João Canavilhas

Empreendedorismo


Realiza-se hoje, dia 7, o desfile de moda que encerra a CAPA 2005, uma actividade onde os alunos do departamento de Comunicação e Artes mostraram os seus trabalhos finais. Os projectos agora apresentados - roupas, jogos interactivos, instalações e campanhas publicitárias – são apenas uma parte das centenas de trabalhos desenvolvidos nos vários departamentos e que, invariavelmente, acabam na gaveta dos docentes. E é pena. Uns melhores outros piores, estes trabalhos são a materialização de ideias que, nalguns casos, poderiam constituir verdadeiros sucessos empresariais. Infelizmente, grande parte destas ideias traduz-se numa classificação, acabando assim o seu ciclo de vida.

Cada trabalho arquivado é uma oportunidade perdida, e porque esta é a situação mais habitual nas nossas universidades, Portugal é dos países com menor registo de patentes.

Devemos consciencializar-nos de que uma universidade não é um supermercado de licenciados, nem sequer uma fonte de receitas para as empresas que a fornecem. Uma universidade é um viveiro de ideias, um local onde se desenvolve investigação que deve ter uma sequência empresarial. Um dos grandes problemas do nosso ensino é a falta de ligação entre as empresas e os estabelecimentos de Ensino Superior. As primeiras têm problemas que os segundos deveriam resolver, mas não é isso que acontece. Enquanto os professores se fecham nos seus projectos e os alunos desenvolvem trabalhos unicamente destinados à nota, as empresas definham à míngua de novos ideias, numa altura em que a mão-de-obra barata já não é uma vantagem competitiva.

O tão falado choque tecnológico é uma solução para o país, mas para isso não chega investir em estruturas. É preciso revolucionar as mentalidades, levar os jovens licenciados a abandonar esta ideia muito portuguesa de preferir o emprego sem risco, mas pobremente remunerado, ao risco da empresa própria, eventualmente associada a ganhos pessoais, profissionais e sociais.
Para que as ideias não morram à nascença, urge incentivar os alunos das mais diversas áreas a constituírem empresas próprias. Uma boa ideia de um licenciado em informática precisa de um licenciado em Gestão para fazer o projecto de viabilidade económica. Um licenciado em Design Multimédia pode juntar-se a um de Comunicação para formarem uma empresa que forneça infografias aos jornais online. Um licenciado em Engenharia Civil pode associar-se a um de Química na procura de novos materiais e soluções para o sector da construção. Para que isso aconteça é necessário criar condições e a Covilhã vai dispor em breve de uma estrutura capaz de apoiar as novas ideias. O Parkurbis é uma janela de oportunidade para os jovens licenciados, mas para que esta estrutura atinja os seus objectivos, temos de criar mentalidades empreendedoras nos nossos estudantes. A não ser assim, o Parkurbis será apenas mais um elefante branco e os culpados seremos todos nós.