Alexandre S. Silva
NC / Urbi et Orbi


A autarquia covilhanense ainda tornou público e oficial o regulamento da infra-estrutura

Foi há quase dois anos que tudo começou. Com a conclusão da primeira fase das obras, que incluíam o segundo relvado e as pistas de atletismo, bem como as bancadas e todas as estruturas de apoio, o Complexo Desportivo da Covilhã estava apto a receber provas oficiais. Ficavam a faltar, como ainda acontece, os pavilhões, as piscinas, e o estádio de futebol. Mas pelo menos uma parte da estrutura estava a 100 por cento e pronta a ser utilizada. E assim foi.
Cerca de duas semanas após a conclusão efectiva o espaço recebia a sua primeira prova oficial: o Agrupamento das Beiras. Foi a 25 de Abril de 2003. Tarde chuvosa que não impediu uma enchente. E a estreia nem podia ser melhor. Nessa mesma tarde, Tiago Rato, então em representação do local Desportivo da Mata, entrava para a história do Complexo Desportivo como o primeiro a bater um recorde distrital no recinto, no seu caso, em triplo-salto.
Ainda não tinha decorrido uma semana sobre o primeiro evento, e já o recinto recebia nova prova, ainda mais importante. O I Meeting Internacional, realizado no dia 3 de Maio seguinte. Uma prova que trouxe à cidade serrana atletas de várias nacionalidades, mas em que as estrelas maiores eram mesmo nacionais. Francis Obikwelu, Rui Silva e Carlos Calado lideravam uma comitiva de atletas de luxo oriundas, na sua maior parte, do Sporting Clube de Portugal.
Não foram batidos recordes, por um lado porque a época estava mesmo a começar e os atletas ainda não tinham atingido a forma ideal, por outro porque, em algumas modalidades, o vento acabou por ser prejudicial. Ainda assim, no final, atletas e técnicos consideravam ter-se tratado de um excelente teste para os campeonatos nacionais e europeus que se aproximavam. Mas mais importante foi, talvez, o reconhecimento, por parte de pessoas habituadas aos grandes palcos mundiais, da qualidade da estrutura. Elogios que se sucederam em cada prova e evento realizado no Complexo Desportivo. E tudo isto ainda antes da inauguração, que só seria oficializada pelo, então, primeiro-ministro Durão Barroso, a 27 de Julho desse ano.

Sp. Covilhã prefere Santos Pinto

Durante estes quase dois anos, o espaço acolheu um segundo Meeting Internacional, um Campeonato Nacional de Juniores em atletismo e diversas provas regionais. Extra atletismo, contam-se também um estágio da Selecção Nacional de Futebol sub-21 para o Europeu da categoria que se disputou na Alemanha, em 2004. Para além, do certificado da Federação Portuguesa de Futebol que indicava o complexo serrano como apto a receber estágios de selecções participantes no Euro 2004.
A nível local, o complexo foi ainda utilizado em competições oficiais pelos Juniores da ADE e do Sporting da Covilhã. A formação Sénior dos Leões da Serra chegou a fazer vários amigáveis no novo relvado, entre os quais o jogo que marcou a despedida de Nuno Coelho de partida para o Porto. Mas em competição oficial, o emblema leonino sempre preferiu o Santos Pinto, e apenas por uma vez, na segunda jornada da corrente temporada frente ao Fátima, recebeu um opositor no Complexo.

Rentabilização deficiente

Mas se no que toca a competições, sejam Regionais, Nacionais ou Internacionais o currículo é, tendo em conta a idade, impressionante, já no que se reporta a actividades locais deixa muito a desejar.
Não obstante algumas iniciativas promovidas pela Câmara, continuam a faltar eventos promovidos pelos clubes. João Coelho diz que um dos problemas é que “os clubes do concelho estão mais vocacionados, historicamente, para provas de estrada e de corta-mato, e que a vertente de pista ainda não está completamente desenvolvida”. Mas por outro lado, os atletas e responsáveis dos emblemas locais que ali pretendem treinar, dizem estar de “mãos atadas”. Tudo porque, dois anos após primeira prova ali realizada, o tão apregoado regulamento de utilização, prometido desde então, ainda não está pronto ou, se está, ainda não foi aplicado. O que impede uma coordenação mais estreita entre a autarquia e os clubes no que diz respeito à utilização das pistas para treino.
Vários atletas que costumam utilizar o Complexo dizem já terem sido obrigados, durante o Inverno, a concluir o treino às escuras, uma vez que, na maior parte das vezes os holofotes de iluminação eram desligados logo após a conclusão do treino da equipa de futebol da ADE. Isto para além de várias queixas pelo facto de as casas de banho e restantes estruturas de apoio estarem sempre indisponíveis. Durante a maior parte da semana a estrutura está completamente fechada, e é necessário, para treinar, chamar um zelador que ocupa a função em part-time e que, por isso, nem sempre está disponível.
Dois anos depois, a rentabilização do espaço, a principal preocupação dos clubes de atletismo da região e da própria Câmara, ainda deixa muito a desejar e dá razão às perspectivas mais pessimistas da altura que temiam que o Complexo Desportivo Desportivo se viesse a transformar numa espécie de “elefante branco” se não fossem definidas rapidamente normas de utilização para o seu funcionamento.