Quem chegava ao hall da biblioteca da UBI era convidado a pôr-se à vontade, tirar o casaco, deixar a carteira e desligar o telemóvel. Curiosidade e expectativa eram os estados de espírito dos participantes do workshop “A Voz do Silêncio”, que decorreu na passada quarta-feira, pelas 20h30.

Encaminhados para o 1º piso, as palavras ditas foram deixadas para trás e fez-se silêncio. A partir deste momento, as experiências e desafios surgiam um após outro. De olhos vendados os participantes foram levados para o 2º piso, para uma sala onde iria decorrer o resto do workshop.

Aí, esperava-os “um marinheiro de poucas palavras” servindo-se de gestos, de objectos e da ajuda preciosa de uma ardósia onde iam surgindo palavras que levavam à acção, à interacção através de pequenos jogos, cuja finalidade era conduzir os participantes à procura do verdadeiro silêncio.

Marco Ferreira, o actor que orientou o wokshop, contou como chegou a esta ideia: ”Já tinha dito tantas palavras que não eram minhas, palavras que às vezes até me diziam tão pouco, que resolvi experimentar o silêncio. Depois toda esta envolvência e dinâmicas surgiram a partir de uma cena de um espectáculo realizado em Roterdão e onde me foi lançado o desafio de contar a viagem realizada para encontrar o personagem que é o silêncio, e que resultou na performance que realizei no meio do workshop”

O actor, que neste momento trabalha com o Teatro das Beiras, e que “adora esta faceta do teatro participativo”, afirma que “aqui sou apenas um facilitador para a interacção dos participantes Neste trabalho não há espectadores, nem actores, nem palco; aqui também se trabalha o improviso, já que não sabemos como os participantes irão reagir a certos estímulos”.

No final desta procura, que durou cerca de duas horas e meia, abrir a janela e ouvir de novo a vida lá fora foi quase uma descoberta para todos.

João Marques, um dos participantes, explicava no final que “o trabalho do Marco Ferreira encheu-nos de novas experiências, e destaco a sua capacidade de arriscar e de nos levar a viajar. Mudou a minha maneira de sentir o silêncio, como algo mais íntimo”. Já Pedro Marques, outro dos participantes, realçou que “levamos uma vida agitada, sem tempo para parar, reflectir, e este workshop revelou-se uma surpresa. Fiquei a ver o silêncio de outra maneira”. Destacou ainda “a performance que o actor levou, a efeito no meio, do workshop e o convívio entre os participantes”.

Ficou a promessa de Marco Ferreira regressar com outros trabalhos, um ligado à ficção científica e à ideia que temos do futuro, e um outro ligado à fantasia, à criação de uma comunidade e à procura da sabedoria.