Os brinquedos antigos estão agora a ser preservados
Guarda tradicional
Antigamente é que era

A Associação de Jogos Tradicionais da Guarda convida a “Jogar à Tradição”. Numa exposição que reúne brinquedos, jogos tradicionais e fotografias antigas mostram a tradição marcada pelas brincadeiras da região.


Por Carina Morais


Cerca de 500 peças levam os visitantes, principalmente as crianças, a experimentar as actividades lúdicas que entertiam os seus familiares mais velhos. “Jogar a Tradição” é o lema da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda (AJTG). È também o nome da exposição que leva os visitantes numa viagem às memórias dos antepassados. O certame com mais de 500 peças faz parte de um expólio com mais de 2 mil, composto ao longo dos 26 anos de existência da AJTG. Segundo Elsa Fernandes, relações públicas da associação, “são objectos recolhidos em inúmeras iniciativas que, depois, proporcionaram, e ainda proporcionam, momentos lúdicos um pouco por todo o distrito, pelo País, pelo mundo”.
“Hoje em dia as crianças estão habituadas a brincadeiras solitárias, desenvolvidas frente a computadores e consolas”, adianta a promotora. Por todas essas razões, um dos objectivos da exposição é tentar reverter, “mesmo que minimamente”, esta situação.
Para dar mais cor à exposição, ao longo do mês, foram promovidas actuações do Grupo de Cantares de Aldeia do Bispo e Grupo de Cantares “A Mensagem”. Dorindo Vaz, presidente da Associação Cultural de Aldeia do Bispo frisa que “este tipo de exposições são extremamente necessárias. É muito importante que as crianças de hoje vejam como os pais e avós brincavam”.
Até 31 de Dezembro, estão abertas ao público quatro salas onde se encontram cartazes e fotografias das exposições e eventos anteriores, brinquedos feitos à mão e dezenas de jogos tradicionais. Pode ver-se que para a elaboração destes trabalhos foram usados os mais variados e curiosos materiais. Fósforos, folhas de milho, garrafas e rolhas são apenas uma amostra.
A exposição “Brinquedos dos Nossos Avós”, integrada na iniciativa, é resultado de um concurso realizado nas escolas do concelho guardense. O objectivo inicial era que as crianças tomassem um contacto mais próximo com as experiências de familiares mais velhos. A direcção realça que “desta ligação enriquecedora entre gerações e de grandes doses de criatividade nasceram trabalhos de uma beleza extraordinária e de uma originalidade indiscutível”.
Em duas das salas, depois dos cartazes e fotografias, encontra-se toda a espécie de brinquedos. Bonecos de trapos, marionetas, triciclos, fisgas, jogos de tabuleiro, aviões e carrinhos de madeira e material reciclável, cavalos de pau e muitos mais objectos que faziam parte das brincadeiras de pais e avós.
Numa tentativa de diminuir o “conflito de gerações”, fazendo com que os mais novos se interessem pelos jogos tradicionais, surge um concurso chamado “Eu tenho um pião”. Na última sala o cenário fica composto com mais de 20 jogos. Cem piões, desenhados e pintados por crianças do concelho de Aguiar da Beira, as linhas do jogo da macaca, a luta de tracção com corda, o rapa, salto à corda, jogo das linhas, a malha, entre outros podem também ser vislumbrados e relembrados nesta mostra.
Esta exposição é apenas um passo “do sonho da AJTG”. Algo que passa pela criação de um Museu dos Jogos Tradicionais. Como explica Norberto Gonçalves, presidente da associação, numa entrevista ao jornal “ O Interior ” esta é uma ideia que poderá ser concretizada a curto-médio prazo. As vertentes interactiva, expositiva, lúdica e de “ateliers” de construcção “serão essenciais para o bom funcionamento do museu”, adianta ainda o responsável. “Queremos a genuidade das coisas porque achamos que este projecto não tem lógica sem visitas guiadas, oficinas e “ateliers” para permitir às crianças e aos adultos jogarem e brincarem”, explica Norberto Gonçalves. Um dos objectivos deste desafio é contribuir para uma maior divulgação de um passado que “já nem faz parte da memória visual das nossas crianças.”

Desde 1979 a Jogar a Tradição

A Associação de Jogos Tradicionais da Guarda é uma colectividade com mais de um quarto de século de existência. Desde 1979 que recolhe, sistematiza e incentiva a prática de jogos tradicionais. Apesar ter um âmbito distrital, a sua acção tem-se desenvolvido, pontualmente, pelo País e também no estrangeiro.
Desde a sua criação que a AJTG participou em vários projectos, “perspectivando salvaguardar a cultura lúdica tradicional”, referem os promotores. Salientam-se actividades de recolha e filmagem, realização de encontros de jogos tradicionais e a participação na 17.ª Exposição de Arte, Ciência e Cultura.
Do seu historial contam também, as publicações de diversos estudos ligados à temática dos jogos e do seu papel na sociedade, e de vários livros. “ O Jogo do Galo por Terras da Beira”; “O Magusto da velha em Aldeia Viçosa ; “A Capeia Raiana, uma Mostra de Força Colectiva” são alguns exemplos.