Por Ana Almeida



"Estivemos desde Maio a Outubro de 2002 a ensaiar e a compor"

Urbi @ Orbi – Em breves palavras, como é que surgiu a banda?
Norton -
Antes de formarmos os Norton, os elementos que compõem o grupo faziam parte de duas bandas. Uma era composta por mim (Rodolfo Matos), pelo Pedro, e uma outra pessoa, com o nome de Alien Picnic. No último concerto com essa banda, hà três anos atrás, decidimos formar um novo grupo musical. Foi por ser precisamente o último concerto enquanto Alien Picnic que decidimos formar os Norton. Além disso, eu tinha outra banda com o Alexandre e o Leonel, que se denominava Oscillating Fan. Esta era uma banda mais antiga, com a qual começámos a tocar ainda muito novos. No entanto, éramos poucos para fazer aquilo que gostaríamos. Três pessoas não davam para tocar todos os instrumentos que queríamos ou compor uma coisa mais a sério. Com os Oscillating Fan já tínhamos cerca de cinco anos de experiência, com vários temas e muitas compilações. Chegámos mesmo a lançar um LP em vinil, mas depois as coisas começaram a esmorecer um pouco. Na altura, o meio musical onde nos encontrávamos inseridos não ajudava muito… Então decidimos dissolver as bandas, inicialmente apenas à experiência, e fundir os elementos das duas para ver o resultado.

U@O – Essa junção foi feita há quanto tempo?
N. -
Há dois anos. Vai fazer em Maio três. Como foi dito anteriormente, inicialmente foi apenas à experiência. Entretanto, começaram os ensaios e as reuniões para compor as músicas. Estivemos sensivelmente desde Maio a Outubro de 2002 a ensaiar e a compor. Depois foi a escolha de um nome…

U@O – Já agora, porquê este nome?
N. -
É a primeira vez que vamos divulgar! Tínhamos já a banda formada e íamos dar a primeira entrevista para um jornal de Castelo Branco – o Reconquista. Este semanário tinha compilado um mini-dossier sobre as bandas da cidade. Nesta altura, já estávamos formados enquanto Norton, mas ainda sem nome! Resumindo, íamos a caminho do Reconquista sem saber como nos haveríamos de chamar… No caminho, telefonei (Rodolfo Matos) aos restantes membros e perguntei se gostavam do nome Norton para a banda. Todos gostaram da ideia e assim ficou. Como é uma palavra pequena e sem tradução, é como que um nome próprio.




"Norton é uma palavra pequena e sem tradução, é como que um nome próprio"

U@O – A que público se dirigem os Norton?
N. -
A todos que nos queiram ouvir! Por acaso, temos tido um público bastante heterogéneo. Desde crianças de cinco anos até… aos avós! Por exemplo, o pai do Pedro não gostava inicialmente daquilo que fazíamos e agora vai no carro a cantarolar o nosso CD. Quando fizemos um dos primeiros concertos tínhamos pouca gente a assistir. O auditório da ESE (Escola Superior de Educação), em Castelo Branco, estava composto por uma audiência com uma faixa etária muito mais elevada que a nossa, que ronda os 25 anos.

U@O – São uma banda que está neste momento a ter algum sucesso no panorama musical. Como é que estão a viver este momento?
N. -
Sem dinheiro! Risos. Estamos completamente tesos!

U@O – Não ganham com os concertos?
N. -
Ganhamos… mas tudo o que conseguimos arrecadar é para ser investido logo de seguida. Praticamente, não chegamos a ver dinheiro. È necessário comprar material, temos que gravar o que produzimos… Enfim, há imensas despesas. Ir simplesmente tocar a qualquer lado torna-se dispendioso. Neste momento, somos quatro elementos (temos tido um guitarrista convidado) e ainda temos um técnico. Já são seis pessoas a andar de um lado para o outro com a banda! Assim sendo, é preciso alugar uma carrinha. Os nossos concertos são maioritariamente em Lisboa e no Porto, o que acarreta tempo e disponibilidade. Apesar de eu (Rodolfo Matos) e o Pedro estarmos a estudar na capital, o Alexandre está a trabalhar em Castelo Branco, e o Leonel em Aveiro… Como podem ver, a nível de tempo torna-se um pouco complicado. Suponhamos que Sábado vamos tocar a Lisboa: 90% das vezes, temos todos que vir a Castelo Branco para nos reunirmos e arrumar o material! Isto torna-se bastante dispendioso. Depois é lógico que não somos os U2! Não levamos 250 mil euros por concerto…Risos. No patamar em que estamos todo o dinheiro que ganhamos é para investir na banda. Até porque não temos uma grande equipa atrás de nós que nos suporte tudo.

U@O – O que mais vos fascina no mundo da música?
N. -
Tudo! É o contacto com teclados, guitarras, pedais… De chegar à sala de ensaios com qualquer coisa nova para descobrir…Explorar o material que temos… Somos completamente exploradores de som. Gostamos de tirar o máximo partido das coisas e brincar com os instrumentos.

