Voltar à Página da edicao n. 426 de 2008-03-25
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Os novos pecados e a Páscoa

> José Geraldes

A Comunicação Social noticiou com parangonas de primeira página que o Vaticano tinha criado uma nova série de pecados capitais. E a forma como as peças jornalísticas eram redigidas, davam a entender que se tratava de um documento oficial de Bento XVI.
A blogosfera e comentadores encartados apoderaram-se imediatamente do assunto e vá de o analisar conforme, não bastas vezes, com preconceitos de permeio. Parece que a realidade do pecado tão arredio da mentalidade moderna invadiu finalmente todas as consciências e se tornou objecto de reflexão da sua presença no mundo. Até porque mesmo muitos cristãos dizem não ter pecados e, por isso, argumentam, não se confessam.
Tal afirmação não passa de uma opinião falaciosa, pois todos os santos se consideraram pecadores. Só Jesus Cristo por ser Deus não teve pecados. E precisamente a morte e paixão de Cristo e a sua Ressurreição que celebramos, aconteceram por causa dos nossos pecados passados e actuais como os textos litúrgicos bem exprimem e a Teologia ensina.
Então, o que deu origem a esta preocupação da Comunicação Social pelos ditos novos pecados? No Vaticano, existe um organismo chamado Penitenciaria Apostólica que é um Tribunal religioso e se ocupa de absolvições de pecados reservados, dispensas, comutações de penas e concessão e uso de indulgências. Ora o bispo responsável deu uma entrevista ao L´Osservatore Romano, jornal da Santa Sé, sobre a Penitenciaria Apostólica.
A certa altura, o jornalista Nicola Gori pergunta ao bispo Gianfranco Girotti, o que eram para si os novos pecados. A resposta refere que “vemos atitudes pecaminosas a respeito dos direitos individuais e sociais”. Assim o bispo cita a manipulação genética e as suas experiências, o tráfico e consumo de drogas, as desigualdades sociais e económicas e a área da ecologia. Fala também em concreto na “insustentável injustiça social”, fazendo com que “os pobres sejam cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos”.
O que apareceu na Comunicação Social foi completamente extrapolado e apresentado de forma redutora e, como se tratasse de um documento oficial. Aqui o trabalho de casa por parte dos jornalistas de agência redactores da notícia ficou por fazer por preguiça e por falta de investigação.
O que o bispo Girotti disse, está nos documentos quer do concílio Vaticano II, quer das encíclicas dos papas, quer no Catecismo Católico. Portanto, a resposta à pergunta do jornalista resume e, bem, a doutrina da Igreja. Não se trata, pois, de um catálogo de novos pecados porque já existem. E poder-se-ia referir também o excesso de velocidade nas estradas e conduzir sob o efeito do álcool, por atentarem contra vida pessoal e dos outros. O mandamento lá diz “não matarás”.
Habituados que estamos a ouvir falar quase sempre dos pecados individuais, esquecemos que estes têm consequências sociais. Daí o considerar-se a dimensão social do pecado.
João Paulo II, na encíclica A Solicitude Social da Igreja aborda a questão. No capítulo sobre a leitura teologia dos tempos modernos, escreve: “Se a situação actual se deve atribuir a dificuldades de índole diversa, não será fora de propósito falar de “estruturas de pecado”. (…) Pecado e estruturas de pecado são categorias que não se vê com frequência aplicar à situação do mundo contemporâneo”. E depois: “Não se chegará facilmente à compreensão profunda da realidade, conforme ela se apresenta aos nossos olhos, sem dar um nome à raiz dos males que nos afligem”.
A Páscoa lembra-nos as responsabilidades dos pecados pessoais e colectivos. A Ressurreição só acontece com o compromisso de uma vida nova e da passagem das trevas para a luz em ordem a um mundo mais justo e fraterno

> mnpdematos @ hotmail . com em 2008-03-31 18:22:51
Realmente somos constantemente enganados pela comunicação social, quando os ditos profissionais não se dão ao trabalho de investigar melhor para também melhor informar. O certo é que já me deparei com essa questão e achei um pouco ridiculo, uma vez que estes ditos "novos pecados" sempre foram considerados pecados, por minima formação que as pessoas tenham, penso não estarem de acordo do contrário. De qualquer das formas fiquei esclarecida e se, eventualmente surgir outra vez esta questão serei mais esclarecedora do caso.


Data de publicação: 2008-03-25 00:00:00
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