José Geraldes

Política e Religião


Misturar religião e política gera sempre confusões e conduz a consequências funestas. A religião tem o seu raio de acção e a política também.
Ambas se dirigem ao homem mas em esferas diferentes. Por isso, é saudável a sua autonomia. Quando se confundem, como historicamente se comprova, produzem-se efeitos indesejáveis e que não se coadunam com os seus fins.
Etimologicamente a palavra religião vem do latim re-ligare ou seja vínculo de ligação a Deus sem perda de ligação ao mundo. A palavra política vem do grego polis que significa a cidade ou seja a participação dos homens nos assuntos públicos.
A norma clássica da independência destas duas realidades está compendiada na fórmula de Jesus Cristo no Evangelho: “Dai a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”.
Isto não quer dizer que a religião não tenha expressão na sociedade, relegando-a para a sacristia, como se pretende fazer crer. A religião é uma dimensão do ser humano que se exprime nos seus actos públicos.
O contrário seria pura hipocrisia como denunciou Bento XVI recentemente na abertura do Sínodo dos Bispos: “Quando Deus é banido da vida pública, este facto não pode significar tolerância mas hipocrisia. Onde o homem se torna o único senhor do mundo e de si mesmo, não pode existir justiça. Dominará apenas o arbítrio do poder e dos interesses”. Portanto, a religião não é assunto meramente privado como defende o laicismo. Nem a sua expressão pública uma concessão do poder político. Mas um direito inalienável de qualquer cidadão defendido pela Declaração dos Direitos do Homem e previsto na lei fundamental do País.
Claro que a religião e a política têm como objectivo o bem comum. Daí a política ser considerada como uma arte nobre e um serviço. O documento do episcopado português Responsabilidade Solidária , sublinha, por isso, a necessidade de os políticos terem “um comportamento honesto, humilde e competente”. E diz ainda o mesmo documento: “A saúde da democracia passa também pela estima, respeito e gratidão aos que assumiram responsabilidades na vida política”.
Neste tempo em que cresce a desconfiança em relação à classe política, será bom que os políticos se comportem para merecerem estas palavras. Até porque em política não é costume haver gratidão. As votações o confirmam. Churchil não ganhou a II Guerra Mundial, perdendo a seguir as eleições?
Há um problema quando os políticos, sejam eles quais forem, têm a tentação de utilizar a religião para conseguirem fins partidários. E sabemos que o fazem com recurso às mais variadas fórmulas. O que não se afigura eticamente correcto. A religião não pode ser correia de transmissão de qualquer corrente partidária.
A presença dos cristãos é transversal ao leque partidário. Mais uma razão para não misturar as duas entidades.
Quanto mais autonomia tiver a religião face à política e vice-versa, mais saudável será a relação entre ambas. Assim ganha a religião, a política e a sociedade.