U@O – Não tem qualquer tipo de formação musical?
N. -
Não. Somos autodidactas, o que possibilita uma maneira diferente de explorar a música. Se andássemos no conservatório estávamos, por mais que não quiséssemos, virados para um certo domínio musical. Quando se frequenta uma escola de música, seja ela de Jazz ou de outro tipo, começam-se a fechar os horizontes apenas para aquilo que se está a aprender. Como nós não temos essa formação musical, não nos interessa se a nota sai mais ao lado ou não. O que importa é a sonoridade corresponder àquilo que desejamos.



"Gostamos de tirar o máximo partido das coisas"

"O que importa é a sonoridade corresponder àquilo que desejamos"

U@O – E em palco, o que é que gostam mais?
N. -
O calor humano! Em Dezembro do ano passado, fizemos um concerto óptimo em Castelo Branco. Para além do som estar impecável, tínhamos o Cine-teatro esgotado e com um público participativo, o que para nós foi uma surpresa! Sobretudo o aspecto da participação do público! Geralmente, as pessoas retraem-se um pouco por ser num local com lugares sentados. A nossa sonoridade não é propriamente uma música de festa. É algo mais intimista e não é fácil cativar um público para bater palminhas ou cantarolar. Então foi uma surpresa, porque a meio da segunda música já havia pessoas em pé e a bater palmas. Pessoas essas com quem não tínhamos grande contacto. Parecia não ter sentido tudo aquilo, mas foi uma das melhores sensações que tivemos.

U@O – Quais são as vossas principais inspirações na composição das letras?
N. -
O dia-a-dia. Durante o dia passam-nos inúmeras coisas pela cabeça, não é? Há dias que estamos mais sentimentais, em que pensamos na namorada ou no amigo que faz falta… Não há algo de concreto ou pré-definido para compor uma música. Além disso, baseamo-nos no que gostamos de ouvir.

U@O – E o que é que gostam de ouvir? Quais são as vossas referências?
N. -
Radiohead, DEUS… Enfim, há tanta coisa que gostamos! Também ouvimos muito música electrónica, experimental e rock. Vamos buscar um pouco de tudo para ouvir e examinar.

U@O – Qual é a banda de sonho com a qual gostariam de actuar?
N. -
Boa pergunta! Por acaso, nunca tínhamos pensado nisso! Existem várias, mas apenas uma é complicado! Talvez os Radiohead… Não há “aquela”. Por acaso, não nos importávamos de fazer a primeira parte dos U2, porque íamos actuar para muita gente! Risos.

U@O – Se vos pedisse para vos definir o vosso trabalho, como é que o fariam?
N. -
É um trabalho árduo!

U@O – Refiro-me ao tipo de música que compõem…
N. -
É música indie, com mistura de electrónica, pop e rock. O Henrique Amaro, da Antena 3, disse em conversa, quando lhe enviámos o nosso disco, que os Norton têm um grande conceito musical. O que ele quis dizer, foi que não há no nosso disco uma música que seja uma influência disto ou daquilo. Passa antes pelo agrupamento de várias coisas. Ao ouvirem o nosso disco vão notar que é muito pouco homogéneo, mas isto no bom sentido. Vamos buscar, como referi anteriormente, um pedaço de tudo o que se passa nos nossos dias ou como nos sentimos. Não há nada esbatido no Make me Sound que se possa dizer “é isto” ou “Os Norton são os Radiohead versão portuguesa”. Também o Nuno Gonçalves dos The Gift, que ouviu o disco antes de ser editado, nos disse que “somos influenciados, mas não influenciáveis”. Isto é, nota-se que a influência está lá, mas não é uma coisa chapada. Já nos aconteceu compor uma música e não a aproveitarmos porque é igual a Radiohead ou algo do género. E isso acontece sem nos apercebermos. Por acaso temos esse cuidado. Quando as coisas soam igual a uma outra banda, ou pomos de parte ou tentamos dar o nosso cunho pessoal.




"Ao ouvirem o nosso disco vão notar que é muito pouco homogéneo"

U@O – O facto de serem uma banda do Interior não acaba por influenciar pela negativa a vossa divulgação?
N. -
Sim, um pouco. Neste momento nem tanto. Ao início era mais complicado. Mas felizmente superaram-se as expectativas, a nível de imprensa, com o lançamento do E.P. Foi uma espécie de ‘boom’. De repente aparecemos e todas as pessoas queriam falar connosco. Isto para o disco foi um grande passo. Mas é muito mais complicado singrar no Interior que nos grandes centros. Aqui não há imprensa especializada, distribuidoras, editoras, os bons estúdios, os técnicos…O meio musical é, basicamente, em Lisboa e no Porto. Em Castelo Branco temos o dobro do trabalho. Quando se lançou o álbum, tivemos de ir de propósito para Lisboa duas semanas só para dar entrevistas. Se fossemos da capital, bastava combinar um café. Apesar de nós os dois estudarmos lá, os outros dois elementos não têm a mesma disponibilidade que nós.

