Voltar à Página da edicao n. 421 de 2008-02-19
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 

Chova, mas devagarinho, sff.

> João Canavilhas

Os agricultores e os criadores de gado viviam já momentos de angústia devido à falta de água quando a chuva caiu em Portugal. Choveu e choveu bem. Alegria no campo, tristeza na cidade, com inundações e derrocadas nas zonas ribeirinhas, sobretudo na região de Lisboa.

Quando não chove, fala-se em aquecimento global. Atribuem-se culpas à poluição e se todos poluímos todos somos culpados. Resignados, assumimos a nossa quota-parte de culpa e prometemos melhorar, usando menos o automóvel ou separando o lixo doméstico.

Quando há inundações fruto de uma chuvada forte, mas de curta duração, a coisa muda de figura. O ministro do Ambiente, Nunes Correia, não teve dúvidas e apontou imediatamente o dedo às autarquias que não limpam regularmente as infra-estruturas de escoamento de águas pluviais. Os autarcas, indignados, responderam prontamente ao ministro. Destacaram que o problema de fundo está na falta de limpeza dos cursos de água e é ao Ministério que compete esta tarefa.

A verdade é que não há inocentes em todo este processo. Veja-se o caso da região de Lisboa, zona onde as inundações foram mais graves. A pressão demográfica deu origem a um enorme crescimento do sector da construção e o resultado é uma malha urbana apertadíssima que ocupa cada metro quadrado de terreno disponível. Os cursos de água que deveriam estar desimpedidos têm hoje prédios, estradas e parques infantis. Para isso muito contribuiu o Ministério do Ambiente, que se demitiu da sua função fiscalizadora, e as autarquias, que se deslumbraram com os impostos oriundos do sector da construção.

As vítimas são as de sempre: os pobres cidadãos que moram nesses locais. Vítimas, mas também culpados, pois são eles quem elege os governos e os autarcas que deixaram chegar a situação a este ponto. Ou seja, mais uma vez somos todos culpados. E sendo assim, resta-nos pedir que chova, mas devagarinho, se faz favor.


Data de publicação: 2008-02-19 00:00:01
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