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O Interior e o estado da nação - a minha visão
José R. Pires Manso · quarta, 26 de julho de 2017 · Região Défice e desemprego descem, dívida, exportações, turismo e número de empresas aumentam, poupança atinge mínimos, produtividade portuguesa a 60% da média UE. Entretanto o interior definha, desertifica-se, envelhece, criam-se algumas empresas e algum emprego, as portagens das auto- estradas não descem… mas a esperança num futuro melhor permanece. |
José R. Pires Manso - Professor Catedrático de Economia, UBI, e responsável do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social do Interior |
21958 visitas Para encerrarem o ano parlamentar os deputados da AR debateram o Estado da Nação (EN) na quarta-feira p.p. Para o compreender, é importante fazer um retrato da evolução do país através da análise dos indicadores económicos, orçamentais e sociais desde 2015, o ano em que o atual Governo assumiu funções, comparando com os dados mais recentes já disponíveis para este ano. Assim, o PIB está a crescer este ano ao ritmo mais elevado dos últimos anos mesmo deste século – no 1º trimestre, cresceu 2,8% face ao período homólogo, depois de ter crescido 1,6% em 2015 e 1,4% no ano passado; a taxa de desemprego também decresce sustentadamente – em 2015 foi de 12,4%, em 2016 recuou para os 11,1% da população ativa estando em maio último nos 9.4%, um valor alinhado com a média da U.E. segundo a estimativa provisória do INE; a nível orçamental, o défice das administrações públicas está igualmente em queda – em 2015 foi de 4,4%, e em 2016, foi de 2,1% do PIB, o mais baixo da história da democracia portuguesa, e que permitiu o fim do Procedimento por Défice Excessivo; claro que este desempenho foi possível também por efeito de medidas especiais como o Programa Especial de Regularização do Endividamento ao Estado, que permitiu um perdão total ou parcial de juros aos contribuintes que regularizassem as suas dívidas fiscais (cerca de 550 milhões), pelo regime de reavaliação de ativos (100 milhões de euros) e por cativações de 940 milhões de euros; por sua vez a balança de transações correntes tem beneficiado de um crescimento sustentado das exportações de bens e serviços em geral, do comportamento do setor turístico e ainda de um não tão grande crescimento das importações de bens e serviços, factos que têm conduzido à acumulação de superavits raros nas contas externas portuguesas desde a segunda GG. Ainda para 2017, os dados mais recentes relativos ao 1º trimestre apontam para um défice de 2,1% até março, abaixo dos 3,3% verificados no mesmo período do ano passado e acima da meta de 1,5% para a totalidade do ano, um desempenho que torna este objetivo anual possível. Comportamento menos bom tem tido a dívida pública, pelas suas elevadas taxas de juro, que em 2015 atingiu os 129% do PIB, que disparou para os 130,3% em 2016 e para os 130,5% no 1º trimestre de 2017. Também a poupança das famílias nunca esteve tão baixa – depois de ter caído para os 4,5% do rendimento disponível em 2015 e para os 4,3% em 2016, no 1º trimestre deste ano, as famílias pouparam apenas 3,8%, o valor mais baixo desde 1999, o primeiro ano da série do INE. Um indicador que tem vindo a evoluir também favoravelmente é a confiança dos consumidores - que, em junho deste ano voltou a aumentar para um novo máximo desde nov/1997 (INE), o ano a partir do qual esta informação está disponível – e o clima - que continuou a subir no mês passado atingindo o máximo desde jun/2002. Com preços do petróleo relativamente baixos e juros da dívida em baixa acelerada e até negativos, o governo, com suporte parlamentar maioritário na AR, tem sido bafejado por ventos favoráveis que também beneficiaram da acalmia política e do empurrão dado pelos funcionários públicos e pensionistas que recuperaram parte dos cortes que o governo anterior lhes aplicou, dinamizando assim, a procura interna e a economia do país. Porque um balanço é sempre uma conta de deve e haver, convém referir, como aspetos negativos, os incêndios em Pedrógão com 64 mortos e centenas de feridos, o roubo de material militar em Tancos e a demissão de 3 Secr. de Estado que foram à bola a convite da Galp no Euro 2016, o comportamento negativo da produtividade, que não tem crescido o suficiente para suportar subidas de salários, a baixa taxa de poupança, uma das mais baixas dos países da U.E., e a teimosia das agências internacionais que persistem em não melhorar significativamente o rating da república portuguesa, saiba-se lá porquê…
E o Interior neste Estado da Nação? Embora este alinhavar de ideias seja, acima de tudo, para debater o Estado do país no seu todo também faz sentido falar aqui da sua repercussão no interior esquecido, ostracizado e envelhecido. Nesse sentido, e pela positiva, podemos dizer que as economias do interior, que este ano beneficiam do fator eleições autárquicas, estão com algum crescimento, como prova um recente estudo do signatário que mostra que há mais criação de empresas nos distritos do interior, que há alguma diversificação industrial nalguns concelhos (metais duros e polimento na Cova da Beira, por ex., indústria automóvel na Guarda, retoma dos sectores da construção nova e reabilitada e imobiliária em todo o lado, atração de empresas de serviços (call-centers para a Guarda, Fundão e Castelo Branco, entre outros concelhos), evolução favorável do emprego e consequente redução das taxas de desemprego concelhias, algum regresso de emigrantes jovens que começam a ser reabsorvidos pelo mercado nacional… Pela negativa temos os custos da interioridade a não decrescerem – da energia, dos transportes, do alojamento, de algum desemprego jovem e também menos jovem de longa duração, e das eternas portagens das autoestradas que teimam em não ser abolidas ou reduzidas substancialmente como seria de esperar dadas as declarações de todos os partidos durante a última campanha para as eleições legislativas (AR)… As mais de 150 medidas anunciadas para favorecer o desenvolvimento harmonioso do país infelizmente ainda não começaram a dar frutos, se é que alguma vez o darão, e até projetos importantes como a recuperação, retificação, eletrificação e reabertura da linha da Beira Baixa e os ICs da corda da SE, entre outros, não se vêm arrancar de vez, situação que o recente anúncio do abandono da responsável nacional pela Unidade de Missão para o Interior, parece não favorecer. Esperemos estar enganados neste nosso raciocínio!… Face a estes elementos ao interior paciente resta sempre aquela esperança verde de que melhores dias virão em que as cidades, as vilas e aldeias do interior se voltem a encher de gente, de empresas e de empregos… |
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