Voltar à Página da edicao n. 392 de 2007-08-07
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 

“A Covilhã recuperou da crise por causa da universidade”

> Ana Albuquerque

U@O – E como têm visto o crescimento da Covilhã?
Ó.M. e T.M.:
Esta cidade, tendo em atenção toda a evolução do Interior do país, foi uma cidade abençoada. Era uma grande cidade no tempo da indústria têxtil, muito activa, muito dinâmica, com uma boa dimensão. Com a queda da indústria têxtil, a cidade mergulharia a pique para ser uma aldeia em ponto grande. Contudo, o aparecimento do Instituto Politécnico da Covilhã permitiu que a comunidade evoluísse até se formar a cidade universitária que é hoje. Depois, mesmo como cidade universitária, e dado que existem várias no Interior do país, a Covilhã gerou um dinamismo pelo qual se conseguiu afirmar como uma boa universidade. Mas há um certo ostracismo, uma certa má-vontade para a qual está votada ao nível dos governantes, que vão discriminando o Interior face ao Litoral. Isto para dizer que apesar disso tudo, a UBI tem conseguido procurar o seu caminho e marcar uma posição muitíssimo válida ao nível das universidades do País. E também tem feito repercutir a sua dimensão na cidade da Covilhã. Hoje, a Covilhã tem a dimensão que tem, e conseguiu recuperar da crise dos lanifícios, fundamentalmente por causa da universidade.

U@O – Nota-se que o investimento tem acompanhado a UBI?
Ó.M. e T.M.:
Achamos que muitos investimentos se fazem de forma encadeada. Umas coisas depois levam a outras. A recuperação da Covilhã como cidade, o aumento desta população flutuante a nível de alunos e professores, potenciou o desenvolvimento de um determinado tipo de investimentos, nomeadamente a nível das grandes superfícies. No Interior do País, presumimos que não haja nenhuma cidade com tantas e tão grandes superfícies como a Covilhã, por exemplo. Aliás, num ranking que apareceu recentemente, a Covilhã é, salvo erro, a maior cidade do Interior do País. Isso leva aos investimentos, e os investimentos também ajudam o crescimento da Covilhã. Consideramos que há um processo de simbiose em que realmente uns ajudam os outros.

U@O – Qual a relação entre o comércio tradicional e as grandes superfícies livreiras?
Ó.M. e T.M.:
No geral, ainda não há uma grande superfície com uma grande dimensão em termos de livros. A Bertrand será a excepção. É evidente que, tanto quanto me dizem os meus colegas livreiros, sentiram a presença dessas grandes superfícies. O nosso caso, é um caso muito particular. Como a nossa vertente é essencialmente técnica, somos talvez, dentro dos livreiros da Covilhã, aqueles que menos sentiram isso. Embora alguma coisa tenha ido para lá. Por outro lado, uma das características do comércio tradicional é alguma familiaridade entre quem vende e quem compra. É um tratamento mais personalizado, que normalmente as grandes superfícies não têm. É um tratamento muito mais dinâmico. Aqui, quando o aluno precisa de um livro porque depois de amanhã tem uma frequência, somos nós quem decide mandar vir o livro, falando directamente com a editora, custe o que custar, porque interessa criar um nome. A nível de grandes superfícies, e nomeadamente nesta parte técnica, esta capacidade de decisão é importantíssima.

U@O – É essa a maior diferença, a prontidão na resposta ao cliente?
Ó.M. e T.M.:
Como uma grande superfície tem compras centralizadas, muito raramente aparece uma unidade destas em que alguém pode decidir de imediato. Não podemos dizer ao professor que vamos comunicar à nossa central de compras, que depois ela vai reunir, vai decidir, e ainda aprovar e finalmente pedir, só depois volta para a central e, por último, para aqui. Não lhe podemos dizer que lhe vamos entregar o livro passados quinze dias, três semanas ou um mês. Temos casos que exibimos com algum orgulho. Tivemos aqui um professor que nos disse o seguinte: “Olhe, corri Coimbra inteira e não consigo encontrar este livro. E já perguntei também em Lisboa …O senhor acha que me consegue esse livro?”. Quando ele diz que já percorreu Coimbra e Lisboa, pensámos assim: “Nem que tenhamos de ir ao fim do mundo, o livro tem de cá estar, custe o que custar”. A verdade é que em 48 horas nós pusemos cá um livro, muito antigo por sinal, era um livro dos anos 70. Só de portes de correio, o livro ficou muito caro. O problema do professor não era o preço do livro, mas a necessidade que tinha dele. Ora, com este cliente, ao levar este livro, ganhámos meia dúzia de tostões, pois não podemos fazer repercutir todo o preço dos portes no livro. Foi mais um investimento que fizemos no serviço, na qualidade do serviço, e esse professor passa regularmente por aqui e pergunta o que há sobre determinado assunto. Esta é uma característica frequente no comércio tradicional, que não existe nas grandes superfícies. Esta capacidade de resposta, esta possibilidade que temos de tratar o assunto específico do cliente é uma mais valia que as grandes superfícies não têm.

U@O – Sentem que é uma luta perdida?
Ó.M. e T.M.:
Não, não. No nosso caso particularmente achamos que não é. Reconhecemos que deixámos de vender muito livros, comparando com o outro tipo de comércio. Há muitos alunos que vêm aqui e com toda a franqueza dizem: “Sabe, já estive na livraria tal e disseram-me que estava esgotado”. Ao que respondemos: “Disseram que estava esgotado porque não tinham, mas o livro está disponível”. Tem outro tipo de atendimento. Ou então: “Sabe, estive em tal livraria e não conheciam o livro X”. É muito mais impessoal, é muito mais abstracto. Tem, tem; não tem, não tem. Sendo assim, às vezes, redunda em benefício da imagem da livraria.

U@O – O que poderá acontecer às pessoas com esta despersonalização dos actos sociais?
Ó.M. e T.M.:
Sem nos querermos enganar a nós próprios, achamos que isso é capaz de vir a acontecer, mas ainda não será na geração dos vintes, nem há-de ser na geração dos filhos dos nossos filhos. Será numa geração em que 80 a 90 por cento das coisas sejam feitas via Internet, em que a ligação a este meio de divulgação seja, por exemplo, a nível de escolas, muitíssimo mais intenso do que é agora. A compra de um livro é um ritual muito próprio que a Internet não permite. Por exemplo, os e-books já existem há imenso tempo e não têm a divulgação que seria de esperar. Mete-se no e-book, um aparelho mínimo, 12, 15, 20, 30, 40 volumes de imensas coisas. Isso é uma possibilidade e o preço até nem é exorbitante. Mas raramente aparece alguém que compre um e-book porque entrar numa livraria, mexer, folhear, ler a badana, ter o livro, arquivá-lo, é totalmente diferente. É uma ferramenta importantíssima. Em termos de livros técnicos, há muitas pessoas que fazem um determinado tipo de trabalho, a quem não lhes interessa comprar um livro inteiro, mas tão somente uma opinião sobre um determinado capítulo, e a Internet fornece isso. O tipo de pesquisa e a disponibilidade de informação sobre obras e diferentes temas ajudam imenso. Mas de momento acho que ainda estamos relativamente longe do tempo em que a livraria deixou de ter razão de existir.

Perfil

"Não temos uma relação próxima com os livros"

"Esta livraria é muito importante para a universidade"






Data de publicação: 2007-08-07 00:00:00
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