António Fidalgo

O fim dos intercidades ou a política meninó


Ao mesmo tempo que se anuncia a redução do tempo de viagem dos comboios alfa pendulares entre Lisboa e o Porto, em cerca de meia hora, acabam-se os intercidades de Covilhã e Guarda para Lisboa. Não lembra ao diabo, mas lembra aos meninós. Estes são executivos de sucesso, que estudaram em boas universidades, fizeram pós-graduações no estrangeiro e hoje actuam como gestores e administradores de grandes grupos económicos e de importantes empresas estatais. Apesar de trintões, quarentões, ou cinquentões bem conservados, sem barriga, e de serem nas empresas os Senhores Doutores ou, de preferência, Senhores Engenheiros, mas sempre em cargos de gestão, continuam a ser tratados lá em casa por meninos pelas velhas criadas que os criaram e os serviram.

A actuação dos meninós é puramente profissional, rege-se única e exclusivamente por critérios de racionalidade económica. O seu universo e a sua linguagem é balizada pelos critérios de maximização de recursos, eliminação de desperdícios e custos, valor acrescentado para os accionistas, conquista de mercado. Até lamentam sinceramente que possam perturbar a vida de umas pessoas simpáticas que vivem na província, mas vêem-se forçados a pôr fim ao serviço dos intercidades. Os preceitos económicos e de gestão a isso obrigam. São os mesmos que acham que as SCUTs são um erro, que os serviços públicos devem ser substituídos o mais possível por serviços privados. Reduzem um país à dimensão de uma empresa ou de uma firma, como se as noções de país, povo, nação, Estado, não fizessem qualquer sentido.

Os meninós pensam em termos de racionalidade de meios, e não pensam sequer que há razões que nunca poderão ser traduzidos em relações de benefício e custo. Os meninós são muito bons, excelentes mesmo, a calcular, a potenciar, a racionalizar, etc., mas são incapazes de compreender que há valores em si que valem todo o esforço. Há razões para lá das razões económicas a que tentam reduzir tudo. A unidade nacional, a história de um povo, a língua, são fins e objectivos e não meios de racionalidades económicas. Meninós são os gestores que não entendem isso e muito mais o são os políticos que fazem a política meninó, a política que não se governa por valores, mas apenas por conjunturas e estratégias de ganhos e custos.