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Livros imunes à crise
Urbi · quarta, 22 de janeiro de 2014 · Região Ao contrário do que se poderia esperar, as vendas registadas no mercado livreiro não diminuíram com a crise no ano de 2013. Atualmente, os portugueses compram mais livros, e as vendas dos mesmos verificam aumentos nas épocas festivas como o Natal, por serem considerados uma boa alternativa a outras prendas. |
Expositor de livros no Continente, Covilhã |
21962 visitas A palavra “crise” parece ter sido um dos marcadores das várias páginas do ano de 2013, no entanto, esse vocábulo passou longe do mercado livreiro, ou melhor, impulsionou-o. O vice-presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), Pedro Pereira da Silva, numa entrevista concedida à Lusa, afirmou que, em Portugal, no primeiro trimestre do ano 2013, os valores das vendas de livros “são idênticos” aos que se registaram no mesmo período do ano passado. Confirmando esta tendência, dados recentes afirmam que a Feira do Livro de Lisboa de 2013 foi um sucesso. Pessoas ávidas de leitura; esperançosas, que procuram conseguir o tal livro por metade do preço, filhos e pais que pretendem passar um bom momento, e fazer boas compras, rodeados de livros e de toda a aura livresca e intelectual que paira no lugar, encheram o Parque Eduardo VII. Editoras e livreiros ficaram bastante satisfeitos: houve maior afluência do público e um acréscimo nas vendas. Mas não podemos esquecer que um maior número de exemplares vendidos nem sempre corresponde diretamente a um aumento de receitas, já que muitos dos preços refletem baixas margens de lucro. No outro lado da página, longe dos grandes centros, das grandes feiras, das “estatísticas”, temos a realidade das cidades de menor dimensão e do Interior do país. Na Beira Interior, no Continente da Covilhã, há uma zona do hipermercado reservada somente aos vários tipos de livros e imprensa escrita. As estantes não são tão coloridas, ou cheias, como as das grandes livrarias, mas os preços são mais baixos, e isso basta para que os expositores pareçam mais embelezados: preços sorridentes! “Apesar da crise e do desemprego, as vendas mantêm-se”, confirma gerente José Lopes, do Continente, “mas tal é devido à agressividade das promoções”. José Lopes acrescenta ainda, que, atualmente, as pessoas compram mais livros, e que, nas férias de verão e de Natal, as vendas aumentam sensivelmente. Tal padrão também se verifica em livrarias menores, como é o caso da Papelaria/Livraria Estudante e das Papelarias/Livrarias Marina, localizadas no Fundão. Duas das papelarias localizam-se em pontos opostos da cidade, mas, chegando aos respetivos locais, uma semana antes do Natal, o cenário é o mesmo: poucas pessoas dentro das lojas, livros organizados nas estantes, pela mesma ordem que há várias semanas atrás, e material escolar exposto nas vitrinas interiores. Maria da Conceição é a funcionária que espera, pacientemente, potenciais compradores, atrás da bancada da Papelaria/Livraria Estudante. “Este ano está tudo muito fraquinho”, comenta, “há menos vendas de livros devido à crise e ao desemprego”. “Os hipermercados têm preços inferiores às livrarias”, e isso reflete-se no negócio. No entanto, a mesma funcionária refere que “quando uma pessoa procura um livro, e ele não está disponível na loja, faz-se os possíveis para que o livro chegue no dia seguinte”. “As distribuidoras são cada vez mais rápidas, hoje em dia”, e mais rápidos são ainda os meios de transporte que podem levar os clientes a outras lojas, na procura do livro pretendido, por isso há que criar soluções para não se perder o cliente, explica. Sendo uma Papelaria/Livraria, Maria da Conceição faz notar que os livros escolares são os mais vendidos; situação que se repete na Papelaria/Livraria Marina. Após embrulhar a compra de uma senhora de idade, com papel de embrulho com motivos natalícios, Lídia Martins, funcionária da Papelaria/Livraria Marina, comenta que na época natalícia se vendem mais livros, bem como nas férias de verão, principalmente livros infantis, inseridos no género aventura. “Prendas que os adultos compram para as crianças”. O orçamento das famílias é curto, e podemos deduzir que, havendo uma grande preocupação no investimento do conhecimento e formação dos filhos, pais e adultos optam por oferecer livros, juntando o útil ao agradável. Por falar em juntar o útil ao agradável, cada vez mais famílias recorrem a livros escolares em segunda mão, notícia não muito agradável para as papelarias/livrarias, com pontos de venda físicos ou on-line. “O mercado livreiro perdeu, no primeiro semestre do ano 2013, milhares de vendas, incluindo livros escolares”, segundo a APEL. Por outro lado, a consultora GfK Portugal confirmou que se registou uma variação nula entre o primeiro trimestre de 2013 e o mesmo período de 2012. A análise, no entanto, esclarece a consultora, incide no mercado não escolar. “Monitorizámos 3,03 milhões de livros vendidos, o que equivale a uma faturação de 31,82 milhões de euros”, explica a GfK Portugal. No que toca aos autores, a velha máxima de “o que é estrangeiro é que é bom”, parece ter sido derrubada. Segundo a editora Leya, em 2013 houve muita procura de autores de língua portuguesa; entre os livros mais vendidos estão o vencedor do Prémio Leya de 2012, Nuno Camarneiro com “Debaixo de Algum Céu”, e Mia Couto, que recebeu o Prémio Camões 2012. Não estando contabilizada a lista dos livros mais vendidos em 2013, em Portugal valemo-nos da lista dos 50 livros mais vendidos entre 2007 e 2011, segundo um estudo de mercado elaborado pela GFK. Neste período José Rodrigues dos Santos é o autor que mais livros vendeu. Neste ranking dos 50 livros mais vendidos, 26 são de autores de língua portuguesa e 19 de língua estrangeira, enquanto os restantes são compilações. Também se verifica uma repetição de autores, com José Rodrigues dos Santos a liderar a lista com 6 títulos, e José Saramago e Miguel Sousa Tavares ambos com 4. Para concluir, estima-se que o período de 2012-2015 será marcante na evolução do setor. Tal deve-se ao aparecimento do livro digital, o ebook. Este novo fenómeno apanhou as editoras desprevenidas, e levantou certos problemas para as mesmas, questões como os direitos de autor digitais, direitos de imagem, pirataria, o que as leva a agir com lentidão e precaução. Contudo, nos Estados Unidos da América o avanço do livro eletrónico tem sido incontestável, nos últimos anos, havendo uma grande adesão por parte dos consumidores. Como irá o mercado do livro eletrónico desenvolver-se em Portugal é ainda uma incógnita. Só podemos esperar, e desejar, que, neste ano de 2014 haja algum dinheiro no bolso para gastar em “mimos”: livros em papel, ou, quem sabe, digitais. |
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