugueses, é em inglês que franceses e polacos falam com holandeses, suecos e finlandeses. Na Europa das muitas línguas sente-se cada vez mais a necessidade de uma língua comum na exacta medida em que avança a integração europeia.

Na ciência, no comércio, na indústria cultural, na aviação, na banca, o inglês tem um predomínio avassalador, incomparável ao de qualquer outra língua. Em algumas destas áreas é não só língua franca, mas quase língua exclusiva.

Apurada a omnipresença da língua inglesa no mundo hodierno, como compreender que o estudo do inglês tenha tão poucos alunos nas universidades portuguesas? Uma resposta rápida é a de que o inglês língua franca é diferente do inglês universitário. Enquanto língua franca o inglês é uma língua pobre, reduzida a poucas centenas de vocábulos, com uma estrutura rudimentar que apenas serve para comunicar as necessidades mais básicas, mas imprópria, porque incapaz, para as actividades mais nobres do espírito, poesia ou filosofia. O inglês língua franca aprende-se nas escolas de línguas, o inglês culto exige esforço, aprendizagem aprofundada da gramática e do léxico.

Quando em Portugal se advoga a aprendizagem do inglês logo a partir do básico é preciso cuidar sobre que inglês é que se vai aprender. Será um inglês sem esforço, um inglês crioulo, próprio de criados de mesa, ou de um inglês enquanto língua de cultura, e que deverá ser aprendido como outrora se aprendia o grego, o latim e o francês como veículos de cultura e de instrumentos de bem pensar e até de melhor cultivar a língua materna? Nesta resposta vai aquilo que queremos para nós portugueses, um povo de cultura com ânsia de conhecer outra cultura, ou um povo que descura a própria língua e procura refúgio numa língua simplificada e ligeira. A aprendizagem do inglês desde cedo na escola só terá sentido se o português for prioridade absoluta e a aprendizagem da língua estrangeira for um auxiliar para um melhor conhecimento e domínio do português enquanto língua materna.