Jornadas de Comunicação
As novidades do Jornalismo On-line

Os aspectos e tendências do Jornalismo On-line foram debatidos, por vários investigadores nas jornadas que decorreram na UBI, na passada semana. As novas tecnologias imperam e o jornalismo não fica à parte desta tendência, referem os promotores do evento. Um novo tipo de jornalismo ganha cada vez mais espaço na web.

Por Filipa Maio e Nuno Fernandes

Vários investigadores deslocaram-se à Covilhã para debater sobre o Jornalismo On-line

A Internet é o mais recente meio de comunicação e ocupa um papel predominante no que diz respeito ao estabelecimento de relações com o mundo, as outras pessoas e connosco próprios. Definir os seus aspectos e tendências no campo do Jornalismo foi o objectivo das Jornadas de Jornalismo On-Line que decorreram na Sala dos Conselhos – Pólo I, da UBI, nos dias 09 e 10 de Novembro.
Os convidados do primeiro dia foram Jim Hall, da Universidade de Falmouth do Reino Unido e Suzana Barbosa, da Universidade Federal da Bahia em Salvador no Brasil, que foi também a organizadora das jornadas.
Jim Hall, o primeiro orador da tarde, mencionou que “todas as formas de media sofreram uma reformulação, daí que se fale em hoje em remediação”. Webjornalismo é o resultado da fusão da imprensa escrita, da rádio e da televisão na Internet. Vivemos numa sociedade de massas, que dita as notícias e produz em massa. Mas a massa não é uniforme, pelo que o jornalismo se torna cada vez mais direccionado e personalizado para ir de encontro de todas as individualidades.




Blogs criam novas tendências

Dentro deste cenário, os blogs ocupam um papel muito importante porque permitem o suporte imediato e intenso de uma opinião. No entanto, um blog serve para comentar informação e não para dar informação, afirmam alguns participantes. “Os blogs vão ajudar a democratizar a criação e o fluxo do novo, num mundo onde as grandes companhias controlam o que as pessoas vêem, ouvem e lêem” referiu Jim Hall. Um blog é criado a cada segundo e qualquer indivíduo tem a liberdade de o fazer, seguindo os critérios que desejar. A blogosfera contempla novos tipos de blogs, que estão a tornar-se uma forma popular de jornalismo. Esta, permite aos jornalistas total independência, possibilidades de opção e justaposição das notícias a todo o momento, assim como, grande interactividade.
António Fidalgo, presidente da Unidade de Artes e Letras da UBI esclareceu o conceito de Data Mining como sendo a mineração de dados. Isto visa a descoberta de acontecimentos inesperados com valor de notícia. As notícias obtidas através da mineração de dados são as chamadas “Notícias de Ordem Superior”. O Data Mining está a tornar-se cada vez mais importante para as grandes empresas e companhias. Estas apostam cada vez mais no valor da informação, que é útil e valiosa mas, no entanto, difícil de tratar. É o que acontece com as Hard News, que são as notícias mais importantes, as notícias relacionais. É necessário ter jornalistas especializados e para os quais o Data Mining serve para extrair informação e determinar se são ou não “Notícias de Ordem Superior”.




Jornalismo digital em análise

Durante as várias intervenções, as novas formas de jornalismo estiveram sempre presentes

Suzana Barbosa falou sobre o Jornalismo Digital em bases de dados. De acordo com a sua pesquisa, o emprego de bases de dados traz algumas diferenças. Estamos diante de um cenário de dupla via onde, por um lado estão as remediações e, por outro, as rupturas: na estruturação e organização das informações; nos sistemas/rotinas de produção; e, na apresentação. As bases de dados têm um novo estatuto: de depósito integrado de dados, colecção de documentos e repositório de informações, que resulta na ideia de “Forma Cultural Simbólica”. Para concluir, mencionou a definição de Resolução Semântica da autoria de António Fidalgo. “A pluralidade e a diversidade das notícias on-line sobre um evento aumenta a informação sobre o mesmo, aumentando assim a Resolução Semântica”. Disso resulta uma informação semântica sobre dados (metadados), uma narrativa multimédia e um jornalismo participativo. Google News e Notibits são exemplos deste tipo de trabalho com bases de dados.
No segundo dia das jornadas o debate, e apresentação de perspectivas, continuaram. Concha Edo, docente da Universidade Complutense de Madrid, apresentou “El language y los géneros en la narracion periodista”, estudo que analisa a evolução dos media até a actualidade.
Esta docente defende que não existe qualquer tipo de diferença entre o jornalismo tradicional e o jornalismo web, porém “a web oferece muitas possibilidades” que o jornalismo tradicional não contempla.
Com o advento da web, é actualmente mais fácil a circulação de informações, de uma forma quase instantânea, porém, para esta docente, a rapidez da informação introduz um problema, “existe cada vez menos rigor e verdade” nas informações que circulam.
A rapidez da web também originou uma nova linguagem jornalística, segundo a docente. Esta linguagem específica, para a web, deve porém ter cuidados com o tempo verbal já que o mesmo texto é lido em “horários diferentes, em diferentes locais” do mundo. Deve também ser breve, clara e incisiva.
É contudo uma linguagem que possui as mesmas características da linguagem do jornalismo tradicional, porém está linguagem web, apresenta uma multiplicidade “já que usa os meios multimédia do hyper-texto”, fazendo assim “uma união de diferentes linguagens numa só” com especificidades muito próprias que facilitam a leitura como “imagens, gráficos e frases curtas de simples compreensão”.
Segundo a docente, é uma linguagem, que é ainda uma “criança, uma menina”, que está a começar a crescer, e até a própria “web ainda se está a experimentar”. Apresentando por isso problemas como incorrecções, incertezas, não existindo “revisões de texto”, já que o que prima nas redacções online é o desejo de “actualizar” sobre o desejo de “rever os textos”.
Esta instantaneidade linguística leva ainda a que não possa existir no jornalismo web um “conceito de periodicidade” tal como acontece no jornalismo impresso, “é um conceito que se perde” segundo a docente.




Novas tecnologias, novos modelos

João Canavilhas, docente do departamento de Comunicação e Artes da UBI, apresentou “Arquitectura da Webnotícia. O que aconteceu à pirâmide?” no qual defendeu a horizontalidade da pirâmide, para construir as notícias para a web, em vez, da verticalidade, da pirâmide invertida que habitualmente é usada no jornalismo tradicional, segundo este docente, actualmente “a pirâmide mudou de posição. É uma pirâmide deitada, horizontal”.
Anabela Gradim, docente do mesmo departamento, apresentou “Webjornalismo e a profissão de jornalista”, no qual exprimiu algumas preocupações relativamente à utilização da web, mas destacou o “espaço de penetração noticiosa” que a web permite, já que é “bastante amplo”.
Estas jornadas de Jornalismo Online, que decorreram entre 9 e 10 de Novembro, foram organizadas por Suzana Barbosa, que se encontra na UBI a efectuar a sua tese de doutoramento. Segundo a organizadora as sessões “discutiram os pontos do programa”, permitindo que se debatesse o que é hoje o webjornalismo.
Os objectivos propostos para estas jornadas foram cumpridos, tendo a organizadora destacado a presença de Jim Hall, com importantes trabalhos relativamente à área em debate, que marcou uma “importante contribuição” nas jornadas.
Este foi também, segundo a organizadora, “um retorno para a UBI, de tudo aquilo que eu tive aqui”, já que estas jornadas foram também “um fecho da minha estadia em Portugal”.