António Fidalgo

Credibilidade dos políticos


Há quem vote num político pela clubite no seu partido. Tal como se é adepto incondicional de um clube de futebol, também há pessoas que vestem a camisola de um partido, e votam nele independentemente de quem o chefia e de quem faz eleger. Para esses não faz muito sentido falar da credibilidade dos políticos, mas para os outros, os que acham que a política não é futebol e os partidos não são clubes, faz todo o sentido falar do tema. Até porque uma parte considerável do eleitorado muda o seu voto conforme a credibilidade dos políticos, independentemente dos partidos a que pertencem ou pertenceram ou de que são próximos. Isto é válido sobretudo para as eleições presidenciais em que se vota directamente numa pessoa e não num partido.

A credibilidade de um político não reside apenas no facto ou na qualidade de não mentir, de não faltar à palavra dada, de cumprir as promessas. Se fosse apenas isso, então qualquer boa pessoa seria um político credível. De um político espera-se competência e será tanto mais credível quanto mais competência demonstrar. Significa isto que a credibilidade de um político assenta na sua história. Acredita-se num político porque se conhece, porque deu provas no passado, porque serviu o país. É verdade que por vezes o eleitorado, farto dos políticos que tem, se atira para os braços de políticos recém chegados, sem passado, que tudo prometem e que tudo pretendem renovar. Nestes casos, a emenda costuma ser pior que o soneto. Todavia, não se pode dizer que o voto neles é por serem credíveis, mas unicamente porque ainda não se descredibilizaram como os velhos políticos.

É de facto a história ou o passado de um político que faz a sua identidade, aquilo que é, que o caracteriza e distingue de todos os outros. A credibilidade de um político aumenta e diminui à medida que o eleitorado o vai conhecendo. Se um político tem uma personalidade forte, se resiste a contratempos, se não cede a pressões, se é consequente nos seus actos, então dizemos que se tornou credível, que podemos acreditar e confiar nele. Se, pelo contrário, pautou a sua acção pela popularidade, andando de cá para lá conforme os ventos sempre em mudança da opinião pública, então duvidaremos que seja uma pessoa vertical, credível. Ora um político que se mantém fiel a si mesmo nos sucessos e nas adversidades, nas vitórias e nas derrotas, que cumpre o seu programa e que não se desvia dos objectivos, é um político que adquire autoridade e ao qual se lhe reconhece autoridade. E quanto mais autoridade tiver maior credibilidade terá.

Uma outra característica de um político credível e que decorre das citadas é a responsabilidade. Condição para poder ser responsável, para responder pelos actos é assumir o seu passado no presente e não enjeitar esse passado. Quem atira as suas responsabilidades para cima dos outros e ou para as circunstâncias é porque não agiu com autoridade, justamente no sentido da palavra, de ter sido o autor ou causa primária dessas acções. Não pode haver responsabilidade sem identidade e sem autoridade. A responsabilidade é a capacidade e o querer de acarretar com as consequências dos seus actos, sem arranjar bodes expiatórios ou desculpas esdrúxulas.

Por fim, há o respeito. O respeito ganha-se e merece-se. Podemos não concordar com uma pessoa, podemos encará-la mesmo como adversária, mas podemos respeitá-la, ao passo que há pessoas do nosso lado que não são dignas de respeito. Quem é mais credível? Obviamente quem respeitarmos.

Não vale a pena um político reivindicar credibilidade se não a sustentar com a integridade e a identidade do seu passado, a autoridade de quem cumpre, faz e manda e assume a acção, a responsabilidade de quem responde no presente pelo passado e responderá no futuro pelo presente e, por fim, o respeito de quem se dá ao respeito e não invoca afinidades de circunstância.