José Geraldes

Os crucifixos


A história começa em Abril último com uma exposição de uma associação sobre os símbolos religiosos nas escolas públicas. O argumento é a laicidade do Estado.
A posição oficial do ministério diz que “lei é para cumprir”. Mais ainda. A ministra da Educação comunica que requerera um levantamento dos casos às direcções regionais. Mas o ministério nega que se trata de “uma campanha contra os crucifixos”. Ora, em política – costuma dizer-se – que o que parece, é.
E, se não é campanha, porquê tanta pressa no despacho deste assunto contra a sensibilidade da maioria dos portugueses que se declaram católicos embora muitos não sejam praticantes? Mas as suas consciências regem-se pelos ditames do cristianismo. Aliás, mesmo não-crentes vieram a terreiro a discordar de tal medida. E nem lhes foi pedido para se pronunciarem. Fizeram-no espontaneamente.
A decisão da ministra releva do mais refinado laicismo que quer fechar a religião na sacristia, sem lhe conceder expressão pública. Uma atitude de tipo jacobino que se julgava nos anais da arqueologia. Mas pelos vistos o laicismo só espreita a oportunidade para levar a efeito os seus objectivos. Sejamos claros.
Não é a laicidade do Estado que está em causa. A separação da Igreja e do Estado muito menos. E não se reclama um Estado confessional. Mas não se pode ir contra as crenças dos cidadãos e os símbolos que as representam. E sobretudo sendo a maioria da população portuguesa.
No mínimo, até por uma questão cultural, a ministra devia ter pensado duas vezes para não enviar a tal famigerada circular.
Jorge de Miranda, o “pai” da Constituição da República Portuguesa, disse, sem papas na língua, “que não se escamoteie a realidade histórica e cultural”, aconselhando às minorias religiosas e laicas “uma atitude aberta e não rígida” para “aceitarem a presença dos símbolos”.
Para ser coerente, ministra devia também influenciar o Governo para acabar com os feriados cristãos, eliminar a celebração do Natal e da Páscoa e festividade de Todos os Santos! E acabar com as procissões. E da mesma forma os símbolos que ofendam a consciência dos católicos portugueses.
Com as crenças religiosas não se pode brincar!
Parece que há espíritos empedernidos que não entenderam nada da Primeira República. E, quando se ocupa a cadeira de ministro, todos os cuidados são poucos para a tomada de decisões.
Com a questão dos crucifixos, o ministério criou um problema onde não deveria existir. Comprou uma guerra escusada. Mas teve a vantagem de ficarmos a saber que o laicismo anda pelos gabinetes do Ministério da Educação. Daí os pais e educadores estarem atentos a todas as directivas para as escolas dos seus filhos.
O ministério traria grandes benefícios ao povo português se desse aos pais a liberdade do ensino na escolha das escolas em situação de igualdade das e privadas com as públicas, como lembrou oportunamente F. Sarsfield Cabral na sua coluna do Diário de Notícias.
Não se compreende a situação actual do ensino particular em Portugal. E pagamos impostos para termos o ensino que queremos e não o que o Estado queira impor.