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"A UBI é uma boa marca"
Rafael Mangana · quarta, 15 de junho de 2016 · @@y8Xxv José Manuel Paquete de Oliveira faleceu este sábado aos 79 anos, no Hospital da Luz, em Lisboa, vítima de doença prolongada. Era presidente do Conselho Geral da Universidade da Beira Interior desde 4 de abril de 2013. Recuperamos nesta edição uma entrevista, em que o docente e investigador falou do que encontrou na UBI, da sua experiência na liderança do órgão máximo da instituição e do rumo que entendia ser o mais adequado para o Ensino Superior português. |
José Manuel Paquete de Oliveira |
21989 visitas Urbi et Orbi - Que avaliação faz da experiência como presidente do Conselho Geral (CG) da Universidade da Beira Interior (UBI)? Paquete de Oliveira - Tem sido um período bastante bom. Na minha vida académica desempenhei vários cargos: em conselhos diretivos e científicos e como vice-reitor ou vice-presidente do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, por exemplo. Em conselhos gerais tinha tido uma experiência na Universidade da Madeira, como membro cooptado. Quando vim para cá, estava longe de pensar que iria ser escolhido para a presidência. Na primeira reunião vi que todos os colegas se estavam a pronunciar a esse favor e não tive coragem de dizer que não. A experiência tem sido positiva. Não tive situações de conflito ou polémicas internas, que às vezes existem nestes órgãos. Tem corrido tudo com o máximo de ‘fair play’, colaboração e transparência. Julgo que está a ser um período bastante construtivo para o CG e, por inerência, para a própria Universidade. Acrescento que também beneficiei da boa colaboração dos dois reitores com quem tive oportunidade de trabalhar. Fui eleito durante o mandato do Professor João Queiroz e a ligação funcionou muito bem. Com o atual reitor também está a ser boa. Embora estejamos ligados a universidades diferentes, conhecíamo-nos bastante bem, sobretudo através da SOPCOM – Sociedade Portuguesa de Ciências da Comunicação e dos grupos de trabalho que executamos ao longo do tempo nas áreas da comunicação.
U@O - Esteve já presente no período eleitoral de 2013, que resultou na eleição do atual reitor. Como recorda agora esse processo? PO - Eu entro numa fase em que a UBI já tinha desencadeado o processo eleitoral e tentei geri-lo da melhor forma possível. Tinha um compromisso com o atual reitor, que me escolheu para o órgão e pela relação de amizade que mantemos. No entanto, nos poucos meses em que trabalhei com o Professor João Queiroz encontrei nele uma simpatia muito grande. As eleições geram alguma conflitualidade, mas não achei que na UBI isso se tivesse passado. Os dois candidatos tiveram um comportamento exemplar e não ficaram feridas abertas, após a conclusão do processo eleitoral. Aliás, o Professor António Fidalgo diz-me que tem recebido a melhor das colaborações do anterior reitor, o que é positivo e diz bem da personalidade de ambos e da categoria de pessoas que são. É muito salutar para a Universidade.
U@O - Já disse que há um bom ambiente no interior do CG e não se notam conflitualidades. Mas como é que funciona um CG? PO - A sua principal função é a eleição do reitor e, de algum modo, a vigilância sobre a atuação deste ou da Reitoria, não podendo imiscuir-se nas competências dos outros órgãos da Universidade. Na maior parte das situações temos de nos pronunciar sobre documentos – como os planos de atividades e orçamento –, apresentados pelo reitor. Isto não quer dizer que o CG não possa tomar iniciativas, como aconteceu no final de 2013, quando começou a falar-se na reforma do Ensino Superior. Surgiu na altura uma proposta para ser feito um documento que depois pudesse corporizar a posição do Conselho Geral da UBI sobre essa matéria. Constituiu-se um grupo, foi apresentado o documento – que até foi redigido em tempo recorde –, mais tarde discutido e aprovado. Em suma, o Conselho pode tomar algumas iniciativas, dentro dos parâmetros gerais que a legislação prevê. Como o próprio nome indica, os membros têm uma função de conselheiros sobre as problemáticas que se vão colocando, mas quem está à frente da gestão da Universidade é o reitor e os restantes órgãos.