U@O – Quais são as principais dificuldades que encontram no mercado nacional musical? Ainda por cima sendo uma banda recente…
N. -
O mercado nacional está completamente viciado. É muito complicado uma banda como nós entrar dentro do circuito dos grandes palcos. Falo no Sudoeste, Paredes de Coura, Vilar de Mouros, as grandes queimas do Porto ou de Coimbra. Mesmo até em queimas mais pequenas é muito difícil. Os agentes e os managers têm tudo sob controlo com as grandes editoras e não há sequer buracos onde te possas enfiar. Portugal, neste aspecto, está muito viciado. Por muito bom que sejas é um sistema muito dificultado.

U@O – As rádios portuguesas passam pouca música portuguesa. É precisamente por isso que cantam em inglês?
N. -
Nós cantamos em inglês porque sempre cantámos nesta língua. A música que nós fazemos não tinha sentido ser cantada em português. Talvez, se cantássemos na língua materna, seríamos bastante originais. Não há ninguém a fazer este tipo de música em português. Para isso, é preciso escrever muito bem. Tens que escolher com rigor aquilo que vais dizer. Em inglês isso é mais fácil, porque é uma língua com melhor sonoridade musical. A nível das rádios … As rádios locais, como a da universidade de Coimbra, apoiam imenso as bandas portuguesas, mas não são ouvidas por muita gente. Quanto às rádios nacionais…Por exemplo, a Antena 3, nunca nos negou nada, apesar de ser muito complicado obter certas regalias. Voltamos de novo à história das grandes editoras que dominam tudo. Mas, com um pouco mais de trabalho temos conseguido ultrapassar esses obstáculos.

U@O – Qual é a filosofia de trabalho dos Norton?
N. -
A nossa ideia é subir os degraus devagarinho. Ir fazendo discos e concertos à medida que avançarmos no tempo.



"Não há ninguém a fazer este tipo de música em português"

"A nossa ideia é subir os degraus devagarinho"

U@O – Como é que se vêem daqui a dez anos?
N. -
Gordos!!! Risos. Vivemos em Portugal e temos consciência de que não é fácil ter duas vidas paralelas – o trabalho e a música. Se nos derem a oportunidade para que possamos ter uma vida regular ligada à música isso era genial. Embora saibamos que não é fácil. Uma das nossas melhores características é o facto de termos os pés bem assentes na Terra. Nunca voamos muito alto. Contudo, todos temos o sonho de estar daqui a dez anos no mundo da música, com o nosso estúdio na Escócia! Não estamos nisto por dinheiro, definitivamente. Se assim fosse já tínhamos deixado de tocar há anos!

U@O – Qual poderá ser o contributo dos Norton para a música portuguesa?
N. -
Falta uma coisa indispensável em Portugal: a ajuda entre as bandas. Existe alguma rivalidade na música portuguesa. A nossa maneira de estar, todavia, não é essa. Temos grandes laços de amizade com os Jaguar, Loto, The Gift. O Rodrigo Leão também nos ajudou imenso. Não nos podemos queixar. Poderemos, desta forma, contribuir para uma maior solidariedade entre as bandas – construindo grandes amizades.

U@O – Qual é a etapa a superar nos próximos tempos?
N. -
Neste momento são duas: A primeira é terminar o novo disco. Ainda estamos na fase de composição das músicas. Pensamos começar a gravá-lo no final do ano, mas isso vai depender do tempo disponível até lá e da criatividade que tivermos…Quando se especulam datas, normalmente, é dois meses depois que se concretizam. Mesmo assim, queremos lançar o disco no próximo ano. Daqui a alguns meses, vai sair no mercado um disco de remisturas do nosso disco anterior. Neste CD, estão incluías ainda músicas dos The Gift, Jaguar, Loto, Musgo, entre outros. A outra etapa será para o mês de Junho. Vamos fazer um concerto pela primeira vez fora de Portugal, num festival em Espanha- o Contemporanea. Vamos tentar ao máximo divulgar a banda por lá. Estamos agora a ter os primeiros contactos, na chamada internacionalização.





Perfil



Formados há apenas dois anos, os Norton são uma banda albicastrense que está agora a dar os primeiros passos no mundo musical. Rodolfo Matos – bateria, teclado e programações; Pedro Afonso – guitarras, voz, teclados e melódica; Leonel Soares – baixo e teclados e Alexandre Rodrigues – voz e teclados, são os elementos que compõem este grupo musical com um estilo que vai do Indie-Rock ao Electronic-Pop. Com o seu primeiro E.P. (Abril de 2003), intitulado Make me Sound, os quatro jovens percorreram o país de Norte a Sul, mostrando a sua sonoridade melódica. Em Maio de 2004, lançam no mercado o seu C.D. de estreia – Pictures From Our Thoughts – com 11 temas originais. Este disco conta com participações especiais de Rita Pereira, dos Atomic Bees, Leonel Sousa, dos Alla Polacca, Ricardo Coelho, dos Loto e ainda dos Musgo. Apesar da curta discografia, os Norton prometem não parar de compor, tendo já previsto o lançamento do segundo álbum para o próximo ano.