Voltar à Página da edicao n. 476 de 2009-03-03
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Mascarados

> José Geraldes

No tempo de carnaval, as máscaras são usadas pelos foliões e por aqueles que se querem divertir para esquecer problemas e dificuldades durante algum tempo. Os divertimentos carnavalescos abafam as mágoas e iludem as angústias da vida.
A máscara tanto desempenha a função de disfarce como serve para esconder a identidade da pessoa. Ou representa figuras com as quais a pessoa tem ou deseja  uma certa semelhança.
A máscara transporta a pessoa para outro mundo que não é o habitual. Por isso, o seu uso acaba por se transformar num desengano.
Há gente que não se mascara no carnaval mas, durante o ano, usa máscaras conforme as conveniências do momento e objectivos a atingir nem sempre os mais nobres. As sociedades modernas estão repletas de mascarados e mascaradas.
Trata-se de pessoas sem escrúpulos que passam tempo a enganar os outros. E para quem o ter duas caras é um modo de vida. E o facto acontece no exercício da profissão e nos negócios e também na convivência diária.
Claro que os mascarados para subsistir usam artimanhas de toda a espécie. Além da mentira, recorrem a atitudes e gestos que são o contrário do que talvez pensem no seu íntimo.
Uma classe social e religiosa que se notabilizou historicamente a este respeito foram os fariseus no tempo de Cristo. A hipocrisia fazia parte da sua forma de estar na vida.
As palavras mais duras que há nos evangelhos, são ditas por Cristo contra os fariseus. Cristo chega a chamar-lhes “sepulcros caiados de branco.” Cristo não suportava a hipocrisia. Daí a denúncia que fazia da incoerência dos fariseus que fingiam umas coisas e, na prática, procediam ao contrário.
Os fariseus pregavam uma religião apenas feita de sinais exteriores mas no seu íntimo medrava o ódio e a maldade. E Cristo que era a verdade por excelência, tinha por natureza da sua missão verberar a conduta hipócrita dos fariseus. Por isso, lhes disse que a origem do mal e dos comportamentos duvidosos provinham do interior do homem.
Se o homem não é são por dentro, dificilmente poderá gerar sentimentos de bondade e iniciativas de solidariedade com os outros.
Actualmente temos na sociedade também novos fariseus que se mascaram e enganam quem se relaciona com eles. Agora com os novos nomes da hipocrisia como a corrupção e roubos chamados “desvios” de grandes quantias de dinheiro nas grandes empresas públicas a títulos de ordenados e regalias de gestores.
Muitos põem máscaras para conseguir o que desejam. E aproveitam-se das ocasiões que a vida lhes proporciona. Não olham aos meios para alcançar os fins, à maneira de Maquiavel.
A nossa sociedade está verdadeiramente doente. Estão  a perder-se as referências dos valores perenes que formataram a civilização ocidental como a lealdade, a honestidade, a justiça e o sentido da liberdade e da fraternidade.
Mas não se espere que mudando as estruturas, as coisas mudam. Primeiro o homem tem de se renovar para dar um rumo diferente à sociedade. E o tempo de crise pode ser oportuno para esta missão.
Vamos entrar na Quaresma que, na Igreja Católica , é precisamente o tempo de mudança para que tudo seja renovado. Quem quer entrar neste desafio?


Data de publicação: 2009-03-03 00:01:00
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