Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 335 de 2006-07-04 |
Olhos postos na qualidade
Uma investigação que está a decorrer no Centro de Óptica da UBI tem por objectivo conceber um sistema de avaliação da qualidade dos tecidos. Este sistema detecta as alterações na superfície dos tecidos sujeitos à abrasão e cria uma escala de qualidade com parâmetros objectivos.
> Eduardo AlvesDuas câmaras de alta resolução captam as mudanças que uma linha de luz branca sofre na superfície de uma amostra de tecido. Esta é uma das partes fundamentais do projecto que dá pelo nome de Caracterização Óptica das Alterações de Superfície em Tecidos Sujeitos à Abrasão, desenvolvido pelo Centro de Óptica em colaboração com o Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis (DCTT) da UBI. Uma iniciativa inserida na área das Ciências e Engenharia dos Materiais que está a ser financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) desde 3 de Janeiro de 2005 e por um período de três anos.
Quando se compra uma peça de vestuário não se conhece objectivamente a sua capacidade para fomar borboto e/ou lustro. O sistema que está agora a ser desenvolvido na UBI pretende alterar essa situação. Neste projecto foi desenvolvido e já se encontra em funcionamento um sistema óptico capaz de quantificar o grau de formação de borboto em tecidos de fibras têxteis através de um índice específico. Este sistema projecta uma linha fina de luz branca sobre a superfície da amostra do tecido. A amostra de tecido é colocada sobre uma mesa de varrimento para que os dois detectores de imagem, monitorizados em ângulos complementares (duas câmaras de alta resolução), possam registar imagens dos perfis da linha de luz. As alterações dessa linha dão origem a um mapa tridimensional onde é visível a topografia dessa amostra. Essa topografia passa a ser como um bilhete de identidade de um determinado tecido, visto a imagem mostrar as suas características iniciais e posteriormente identificar e analisar as alterações da superfície. Desta forma, a estação piloto desenvolvida na UBI e que tem aplicações no controlo de qualidade da indústria têxtil, torna possível “uma quantificação objectiva da capacidade de formação de borboto ou de lustro dos tecidos”.
Paulo Fiadeiro, docente da UBI e coordenador desta pesquisa, sublinha que até aos dias de hoje, “a análise dos tecidos é feita por pessoas ligadas à indústria têxtil de uma forma subjectiva”. Isto quer dizer que a um mesmo tecido, analisado por diferentes pessoas, podia ser atribuído uma diferente propensão para formar borboto.
Esta investigação que envolve membros da Unidade de Detecção Remota e a da Unidade de Materiais Têxteis e Papeleiros e ainda um bolseiro de investigação, António de Oliveira Mendes, pretende assim capacitar a indústria têxtil de uma ferramenta capaz de quantificar nos tecidos outros parâmetros de controlo de qualidade.
Um dos passos dados no sentido de verificar os resultados até agora atingidos foi a comparação das análises feitas por este sistema e as realizadas pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Têxteis. As amostras de tecido analisadas pelo sistema desenvolvido no Centro de Óptica obtiveram resultados objectivos “que estão em perfeito acordo com os resultados da análise subjectiva realizada por técnicos daquele departamento”, adianta o coordenador desta acção. Está agora em curso a análise de um outro conjunto de tecidos mais alargado, que serão posteriormente classificados, subjectivamente, para comparação e validação de resultados.
O equipamento foi já alvo de apresentação à comunidade científica através da participação em dois congressos internacionais (França e Estados Unidos da América) nas áreas de especialidade e estão agora a ser preparados dois artigos científicos para serem submetidos a publicação em revistas com “referee” científico.
No futuro, pretende-se ainda que este mesmo sistema possa analisar o desgaste e a formação de lustro dos tecidos quando estes estão sujeitos à abrasão. Isto porque, durante o uso quotidiano, as roupas estão permanentemente sujeitas a fricções, tanto tecido contra tecido, como com outros materiais. Nestas condições as fibras e as estruturas têxteis “são afectadas ao longo do tempo pelos efeitos da abrasão”, explica Paulo Fiadeiro. Por esta razão quando se definem os parâmetros de qualidade dos tecidos, “a resistência à abrasão é sempre tomada em consideração”. Com uma análise objectiva dos diferentes tecidos a ser feita por este tipo de equipamento, os fabricantes de tecidos têm “uma mais valia no controlo de qualidade dos seus produtos”.
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