“Guardador de Almas” (vencedor do Prémio Literário Cidade de Almada, 2004) conta a história de António Joaquim dos Santos, coveiro – ou como refere o autor, guardador de almas. E é nas memórias e pensamentos do protagonista que este livro se centra. Este coveiro tem uma característica particular, uma perna ferida em combate, e com ela traz todos os traumas de uma existência devoradora pela guerra, tristeza e pela infelicidade. É a partir disto que toda a história se desenrola, estando na base pensamentos confusos, memórias e factos cheios de sombra, buracos negros, fantasmas, etc. A deficiência que trouxe de África leva-o a passar os dias no Cemitério da Saudade, a cavar sepulturas e zelar pelas almas em repouso, visto que a deficiência na perna lhe tirou o sonho de jogar no Benfica.
“A Eternidade Noutra Noite” é outra das obras de Rui Vieira. Este romance é escrito na primeira pessoa e conta a história real de uma emigrante clandestina de 19 anos, com dois filhos, que viaja do Equador até Espanha. É em Espanha que doa todos os seus órgãos depois de se suicidar por desespero. Trata-se de uma história baseada em factos reais, relatados pelo jornal El Pais em 2002.
“Vozes no Escuro” é mais um romance de Rui Vieira. Nele desenrola-se a história sobre uma noviça de dezassete anos, que se interroga sobre a sua verdadeira vocação feminina. Isolada no castigo da cela de um convento durante seis dias, esta jovem sentia-se possuída pelos espíritos e pelas vozes das anteriores freiras que habitaram naquela mesma cela. Vozes que dão vida às personagens e se fundem com a história do convento, atravessando dois incêndios e a respectiva reconstrução. Esta espécie de segredo, na hora da morte, passa de boca em boca, uma ordem herética em que a expiação dos pecados se alcança com o sofrimento da carne, através da doação do corpo aos excluídos da sociedade.

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