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“Penso que o caminho seguido pela UBI tem uma direcção bem definida”

> Eduardo Alves

U@O – É uma das pessoas que acompanhou de perto o crescimento desta instituição. Como vê a UBI do início dos anos 90 e a de agora?
A. L. – [Ouvir resposta
A diferença entre a actualidade e o ano de 1991, data em que aqui cheguei, é tão grande que não vale a pena tentar comparar. A situação era diferente. A UBI estava muito numa fase inicial. Para que se veja a dimensão da instituição, o número dos professores que integravam as reuniões do Conselho Científico da instituição abertas a todos os docentes da universidade, era na ordem dos 20 a 30. Agora esse número corresponde a um Departamento.
Penso que o caminho seguido pela UBI, desde 1991 até hoje, tem uma direcção bem definida. A provar isso mesmo está o facto de que já em 91, o então reitor Passos Morgado, informou-nos de que o curso de Medicina iria abrir na UBI no ano 2000 ou 2001 e isso veio a concretizar-se. Tudo foi bem planeado, tal como o caso da Arquitectura e outros cursos em diversos Departamentos. Para além disso, as informações mais recentes apontam para a criação da Faculdade de Direito, uma decisão que apoio na totalidade. Julgo que a licenciatura que está a faltar na UBI é a de Direito.

U@O – Quando veio para Portugal leccionar na área das Engenharias não existiam docentes em número suficiente para assegurar as necessidades das instituições. Agora que se conseguiram reunir os quadros técnicos necessários não existem alunos. Como vê esta situação?
A. L. – [Ouvir resposta]
Actualmente existe um sintoma geral de crise nas Engenharias. Não tenho ideia certa da origem desta situação. É verdade que o número de alunos candidatos a estes cursos diminuiu nos últimos anos, o que também afectou a Engenharia Civil que agora está com problemas em preencher as vagas.
Mas talvez isto seja o resultado da diminuição do número de jovens. A isso junta-se uma certa política governamental que não tem sabido motivar os estudantes e mostrar-lhes que as Engenharias são fundamentais para a sociedade, para a economia e para o País. Bons engenheiros podem ajudar um país em todos os sentidos.
Contudo, os jovens estão a optar por cursos mais fácies, menos complicados do que os cursos de Engenharias, que exigem muitos conhecimentos básicos da Física, Química e Matemática. Este é um grande problema que tem de ser resolvido.
Relativamente à estrutura da sociedade, não sei muito bem quais são as hipóteses de aumentar o número de candidatos para as Engenharias. Mas sei que são necessárias políticas governamentais que motivem os jovens e os incentivem a mudar de atitude. Os futuros alunos devem começar a estudar Engenharias.

U@O – Com as mudanças operadas pelo Processo de Bolonha, os sistemas de ensino dos vários países estão a ser analisados e discutidos. Quais as principais diferenças que aponta, neste campo, entre Portugal e a Polónia?
A. L. – [Ouvir resposta]
Com o ingresso de novos países da Europa Central neste espaço comum, tudo cresceu e criaram-se novas situações. Nos países centrais, o ensino fui bem organizado, de forma tradicional e sem novidades na organização do processo de ensino.
Os regulamentos das universidades, nesses mesmos espaços, foram criados para motivar os alunos, para premiar os estudantes bons e eliminar os que não são bons, os que não mostram interesse ou não têm capacidade para estudar. Por isto, os licenciados em universidades daqueles países europeus, por exemplo na Polónia, realmente mostram conhecimentos nas suas áreas de formação. Mas isso requer uma boa orientação. Na Polónia, os alunos que não conseguissem passar a todas as disciplinas do primeiro ano era imediatamente colocados fora da instituição, para não criar a situação de termos muitos repetentes que não estudam e ficam na universidade sem qualquer progresso.
Esta situação criou um grupo muito forte de especialistas, bem preparados e agora muitos destes jovens aproveitaram a abertura do espaço europeu para trabalhar na França, na Alemanha e em outros países.
Só da Polónia, deslocaram-se para Inglaterra, quase meio milhão de jovens, para trabalhar, depois da adesão da Polónia à União Europeia. Segundo os últimos dados que consegui obter sobre este assunto, em Londres vivem 300 mil jovens polacos e eles foram muito bem aceites pela sociedade inglesa e têm bons empregos. Isto porque são bem preparados.

U@O – Algo muito diferente do sistema português?
A. L. – [Ouvir resposta]
Não posso dizer que o sistema de ensino português possa ser facilitista. Aquilo que posso dizer é que, por exemplo, o regulamento da UBI é muito liberal. Isto cria situações em que temos uma cadeira com cem alunos inscritos, mas quase metade são multi-repetentes. Os novos alunos continuam a passar e temos sempre os mesmos alunos reprovados nas mesmas cadeiras. Chego a ter alunos inscritos nas minhas disciplinas, cinco ou seis anos. Uma situação impensável lá fora.

“Em todos estes anos que aqui estou, não posso dizer que conheço este País”

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“Existe um sintoma geral de crise nas Engenharias”



"A diferença entre a actualidade e o ano em que aqui cheguei, é tão grande que não vale a pena tentar comparar"


Data de publicação: 2007-02-06 00:00:00
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