Para os concorrentes, o evento covilhanense destaca-se pela qualidade dos participantes
Balanço positivo
Concurso de Arco “Júlio Cardona” traz talentos de 20 países à Covilhã

Os músicos salientam o bom nível dos participantes e dizem que estas iniciativas são importantes para a sua evolução.


Ana Ribeiro Rodrigues
NC / Urbi et Orbi


Depois dos momentos de tensão de há uns minutos atrás, em que era necessária toda a concentração para darem o melhor em palco, os participantes da quinta edição do Concurso Internacional de Instrumentos de Arco “Júlio Cardona” vão agora conversando no corredor do Teatro-Cine da Covilhã, enquanto esperam pelos resultados de mais uma eliminatória. Pelo menos, tentam ocultar algum nervosismo com uma pose mais descontraída.
Perto das escadas onde a russa Sasha Raikhlina e a japonesa Hiroko Yamamoto estão sentadas a trocar algumas ideias, Emanuel Salvador diz que já não vai à final, mas frisa que mesmo assim valeu a pena ter vindo pela terceira vez à Covilhã para participar no único concurso deste género que se realiza em Portugal. De resto, salienta que se trata de um evento com prestígio internacional e que já estava à espera de encontrar um nível elevado, como veio a constatar.
Emanuel, de 23 anos, é de Guimarães, mas está a estudar violino no Royal College of Music, em Londres, onde viu os posters de promoção do concurso. Para este jovem músico os prémios “são apenas indicadores, não a parte mais importante”. “Os concursos são importantes na evolução de qualquer músico, para aprender e conhecer novas pessoas”, sublinha. E acrescenta que o momento mais importante, na sua óptica, é a fase da preparação. Da disciplina a que se obrigam para aprender a executar o melhor possível as peças obrigatórias. Como aconteceu para esta competição em que os participantes tiveram de tocar, entre outras coisas, peças de autores portugueses, como Ivo Cruz, Óscar da Silva, Fernanda Lapa, Frederico de Freitas e até uma sonata do compositor covilhanense Ernesto Mello e Castro.

Oportunidade para jovens músicos se mostrarem

João Andrade, acabado de chegar de Ponta Delgada, nos Açores, é a primeira vez que participa num concurso internacional. Apesar de já tocar violino há sete e ter participado em vários concertos, recitais e estágios. Com uma bolsa às costas em que transporta o instrumento por que se apaixou quando assistiu a um concerto, este jovem de 16 anos, que compete na classe B, para músicos até aos 18 anos, acentua que “é importante participar neste tipo de eventos e aprender com isso”. Mas sublinha que é também uma oportunidade de os participantes se mostrarem. Por isso, quando soube da existência do concurso através de colegas que participaram em edições anteriores, decidiu vir à Covilhã.
Já a ucraniana Antonina Shvyduk, de 23 anos, soube pelo namorado, com quem está a discutir a sua exibição, do Concurso de Instrumentos de Arco. Foi na escola onde estudam, em Leipzig, na Alemanha, que viu o cartaz. Antonina salienta que não teve oportunidade de ouvir toda a gente, mas frisa que do que viu ficou impressionada e faz referência ao alto nível que veio encontrar entre os concorrentes, vindos das melhores escolas de arco.
E antes de saber que passou à final já se mostrava bastante satisfeita com a deslocação à Covilhã, uma “cidade calma e de gente simpática”. Quanto às expectativas do resultado na sua classe, a A, para músicos até aos 30 anos, diz que a sua preocupação é tocar o melhor que puder. Um eventual prémio viria por acréscimo. E salienta que o convívio, que não é tanto quanto gostaria, porque também têm de ensaiar, é outro aspecto positivo.

Adesão do público abaixo do esperado

Dos quatro cantos do mundo chegaram 80 inscrições, para as 60 vagas do concurso organizado pela delegação da Covilhã da Juventude Musical Portuguesa. “Um número excepcional”, diz o maestro Campos Costa, promotor da iniciativa, que se mostra satisfeito com a forma como decorreu mais uma edição. E salienta também o alto nível demonstrado pelos participantes. Entre os quais 36 portugueses e sete covilhanenses divididos pelas modalidades admitidas: violino, viola e violoncelo.
Este responsável só estranha, e lamenta, que enquanto vem gente do estrangeiro para assistir às provas os covilhanenses tenham primado pela ausência na sala do Teatro-Cine, quando têm um evento desta natureza à porta de casa. E acrescenta que até mesmo os elementos das escolas de música da cidade não apareceram em grande número. A excepção foi a noite de atribuição de prémios, na passada quinta-feira, onde a organização ofereceu à cidade um concerto da Orquestra Nacional do Tejo, que é constituída, na sua maioria, por músicos formados na Covilhã.
O Concurso Internacional de Instrumentos de Arco, de homenagem ao ilustre covilhanense Júlio Cardona, “uma figura interessantíssima da música em Portugal”, que foi fundador da Orquestra de Lisboa e professor no Conservatório Nacional, decorreu entre os dias 14 e 24. Durante o evento ainda não estava garantido nenhum apoio do Ministério da Cultura, o que obrigou a organização a recorrer à banca, mas Campos Costa espera que ainda cheguem verbas.