Paulo Ferrinho

Liberdade de expressão e respeito - da teoria à prática

Ao ler atentamente o Urbi et Orbi, na sua edição n.º 314 de 07 a 13 de Fevereiro de 2006, encontrei um artigo do Excelso Professor António Fidalgo (alguém que muito admiro, por sinal...), artigo esse também publicado no Notícias da Covilhã, datado de 09 de Fevereiro de 2006, versando os últimos acontecimentos sobre as 12 caricaturas dinamarquesas estabelecendo a correlação com a liberdade de expressão e respeito pela diferentes opiniões e culturas.
Numa fase do texto refere concretamente: “ A liberdade de expressão é um dos princípios fundamentais da civilização ocidental. É um bem e um fim em si mesma e como tal inegociável.” (Sic.)
Remata o seu artigo com: “O Urbi@Orbi cumpre seis anos de vida online. Tem procurado relatar com verdade e objectividade o que se passa na UBI e tem proporcionado aos alunos de Comunicação exercerem em ambiente real a tarefa, cheia de responsabilidade, de se exprimirem livremente. Não é pouco.” (Sic.)
Não fosse o tema do artigo não teria, concerteza, ousado escrever estas linhas. Todavia a minha pele ficou cheia da urticária, pois, lembrei-me, imediatamente, de um célebre episódio que aconteceu em 18 de Janeiro de 2006, quando, enquanto dirigente da Associação Académica da UBI tentei publicar um artigo de opinião sobre o tema quente que é a Sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco que deu provimento à providência cautelar interposta pelos alunos.
Desta forma, submeti esse mesmo artigo ao escrutínio do Urbi@Orbi (recordo que foi publicado esse texto na íntegra no Diário XXI e Jornal O Interior ), tendo recebido o seguinte e-mail, assinado pelo Prof. Dr. António Fidalgo:
“ Caro Ferrinho
Acho que não devo publicar o seu texto no Urbi. As razões são simples. Embora o Urbi não seja um jornal oficial da UBI (nunca fui nomeado Director por ninguém), é um jornal da UBI na medida em que é um elemento ou laboratório dos alunos do Atelier de Jornalismo do Curso de CC. É feito nas instalações da UBI e tem de ter em conta os interesses da escola, de acordo com o entendimento que faz deles o seu máximo responsável, o Reitor, mesmo podendo eu discordar desse entendimento. Tivesse o Urbi um suplemento da responsabilidade da AAUBI, e então a situação seria diferente. Acho que o Ferrinho tem o direito de publicar o seu texto. Mas como Director do Urbi (e não peço, nem deixo de pedir licença ao Reitor, que não é assunto dele) acho q o seu texto, por mais pertinente, e até de interesse para outros órgãos de comunicação, põe em cheque o reitor e isso eu não posso aceitar que seja publicado ali.
O abraço do
A. Fidalgo ”
Penso não cometer nenhuma inconfidência ou beliscar mesmo a reserva da vida privada porque esse mail foi partilhado pelos Prof.(s) Anabela Gradim, João Canavilhas e os jornalistas Catarina Rodrigues e Eduardo Alves.
Em consequência da perplexidade e da “censura” praticada tive oportunidade de enviar nesse mesmo dia (18/01/2006), o seguinte texto de repúdio e de indignação:
“Caro Professor
Agradeço-lhe a amabilidade em explicar as razões que o levam a não publicar o meu artigo.
Assumo, de facto, que o artigo tem alguns "condimentos" que contendem com a actuação do máximo responsável da UBI, no entanto, esse facto não deve ser inibidor da publicação do artigo. Na minha, modesta, opinião, a razão da existência do Urbi suporta-se no demonstrar a toda a comunidade académica todas as actividades desenvolvidas na UBI, independentemente se elas estão de acordo com a estratégia da Reitoria ou não.
Tenho a certeza que os colegas de CC não se importariam de ver reflectido no Urbi a opinião de alguém que os defende e veicula a mensagem que eles se identificam.
Não me cabe recordar-lhe que o Urbi é lido por todos, incluindo, muitos dos alunos da UBI e seria desagradável da minha parte esclarecer a toda a comunidade académica, principalmente aos alunos, que o Urbi "censurou" um artigo de um antigo representante da AAUBI, só pelo facto, do texto não ser "simpático" com o Reitor.
Certo que entenderá os meus argumentos, peço que reflicta e permita a publicação do texto em nome do princípio da liberdade de expressão e confronto salutar de ideias, valores que o Professor defende desde sempre.
Um abraço de elevado respeito,
Paulo Ferrinho”
O artigo não foi publicado!
Resta-me apenas pedir que todos os leitores tirem as ilações que julgarem por convenientes.
Como diz um provérbio russo “ Os homens julgam-se pela suas acções não pelas palavras que dizem”.
Com a devida vénia e respeito pelo Excelso Professor António Fidalgo, despeço-me com um enorme abraço.