Segundo os responsáveis pelo sector, se não houver medidas de protecção governal, a situação dos têxteis vai ficar ainda pior
Economia local
Têxteis apelam para que
Governo trave investida chinesa

Reunidos com Santana Lopes, os responsáveis pelos têxteis portugueses desafiam o Governo a accionar cláusulas de salvaguarda contra a concorrência chinesa. José Robalo, da ANIL, diz não ser possível competir contra quem, por exemplo, usa mão-de-obra infantil.


NC / Urbi et Orbi


"Coragem política". É isto que os principais responsáveis pelos têxteis nacionais pedem ao Governo, de modo a que este accione as cláusulas de salvaguarda para Portugal, de modo a travar as importações de têxtil e vestuário da China. Foi esta a principal conclusão da reunião que as associações do sector tiveram na passada quarta-feira, com o primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, e com o ministro das Actividades Económicas e do Trabalho, Álvaro Barreto. As cláusulas estabelecidas pela Organização Mundial do Comércio prevêem a possibilidade de os países colocarem restrições às importações, caso os países exportadores não cumpram as regras da concorrência. Segundo Paulo Nunes de Almeida, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), o Governo deve ter a "coragem política para que sejam tomadas decisões no âmbito da União Europeia" quanto às referidas cláusulas. "Se as regras do comércio mundial não forem cumpridas, as empresas portuguesas não conseguem continuar a competir", acrescenta, lembrando que a Turquia já accionou as cláusulas de salvaguarda, o mesmo podendo vir a acontecer com os Estados Unidos. As associações representativas do sector do têxtil e vestuário defendem, por isso, que Portugal deve estar na primeira linha da defesa dos interesses dos países que serão afectados pela previsível invasão de produtos chineses. Os primeiros indicadores sobre as importações da China só serão conhecidos dentro de duas semanas – a abolição de quotas entrou em vigor a 1 de Janeiro. Amadeu Fernandes, da Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios-Lar (ANIL-Lar), disse que os empresários apenas querem que "sejam cumpridas as normas da Organização Mundial de Comércio, sem 'dumpings' económicos e sociais". Além disso, denunciam que muitos produtos são fabricados na China, mas são comercializados com marcas de multinacionais europeias e norte-americanas. Já José Robalo, presidente da ANIL, recusa qualquer ideia de proteccionismo e disse haver "regras básicas de comércio mundial que não são cumpridas pela China. "Podemos competir com mão-de-obra barata, mas não podemos competir com empresas que não pagam energia e que utilizam mão-de-obra escrava e infantil.” O primeiro-ministro e o ministro das Actividades Económicas e do Trabalho terão respondido favoravelmente ao apelo, garantindo que vão lutar pela defesa dos interesses da têxtil. Sobre as eleições legislativas do próximo dia 20, as associações dizem que a "importância da têxtil é superior ao poder político", pelo que o futuro Governo poderá contar "sempre com o apoio do sector".