Ricardo Campos *

O Plano Tecnológico, a Microsoft e a Covilhã


Depois de 8 meses de preparação e de ter conhecido três coordenadores, o Plano Tecnológico, lançado em Novembro passado, conheceu na passada semana novos desenvolvimentos com a visita de Bill Gates ao nosso país para participar numa conferência sobre novas tecnologias e modernização administrativa, organizada pelo Ministro do Estado e da Administração Interna António Costa.
Esta visita, de um dos maiores visionários do nosso tempo, marca inevitavelmente o Plano Tecnológico não só pelos ganhos efectivos no imediato (e que parecem ser muitos, com a assinatura de diversos protocolos entre a Microsoft e o Governo português, ver, mas também pelo imediatismo associado a ela. Assistimos nestes dois dias a uma enorme acção de divulgação do Plano Tecnológico e de transmissão de confiança por parte do Governo, um capital que interessa agora, os agentes económicos privados saibam aproveitar por forma a dinamizar a economia, com o desenvolvimento de novos serviços, produtos e negócios.
O papel do Governo não termina no entanto com a celebração de contratos e com o lançamento de iniciativas que estimulem a intervenção empresarial (da Microsoft e de outras empresas). Para que o crescimento da economia seja efectivo (um dos principais propósitos do Plano Tecnológico), o Governo tem um papel fundamental que passa por modernizar a Administração Pública portuguesa, através do estabelecimento de novas relações de confiança entre o Governo e as empresas/cidadãos, com a reformulação de serviços, de processos e formação dos seus quadros.
A esse propósito a realização desta visita não poderia ter sido mais oportuna. Senão, vejamos algumas das medidas principais: melhoria das qualificações dos portugueses para posterior integração em PME´s, através da realização de cursos de especialização tecnológica (CET) na área de Tecnologias de Informação e Comunicação com obtenção de certificados Microsoft, formação a desempregados do sector têxtil para que possam adaptar-se a outras profissões, formação dos agentes da Polícia Judiciária no que diz respeito à segurança electrónica e ao crime informático, desenvolvimento por parte da Microsoft de um programa de tratamento computacional da língua portuguesa no âmbito do Centro de Desenvolvimento de Software em Linguagem Natural e posterior criação de centros de inovação em parceria com as Universidades.
Com base nos três eixos principais (Conhecimento, Tecnologia e Inovação) do Plano Tecnológico, o Governo, foi assim capaz de lançar iniciativas e fechar contratos em duas vertentes fundamentais do Plano: potenciar o investimento por parte de empresas privadas e a reforma da Administração Pública (esperemos apenas que o Governo, não obstante esta parceria conjunta e conveniente com a Microsoft, continue livre de optar por outros sistemas operativos que não os da Microsoft, até porque existem soluções bem mais vantajosas para os seus cofres, caso do Linux (versão portuguesa gratuita).
Os benefícios destes investimentos serão a médio prazo aproveitados pelas empresas e sociedade, que terão acesso a recursos mais qualificados e consequentemente mais produtivos. Por outro lado, o uso mais intensivo das TIC, através da realização destas acções, gera também novas oportunidades para o sucesso do Governo Electrónico (declarações de IRS electrónicas, criação de empresa na hora, etc…) que pode muito bem vir a ser o motor da reforma da Administração Pública.
Paralelamente à realização desta conferência, o Plano Tecnológico já tinha lançado um conjunto de iniciativas e tem outras tantas agendadas até 2010, algumas de grande valor como é o caso do cluster eólico. Pena é que à semelhança desta iniciativa o Governo não tenha proposto o cluster hidráulico… a verdade é que os diversos Governos continuam a desaproveitar os imensos recursos de exploração que a costa portuguesa nos oferece, quando de facto ela tem todas as condições para tornar vantajoso, a aparente desvantagem que a nossa situação periférica constitui.

A Covilhã

No âmbito de parcerias com a Microsoft e de outros projectos, a Covilhã posiciona-se como um dos principais intervenientes no Plano Tecnológico, pelo que já implementou e pelo que ainda pode fazer. E para isso, muito contribuirá a acção da Universidade da Beira Interior (cujo reitor, Manuel dos Santos Silva, é membro do Conselho Consultivo do Plano Tecnológico), o Grupo Paulo de Oliveira (considerado pela revista Exame a melhor empresa têxtil portuguesa nos últimos 4 anos), que através do Eng. José Fiadeiro, se faz também representar no conselho consultivo do Plano, o CITEVE e o ParkUrbis.
Assim, a UBI é uma das primeiras instituições, que a partir do próximo ano lectivo, vai leccionar cursos de especialização em tecnologias (CET), como parte integrante do programa competências em software assinado com a Microsoft.
O CITEVE (Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário) através do projecto-piloto “Tecnologia, Inovação e Iniciativa” lecciona desde o dia 6 de Fevereiro na Covilhã, uma formação a desempregados do sector têxtil para que possam adaptar-se a outras profissões.
O ParkUrbis, Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã, lançou recentemente um curso de empreendedorismo de base tecnológica.
Espera-se agora que os diversos intervenientes consigam gerar as sinergias e parcerias necessárias, para que o Plano Tecnológico seja um ponto de viragem na dinâmica económica da Covilhã, com base nos 3 pilares do Plano: o Conhecimento, Tecnologia e Inovação das Empresas, Instituições e Pessoas.


* Docente na Escola Superior de Gestão do Instituto Politécnico de Tomar