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Maravilhas Serranas: um poço sem fim
João Botão dos Santos e Márcia Soares e Sara da Silva Alves · quarta, 31 de janeiro de 2018 · Região Desde as lendas mais antigas até ao mediatismo dos dias de hoje, há recantos na Serra da Estrela que não deixam ninguém indiferente. Que o digam os “funis”, a mais recente atração turística por terras do Interior. |
Funil do Covão dos Conchos, na Serra da Estrela. Créditos: Catarina Lucas |
21976 visitas “Em 1881 chegou à serra da Estrela uma expedição científica incumbida de fazer a sondagem da lagoa Escura para lhe determinar a profundidade, enorme alvoroço se apossou dos pastores da região” , reza a lenda. Curvas e contracurvas e mais curvas. O caminho é longo e demorado, mas vale a pena. Ao longe já se veem as primeiras casas isoladas do resto do mundo no meio dos vales, rodeadas por pequenos resquícios de neve que teimam em não desaparecer. Para trás, e já ao longe, fica a Covilhã e uma vista apoteótica de encantar até os mais céticos e apáticos. As Penhas da Saúde passam depressa, quase nem damos por ela não estivesse a imponente Torre já no horizonte a mostrar presença e altivez. A humilde serra esconde segredos em cada recanto, a harmonia e a paz estão latentes em cada paisagem observada. Muitas são as rotas que dispomos para conhecer melhor a maravilha do interior, do Covão da Ametade ao Poço do Inferno, de Manteigas a Seia, da Covilhã à Guarda, são mais de 100 mil hectares de parque natural da Serra da Estrela, o primeiro a ser criado em Portugal. O céu está ali tão perto e as condições climatéricas associadas à altura do ponto mais alto de Portugal Continental possibilitam um fenómeno da natureza, um autêntico “mar” que nos coloca no topo do mundo, acima de tudo, onde o céu deixa de ser o limite. Existe uma dicotomia incontornável no país, as empresas da região têm sempre vários entraves ao seu crescimento, o interior é uma barreira por vezes difícil de contornar. Mas apesar destas contrariedades, existe um tesouro natural que serve de porto de abrigo a estas instituições. O ramo do aluguer de casas na Serra da Estrela é muito comum e a empresa Trator Rosa é um dos muitos exemplos. “Torna-se evidente que o desenvolvimento turístico da Serra da Estrela está diretamente ligado ao desenvolvimento das nossas empresas, pois à medida que este cresce, também as nossas hipóteses de crescimento aumentam e vice-versa”, começa por afirmar Paulo Cabeças, jovem representante da firma. E o que seria do Interior sem a sua Serra e o turismo que esta representa? Para Catarina Lucas, habitante do Município de Manteigas, a serra é um porto de abrigo para todos os serranos e um meio fantástico de desenvolvimento dos concelhos abrangentes. “A nossa maravilha representa a região e todos os serranos em geral e contribui de forma decisiva para o reconhecimento além-fronteiras”, afirma orgulhosamente a jovem Beirã. Conhecer a Serra por dentro não é fácil, muitas são as lagoas e os trilhos não têm fim. E é para as lagoas que o foco se volta. “— Isto que vês é um bote de lona. — E para que o meteis na água? — Para medir a altura do fundo. — Mas a lagoa não tem fundo, meu senhor!” , reza a lenda. É no Covão dos Conchos que uma das populares lagoas se encontra, a Lagoa dos Conchos ou Lagoa Escura, na versão popular, e nesta, o funil da Serra da Estrela. Uma construção de betão e granito, datada do ano de 1955, com 48 metros de diâmetro e que se estende até aos 4,6 metros de altura, armazenando cerca de 120 mil metros cúbicos de água. O facto de as imagens aéreas da construção terem espantado todo o país recentemente “tratou-se de mais um caso de sucesso “viral" que os novos media permitem, o que acabou por jogar a favor da região”, adiantou Paulo Cabeças quanto a estas estruturas fora do vulgar. O desconhecimento dos próprios habitantes da região sobre os “funis”, como são vulgarmente conhecidos, é geral. Estas estruturas apesar de contarem já com cerca de 60 anos, arrebatam a curiosidade e espantam pela estranha beleza. Um autêntico convite para as gentes da terra criarem mais uma ligação com o seu tesouro natural. “Olha, homem: tudo isso que me contas são histórias! Tudo histórias! Não existem monstros, nem a lagoa está ligada ao mar! (…) Amanhã virei aqui tomar banho. O pastor olhou-o como se estivesse na presença de um louco. E gritou quase: — Morrereis, senhor! O monstro chavelhudo virá agarrar-vos, levando-vos para o fundo do mar! Depois… talvez encontrareis a moura encantada!”, reza a lenda. E de facto não está. Esta infraestrutura é composta por um túnel que desvia as águas oriundas da Ribeira das Naves para a albufeira da Lagoa Comprida. Um caminho que se prolonga por 1519 metros. Uma barragem que, no final de contas, faz parte da central elétrica do Sabugueiro. Para visitar este “funil” o ponto de encontro passa pela Lagoa Comprida. Todos os dias do ano convidam a uma visita, contudo, no verão as preocupações prendem-se com as elevadas temperaturas, e no inverno é o vento, frio e possível neve que levam a cuidados redobrados. Outros apontamentos que não podem escapar são o uso de roupa e calçado adequados à época, bem como, uma mochila com mantimentos e líquidos, até porque o percurso é classificado como difícil e os 10 quilómetros a percorrer revelam-se exigentes. “O Sol estava a pino, pondo reflexos dourados em tudo quanto tocava. Na lagoa Escura a azáfama era grande. Lançavam o bote a àgua, perante o pasmo de alguns pastores que os observavam”, reza a lenda. As proporções tomadas pelas imagens que foram divulgadas no mundo online encantaram os turistas, qual moura encantada vivida nas lendas serranas. “Não se poderá evidenciar que houve um aumento do fluxo turístico devido às estruturas, podemos sim referir uma crescente curiosidade acerca delas e uma vontade de as ver com os próprios olhos", quem o diz é Paulo Cabeças. A crescente preocupação com a saúde e o súbito interesse pelo contacto com a natureza podem fazer com que o turismo cresça na primavera e no verão, trazendo mais turistas para estas paragens e continuando a deixar esta estrutura nas bocas do mundo. “Onde fica o “funil?” é a pergunta de ordem. “É frequente ouvir turistas a referir a beleza e estranheza das estruturas. Na realidade, é interessante pensar que uma estrutura artificial, criada pelo homem, tem um impacto visual tão grande ao ser inserida num panorama natural”, revela o funcionário da empresa Trator Rosa. “De um salto, o jovem cientista entrou pela água da lagoa (…) - Como vêem, não há monstros na lagoa! Andem daí, rapazes! (…) Como era bela e poética a imaginação do povo! Como era forte a sua crença! Tão forte, que ainda hoje esta lenda subsiste”, reza a lenda.“Em 1881 chegou à serra da Estrela uma expedição científica incumbida de fazer a sondagem da lagoa Escura para lhe determinar a profundidade, enorme alvoroço se apossou dos pastores da região” , reza a lenda.
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