Voltar à Página da edicao n. 421 de 2008-02-19
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Depois de vários incêndios a matéria-prima destas indústrias está a desaparecer

Empresas do sector da madeira em risco

As empresas do sector da madeira, no distrito, correm o risco de encerrar. Tudo porque há falta de pinheiros. O alerta surge por parte do PSD que denuncia que, na zona do Pinhal, há quem importe matéria-prima de Espanha e França

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A falta de pinheiros ameaça encerrar empresas do sector da madeira no distrito de Castelo Branco, alerta o presidente da distrital do PSD Carlos São Martinho que em declarações à agência Lusa pede a intervenção do Governo. “É irónico, mas as empresas da região do Pinhal Interior chegam a ter que importar de Espanha e França metade da madeira de pinho que usam como matéria-prima”, descreve.
O social-democrata pede maior fiscalização para travar o abate de pinheiros na região e sua substituição por eucaliptos e critica algumas opções do Estado em matéria de gestão florestal. Entre elas, questiona a venda de propriedades ao grupo Altri pela empresa pública Lazer e Floresta (do grupo Portucel). “É um exemplo grave. Os terrenos incluem centenas de hectares de pinhal que está a ser abatido para a indústria da celulose e esse risco paira sobre inúmeras outras propriedades”, sublinha. “Enquanto isso, as serrações e fábricas de produtos de madeira suportam custos adicionais da matéria-prima importada e seu transporte. Não admira que alguns decidam fechar portas ou deslocalizar-se”, acrescenta o dirigente.
Segundo refere à agência Lusa Catarino Costa, administrador da Lazer e Floresta, a empresa vendeu no último ano 1490 hectares de terrenos no distrito de Castelo Branco ao grupo Altri, dos quais 1049 eram povoados com pinheiro bravo. Houve mais interessados nos terrenos, incluindo empresários do sector madeireiro, “mas a proposta vencedora estava 15 por cento acima do segundo concorrente e bastante acima das outras propostas individuais”, acrescenta. “Não me compete fazer comentários quanto ao uso que os novos donos lhes darão”, refere, ressalvando que “os terrenos eram de uma empresa de celulose e agora serão de um empresa da mesma área de actividade”.
Para Carlos São Martinho, a proveniência não importa. “O que interessa é, face ao cenário actual, o Governo assumir uma posição política em defesa do pinhal. E este caso serve de exemplo inclusivamente para particulares que assim vêem na plantação de eucalipto um negócio muito mais aliciante”, conclui. O aviso não é exclusivo dos social-democratas. Na comemoração dos 50 anos da Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), em Dezembro de 2007, o presidente Fernando Rolin deu grande destaque ao inventário florestal nacional, que revela um recuo de 27 por cento da área coberta pelo pinho. “A situação é bastante grave e pode levar ao encerramento de empresas e ao aumento do desemprego, se nada se fizer”, refere, revelando que, desde 1998, o número de unidades de serração em Portugal caiu de 732 para 290.
Por sua vez, João Paulo Catarino (PS), presidente da Câmara de Proença-a-Nova, no coração da região do Pinhal, disse à agência Lusa que “o que se passa são as leis de mercado a funcionar, mas o regulador Estado tem que intervir”. “As pessoas normalmente substituem o pinheiro por eucalipto e fazem muitos mais cortes prematuros, tudo em busca de mais rendimento, um problema que temo que se agrave quando as centrais de biomassa começarem a funcionar”, acrescenta. O autarca não pede mais leis, porque “provavelmente até temos das mais evoluídas da Europa. O problema está na falta de fiscalização”, refere João Paulo Catarino, que vê com preocupação a escassez de matéria-prima para a indústria.
“A fileira florestal é muito importante para esta região e os seus problemas trazem inúmeros fenómenos associados, como a desertificação e o desemprego”, refere.
A agência Lusa pediu, durante a última semana, esclarecimentos ao grupo Altri em Castelo Branco, bem como à secretaria de Estado das Florestas mas ainda não obteve respostas.


Depois de vários incêndios a matéria-prima destas indústrias está a desaparecer
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Data de publicação: 2008-02-19 00:05:00
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