IV Congresso da SOPCOM
UBI participa em grande

Aveiro recebeu durante dois dias o quarto congresso da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM). 20 e 21 de Outubro foram os dias escolhidos para “Repensar os Media”. Investigadores, docentes, e personalidades ligadas à área marcaram presença na Universidade de Aveiro onde se apresentaram novas teorias da comunicação e debateram as ideias já conhecidas.

Por Eduardo Alves

Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares esteve presente na sessão de abertura

O principal encontro na área das ciências da comunicação e jornalismo decorreu na passada semana em Aveiro. Mais de três centenas de investigadores, docentes e estudiosos ligados a esta área estiveram presentes no IV SOPCOM. Neste congresso, promovido pela Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, a UBI fez-se representar por 13 elementos. Docentes, investigadores e bolseiros ligados ao Departamento de Artes e Letras e ao Laboratório de Comunicação e Conteúdos On-Line (LabCom) participaram nas várias áreas temáticas desta reunião.
Um vasto leque de temas esteve em discussão, “criando espaços de reflexão transdisciplinares”, adianta a organização. Em representação da UBI estiveram António Fidalgo em Novas Tecnologias Novos Contextos, Paulo Serra em Cibercultura e Teorias da Comunicação, Anabela Gradim em Cibercultura, João Canavilhas, João Carlos Correia, Catarina Rodrigues e Suzana Barbosa em Jornalismo, João Carlos Correia em Comunicação e Política, Eduardo Camilo em Publicidade, Américo Sousa e Ivone Ferreira em Retórica e Argumentação, José Ricardo Carvalheiro em Estudos Culturais e de Género, Catarina Moura em Arte e Design, Gisela Gonçalves em Comunicação e Educação e em Comunicação nas Organizações e Relações Públicas e Suzana Barbosa em Novas Tecnologias e Novas Linguagens.
Na sessão de abertura, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, que tutela a Comunicação Social falou sobre a necessidade de uma nova regulação dos media. Na perspectiva de Santos Silva, “os media deveriam contar com uma auto e uma hetero-regulação”. Nada que se seja entendido como “um policiamento capaz de encurtar a acção dos media”, mas sim uma forma de fomentar boas relações entre a comunicação social e os demais sistemas sociais que lhe estão próximos. O ministro, que falava no auditório da reitoria da Universidade de Aveiro referiu que “este regulação deve constar entre os vários direitos dos cidadãos”. Outra das grandes novidades introduzidas pelo discurso do ministro da tutela foi a das licenças das televisões privadas. Os dois canais televisivos que actualmente operam em Portugal estão agora em processo de renovação das suas licenças. Na óptica de Santos Silva, a renovação destas concessões deveria servir “para um debate aberto e abrangente”. Uma discussão cuja entidade promotora seria “a Alta Autoridade para a Comunicação Social”.




Principais nomes marcaram presença

José Pacheco Pereira, Eduardo Prado Coelho, Paquete de Oliveira foram apenas alguns dos muitos nomes de peso na área da comunicação social que estiveram em Aveiro. A estes três juntou-se, numa sessão plenária, Luís Marques, da RTP.
Para mostrar a importância e actualidade das linhas colocadas em discussão, Paquete de Oliveira lembrou que “o discurso dos media é o discurso da sociedade”. Para o presidente da SOPCOM, a necessidade de repensar os media advêm da necessidade de “repensar os donos da notícia, os grupos, as lógicas das empresas, o sistema de mercadorização das notícias e outros factores inerentes ao jornalismo”.
Um discurso que parece ir de encontro às ideias avançadas por Pacheco Pereira. O autor do blogue Abrupto refere que “a comunicação está a mudar a cada instante”. A digitalização do mundo “vai acabar por mudar a actual relação entre o indivíduo e o espaço público”. Ainda que de forma imaginária, Pacheco Pereira tentou desenhar o mundo da informação num futuro não muito longínquo. Segundo este investigador, “quem detém a capacidade de gerir os motores de busca, os fornecedores de informação vai controlar o poder”. Isto porque, numa era digital, “onde a televisão pode transmitir tudo o que é possível imaginar”, a selecção da informação “assume-se como o mais importante”.
O papel do jornalista e do profissional da comunicação, “reside exactamente nesse ponto”, refere Prado Coelho. Para este docente e cronista, “a comunicação social é, ainda hoje, o grande instrumento de selecção de informação”.
Numa das mais concorridas sessões, Luís Marques sublinhou o papel da Internet “nesta revolução tecnológica que actualmente se verifica no meio”. Todas as mudanças operadas em torno da comunicação social vão levar “a uma nova relação entre os cidadãos e os media”.
A informação é cada vez mais volumosa e “chega às redacções dos mais variados locais e das mais variadas formas”, confessa o responsável pela televisão estatal portuguesa. Marques diz mesmo que “hoje existem mais pessoas a trabalhar com a função exclusiva de fazer chegar informação às redacções do que jornalistas para seleccionarem e transmitirem as informações que julguem relevantes”. Este assunto foi abordado quando se questionou o responsável sobre o alinhamento dos telejornais e as informações transmitidas por estes. Luís Marques referiu que “existem assuntos que são incontornáveis”, como o anúncio de Cavaco Silva se candidatar à presidência da República, por exemplo. Se esse acto “for marcado para as 20 horas, todas as televisões vão abrir os noticiários com ele”, explicou o responsável.


Pacheco Pereira e Eduardo Prado Coelho foram alguns dos intervenientes

Este quarto encontro de ciências da Comunicação realizado em Aveiro contou também com a realização de uma assembleia-geral de associados. Uma reunião que teve como propósito a escolha do novo presidente da SOPCOM.
Feita a eleição, Moisés de Lemos Martins, professor catedrático da Universidade do Minho passa a ser o presidente desta associação. Na lista encabeçada por Lemos Martins consta ainda o nome de José Manuel Paquete de Oliveira, anterior presidente que ocupa agora o lugar de presidente da Assembleia-geral. Paquete de Oliveira foi também, eleito por unanimidade, presidente honorário da SOPCOM. Joel da Silveira preside ao Conselho Fiscal da associação.
Num congresso onde se escolheu o novo presidente houve também tempo para instituir um prémio de investigação em jornalismo. Esta distinção pretende distinguir trabalhos de jovens investigadores. Uma acção tomada no âmbito do grupo de jornalismo que vai ser coordenado por Manuel Pinto da Universidade do Minho com Pedro Jorge Sousa da Universidade Fernando Pessoa e Rogério Santos da Universidade Católica.
Este quarto congresso serviu também de palco ao lançamento do Livro de Actas dos congressos realizados na UBI, no ano passado. Recorde-se que a Covilhã acolheu o III SOPCOM, em simultâneo com VI LUSOCOM e o II IBÉRICO, encontros no âmbito das Ciências da Comunicação que servem para apresentação de teorias, conclusões de teses e trocas de informações nestas áreas. As centenas de comunicações proferidas nesses eventos começam agora a dar lugar a actas que estão a ser editadas pela UBI. Os primeiros exemplares foram lançados no seio da comunidade científica, em mais umas jornadas da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação.