Tim Tim Por Tim Tum foi o grupo encarregue de abrir o festival
Festival D'Orfeu
O Gesto Orelhudo

Com uma programação internacional rendida à fusão das artes do palco: música, teatro, dança e novo circo, a D'Orfeu apresentou a sua quarta edição do festival “transdisciplinar” que exalta o burlesco e o humor.


Por Ana Salomé Castanheira


Companhias da Argentina, Austrália, Espanha, Itália, Reino Unido e uma vasta produção nacional preencheram o cartaz do Festival de Águeda. A programação dividiu-se entre o Auditório de Recardães (freguesia do concelho de Águeda), estrutura talhada para acolher produções de grande envergadura e a grande tenda instalada no Espaço D'Orfeu, casa-mãe da associação promotora da actividade.
O Gesto Orelhudo decorreu de 28 de Outubro a 5 de Novembro. Abrindo o festival Tim Tim Por Tim Tum , a interacção entre quatro grandes bateristas portugueses, que exploraram o som e o silêncio, o acústico e a estética, o gestual e o imprevisível. No mesmo dia ainda, The Chipolatas, um trio fenomenal que corre o mundo e finalmente visitou Portugal. Tendo como maior arma de diversão a interacção com o público, a sua música festiva ilustrou a perícia circence, ao som dos incentivos do público, isto, quando o protagonista não era o próprio público. Acabou em grande, a primeira noite do festival com este prestigiado trio do Reino Unido.
A encerrar O Gesto Orelhudo , e o Quarteto Euphoria da Itália, onde a fantasia comediante abraçou o rigor musical. Um fantástico teatro cómico-musical em que os arcos se tornaram objectos de cena e os instrumentos revelaram possibilidades de utilização impensáveis. A noite das musicómicas hilariantes!
Passou ainda pelo festival André Gago, um actor reconhecido e Nicholas McNair, um pianista de carreira que conduziram o público numa viagem pelo mundo da música clássica, vista de forma inesperada e original por vários escritores e poetas, onde pontificou a pluma humorística de José Sesinando; Ruso Negro , a fusão de um italiano, uma andaluza e um galego que se juntaram para montar um espectáculo sério que deu cómico – estes três tocaram tudo: guitarra, acordeão, flauta, kazoos, claves, campainhas de hotel, raladores de queijo e eventuais voluntários; É Por Aqui… a Sequela?! da Companhia Teatral do Cheado, composto por vários sketchs e recheado por apontamentos musicais cantados ao vivo pelos actores; Mamã Lusitânia, do grupo Trigo Limpo do teatro ACERT, desmistificou a ideia de o café-teatro e o monólogo serem categorias menores da arte de representar; Amor de Perdição, uma versão inédita para piano, marionetas e actores da Jangada Teatro; The Von Trolley Quartet, o “quarteto de três hilariantes músicos” da Austrália – com um humor de sobra, usando instrumentos “encolhidos”, a admirável capacidade musical do trio provocou momentos de grande espontaneidade; Sentidos aFinados – esta produção da casa, consistiu numa instalação táctil, com sons, cheiros, temperaturas e texturas num percurso interactivo, no qual, pela “morte” de um sentido, outros despertaram e nos entregaram a um mundo que sempre nos rodeou mas do qual pouca consciência temos; directamente da Argentina Ar Tango, a “pasión” num espectáculo de fascínio – a sedução contado pelos passos e rodopios do par de bailarinos ao som do quinteto dirigido por Juan Esteban Cuacci que contava musicalmente a história da paixão que o mundo hoje devota ao folclore urbano de Buenos Aires; Laura Kibel, a italiana que usava os pés como marionetas com vida; Vicent Van e Gog – uma ficção de ambientes bizarros, irónicos e até humorísticos que juntou Portugal e Espanha no mesmo palco e Cartoon Orchestra – os clássicos da velha TV, cantados bem alto.
Este ano O Gesto Orelhudo teve pareceria de programação com a FINTA – Festival Internacional de Teatro ACERT, Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia, Rede Comum e Associação dos Amigos da Música de Anadia. O percurso deste festival remonta a uma primeira edição, em 1999, sem enquadramento legal e sem apoios oficiais. Seguiu-se uma segunda edição em 2001, cujo seu pioneirismo conquista espaço institucional, forçando e conseguindo a criação de concursos de apoio estatal para eventos pluridisciplinares. Os apoios estatais têm sido anualmente reforçados , o que em 2002 garantiu por si só a viabilidade financeira da terceira edição do evento. Esta quarta edição, devido a uma excelente programação internacional, foi um verdadeiro sucesso de adesão de público e de impacto do festival que é já uma referência supra-local