U@O - O professor Paquete de Oliveira é um grande conhecedor do Ensino Superior nacional, mas agora tem a oportunidade de contactar com a UBI por dentro. Houve uma grande diferença entre aquilo que conhecia e a visão que tem agora desta Universidade? PO - Embora a minha vida académica tenha decorrido no ISCTE, contactava bastante com as outras universidades. Através de conversas com colegas e pelas impressões que eu recolhia, construí uma boa imagem da UBI. E não digo isto por estar agora aqui e muito menos por ser presidente do CG. A UBI, fazendo parte do núcleo de universidades médias – não gosto de lhes chamar pequenas –, tem sabido trabalhar bem. É uma universidade muito equilibrada financeira e economicamente. Não são os fatores que mais se valorizam academicamente, mas acho que hoje, sobretudo no contexto em que estamos, isso deve ser destacado. Quanto ao corpo docente, pelo trabalho letivo e pela participação em projetos de investigação nacionais e internacionais, constitui-se como uma boa marca. A própria UBI, através desses projetos internacionais em que está envolvida, tem granjeado fatores que consubstanciam também a sua marca global. Por outro lado, é uma universidade que tem todos os campos de saber, excepto o de Direito. Mas tem Medicina, que é um elemento estrutural muito forte para o seu reconhecimento. Por tudo isto, a UBI já tem um nome no panorama universitário português e mesmo além fronteiras. Uma outra característica que existe, e que verifiquei sobretudo como presidente do Conselho Geral, é o que se pode chamar de ‘amor à camisola’. Eu penso que aqueles que trabalham cá gostam de estar na UBI e, de algum modo, empenham-se em defendê-la, o que é muito importante.
U@O - Há constrangimentos que têm sido uma tónica no discurso do atual reitor: a baixa demografia da região e a economia menos pujante do Interior. De que forma é que se pode intervir para que estas universidades médias não venham a sofrer muito? PO - A minha experiência universitária foi feita numa instituição que eu diria periférica. Não pela sua localização geográfica – a grande Lisboa –, mas pela sua dimensão e por estar rodeada de grandes universidades, como eram na altura a Técnica, a chamada Clássica de Lisboa, e a própria Universidade Nova, falando só das instituições públicas. Perante isto, o ISCTE teve de lutar muito pela sobrevivência e fê-lo afirmando-se em alguns campos de saber, sem perseguir a ideia clássica de uma universidade que trabalha em todas as áreas. O que eu acho, e defendo isto apenas a título pessoal, é que as instituições devem apostar em ser excelentes em determinadas vertentes científicas. Essas opções teriam de derivar da região, mas tendo em conta o panorama internacional. A UTAD, por exemplo, tem valências específicas que resultam daquele meio e que derivam do que essa universidade fez até hoje. Assim como a do Algarve, da Madeira ou a UBI. Sendo assim, talvez fosse possível olhar para o mapa das universidades médias e entrar numa lógica de núcleos de conhecimento e investir na investigação, em termos nacionais e internacionais. Dou como exemplo a UBI. Penso que continua a ser a única, entre as universidades públicas, que tem uma licenciatura em Cinema. Imaginemos que este produto é trabalhado cada vez mais e se afirma à escala nacional. Quem pretendesse cursar ou especializar-se em Cinema, escolheria a UBI. Não há dúvida nenhuma que se a Universidade da Beira Interior tivesse uma Faculdade de Direito – a única área que lhe falta na conceção clássica de academia –, estaria muito mais firme na constelação das universidades portuguesas. Mas depois existiria a dificuldade de ter os meios necessários para isso.
U@O - Tem-se falado muito da emigração dos licenciados portugueses. Vê o Ensino Superior português com qualidade suficiente para ombrear com o estrangeiro e para que os profissionais que saem do país tenham sucesso? PO - Eu penso que sim. Hoje fala-se da democratização do Ensino Superior, que foi uma realidade conquistada pelo 25 de abril. Isso trouxe ganhos em quantidade e perdas em qualidade, apesar de ter catalisado muita qualidade. Nós hoje temos muitos jovens a emigrar. Todos os dias assiste-se no aeroporto à saída de gente nova e qualificada. Depois, vemos que muitos jovens investigadores portugueses têm recebido prémios internacionais. Estão creditados em universidades e em centros de investigação à escala mundial e com grande sucesso.
U@O - Esta emigração é prejudicial? PO - O que me assusta não é a saída, porque resulta da nova mentalidade desta geração. Adquiriram o valor de serem cidadãos do mundo. O que me perturba é não haver retorno. Nós, pelas condições que temos, não estamos a oferecer reciprocidade. Isto é, se saíssem 100 e, dadas as proporções e escala do país, viessem 50 para estudar e fazer investigação cá, estávamos à escala mundial. Mas eles vêm e perguntam: “Que condições é que vocês me dão?”. Perturba-me também não haver o retorno dos nossos, que voltariam depois mais avalizados; e não haver um outro retorno, dos que passam cá algum tempo no âmbito do Programa Erasmus, que são muitos. A mim não me chocaria que o país exportasse inteligência, desde que garantisse o retorno dos seus e conquistasse estrangeiros para virem para cá.
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