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"Falar é fácil, fazer é que é difícil"
Ângela Oliveira e Regina Henriques · quarta, 13 de mar?o de 2013 · Nacional São outras formas de dizer as coisas, e raros são aqueles que os usam conhecendo a sua origem. Provérbios e expressões populares são frequentemente utilizados no quotidiano de gentes de todas as idades que recorrem a eles para os mais diversos fins. |
Apesar de usados todos os dias são poucas as pessoas que sabem detalhar as origens das expressões populares e dos provérbios que fazem parte da cultura portuguesa. |
22015 visitas “Depois de ter sido despedido "fiquei à toa". "Que massada", aquele "erro crasso" custou-me o emprego. "Meti os pés pelas mãos" e agora "estou feito ao bife"! Uma das particularidades mais interessantes da língua portuguesa é a abundância de expressões idiomáticas. Utilizadas pelo povo desde tempos imemoriais e empregando muitas vezes palavras e construções frásicas perdidas no tempo, as expressões populares ilustram coisas banais e situações do dia-a-dia ditas de forma especial. Expressões como “andar à toa” têm uma história e um contexto específico, e apesar de serem usadas todos os dias e nas mais variadas situações, são poucas as pessoas que ao mesmo tempo que as usam, sabem como é que elas surgiram. Sendo certo que para cada uma delas existam várias explicações possíveis, todas remontam às mitologias Grega ou Romana, a situações da História Universal ou a casos da História de Portugal. Como tudo o que passa de boca em boca tende a ser moldado pelo tempo, há também expressões que sofreram alterações até os dias de hoje, sendo que na maioria dos casos essa transformação resultou da parecença entre palavras. “Mal e porcamente”, em vez de “mal e parcamente”, por exemplo, é uma expressão erroneamente aplicada por muitas pessoas e que nada tem a ver com os simpáticos suínos. A palavra “parcamente” sinónima do adjetivo “insuficiente” não sendo de amplo conhecimento em tempos remotos, foi substituída por outra foneticamente parecida, “porcamente”. O mesmo acontece com a famosa expressão “cor de burro quando foge”, também ela possivelmente adotada da passagem “corro de burro quando foge” registada pelo gramático António de Castro Lopes (1827-1901). Para além das expressões, para aconselhar alguém ou para exprimir as teorias práticas que as pessoas vão acumulando com a vida, é possível também recorrer aos provérbios. Segundo o adágio africano, “o provérbio é o cavalo que pode levar alguém rapidamente à descoberta de ideias”, e em todos lugares e todas as línguas, estes ditos populares transmitem de geração em geração, ensinamentos e orientações práticas. Maria Ferreira, com 67 anos, diz que desde cedo omeçou a tomar contacto com os dizeres populares. A mesma ideia aliada a palavras diferentes pode originar provérbios sinónimos, e a utilização de um ou de outro pode depender de fatores como a origem de quem o diz. O provérbio “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar” pode ser substituído por “mais vale uma enxada na mão do que uma mão inchada” sem que a ideia principal, explicada por Maria Ferreira, seja alterada. A ideia é que um provérbio adequado pode estimular o raciocínio, ajudar na compreensão e ainda servir para motivar alguém a fazer a coisa certa.Grande parte dos ditados populares não têm autoria conhecida e parece que sempre existiram. “Santos de casa não fazem milagres” ou “grão a grão enche a galinha o papo” são expressões que não se perderam no tempo e continuam carregadas de significado. De carácter universal, os ditados populares acumulados durante milénios fazem parte da sabedoria humana e adaptam-se a todas as situações da vida. São aplicados no quotidiano em forma de conselho, “quem tem telhados de vidro não atira pedras no do vizinho”, em forma de compromisso, “filho de peixe sabe nadar”, ou até mesmo em forma de crítica, “o pior cego é o que não quer ver”. Pequenos mestres da sabedoria humana, os provérbios também se aplicam na autoridade, “quando um burro fala os outros baixam as orelhas” ou na autonomia “não sei o que faça, se dê palha ao burro ou se parta a cabaça”. Paula Coelho explica o provérvio que diz ter aprendido com a sogra. A publicidade aprendeu a valorizar os ditados e a servir-se deles para que os slogans caíssem mais facilmente no domínio publico e fossem assumidos mais facilmente como verdade. Uma das características destas frases é transmitir-se muita informação em poucas palavras. Esta particularidade faz dos provérbios, máximas muito fáceis de aprender pelas crianças, que os aprendem no seio da família, e também na escola. Joana Marcos, de 13 anos tem sempre alguns provérbios na ponta da língua, e diz que recorre a eles para se expressar de uma forma mais simples. Cada vez mais atual, a sociedade vai deixando para trás tradições e costumes nacionais de grande valor cultural. As expressões e os provérbios que caracterizam esta especial forma de falar, fogem à regra e vão passando de pais para filhos como um legado valioso e com história. |
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