Voltar à Página da edicao n. 472 de 2009-02-03
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> <strong>João Carlos Correia</strong><br />

A Centralidade dos Estudos Jornalísticos

> João Carlos Correia

Max Weber foi um dos primeiros a compreender o que o estudo académico da Imprensa implicava. Passado outro século, já terá sido feito o suficiente para levar por diante o que os estudos académicos sobre Imprensa e Jornalismo imperiosamente exigem?
Em muitos países sim: desde, logo os Estados Unidos deram passos decisivos no estudo da abordagem académica do Jornalismo – excelentes faculdades, fundações ricas e académicos prestigiados asseguram que esse percurso está consolidado. Num contexto cultural mais similar ao nosso – o Brasil – a exigência de estudos superiores no acesso ao título e a existência de uma sociedade científica própria, resultado de uma tradição enraizada, conferem aos Estudos Jornalísticos uma posição universitária consolidada. Em Espanha, o tempo e a tradição também conferiram um lugar definido a esta área disciplinar. Nestes países, com mais ou menos, autonomia, há um campo de estudos jornalísticos, que se traduz, por exemplo, num bom relacionamento entre as Universidades e a Imprensa das Regiões.
Será que é possível dizer o mesmo de Portugal? No nosso país, os Estudos em Comunicação têm 30 anos. Não seguiram – a meu ver acertadamente – uma vocação positivista e profissionalizante exclusivamente orientada para a formação de técnicos competentes. Graças a equívocos quanto aos objectivos e desejos de cada um, académicos e profissionais do jornalismo tiveram dificuldade em traçar caminhos de interlocução.
Já se deram passos desde então: do magma inicial das Ciências da Comunicação já surgiram pelo efeito de trinta anos de estudos, especializações diversas com expressão institucional e académica, como é possível reconhecer nos Grupos de Trabalho da SOPCOM. Por outro lado, estudiosos e praticantes de Jornalismo já ensaiaram espaços de diálogo com graus de aprofundamento diversos: a presentação de projectos científicos que convidam empresas jornalísticas para instituições participantes; a participação em Congressos em pé de igualdade; o aumento consistente e significativo do número de profissionais licenciados ou com os Graus de Mestre e até de Doutor é uma alteração qualitativa da profissão em Portugal.
Há muitas razões para se aprofundar esse caminho:
Desde logo, o jornalismo configura-se como um campo industrial de importância não desprezível. Apesar da crise, mais um novo título de grandes dimensões se prepara para fazer a sua aparição disputando o espaço tradicionalmente ocupado pelo “Público”. Anuncia-se um novo Canal de Televisão e aparecem dois projectos em concorrência Isto convive com os preocupantes despedimentos verificados nalguns dos principais títulos da “Controlinveste” mas também demonstra que, sob o ponto de vista empresarial, é uma realidade complexa e contraditória.
Adicionalmente, o jornalismo é um campo de actividade marcado por importantes transformações: as novas tecnologias reconfiguram as linguagens, as técnicas e as rotinas: saberes de procedimento (como agir para conseguir uma notícia ou lidar com uma fonte?) e de narração (como se redige para a pluralidade de plataformas disponíveis: papel, Internet, Telemóveis, etc.?) sofrem mutações importantes. Por outro lado, a proliferação de plataformas e a segmentação de canais abrem o campo importante dos jornalismos especializados, seguindo um percurso que a prestigiada Universidade de Columbia consolidou, de forma pioneira, nos seus planos de estudos.
Além disso, o Jornalismo tornou-se uma realidade politicamente cada vez mais vísivel. Os últimos acontecimentos da actualidade mostram a complexidade das decisões que um jornalista pode ser obrigado a enfrentar. Nos países mais desenvolvidos as relações do jornalismo com a cidadania são pensados como uma dimensão estratégica directamente relacionada com o futuro dessas sociedades.
Por último, existem sectores do Jornalismo que a Academia ainda nem observou: o jornalismo regional, apesar da sua expressão significativa, e do interesse que este possa ter (quando é cada vez mais provável um novo agendamento das discussões relativas à divisão administrativa do país) é relativamente ignorado ao nível graduado, ensaiando alguns passos ao nível do seu estudo pós-graduado.
Por todas estas razões, as preocupações de Max Weber continuam a fazer sentido para a realidade portuguesa. A Universidade da Beira Interior deve aprofundar o seu percurso para ajudar a encontrar respostas.

Professor Auxiliar do Departamento de Comunicação e Artes e Faculdade de Artes e Letras


Data de publicação: 2009-02-03 00:01:00
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