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Canas 44: a extinção do Portugal antigo
Lara Cardoso e Francisco Serra e AAA · quarta, 6 de dezembro de 2017 · Região No segundo dia de Festival Y, o teatro das Beiras recebeu "Canas 44", uma peça teatral da companhia Amarelo Silvestre, da direção de Vitor Hugo Pontes. |
21951 visitas Antes do espetáculo foram distribuídas máscaras cirúrgicas aos espectadores. À medida que iam entrando na sala, descobriu-se a causa para estas máscaras: no palco estava um grande círculo de carvão servindo como cenário e o as atrizes iriam correr e dançar nesse mesmo círculo, levantando muita poeira. Leonor Keil e Rafaela Santos foram as duas únicas atrizes deste espetáculo e as criadoras do tema de "Canas 44". Sendo ambas de Canas de Senhorim, uma vila do distrito de Viseu, relatam as suas histórias, uma de alguém que viveu aí e, entretanto, partiu, e outra que chegou e continua a viver nesse local. "Canas 44" apresenta uma temática bastante discutida. A ideia-base é o desaparecimento de um Portugal antigo e dos seus valores. À medida que a geração mais velha vai desaparecendo, também a terra se vai desvanecendo. Os jovens partem para as grandes cidades e nos lugares mais pequenos só restam ruínas e memórias do que antes foi. Segundo Victor Hugo Pontes, diretor artístico e dramaturgo, houve sempre uma grande preocupação na construção do espetáculo para que este não se focasse numa só cidade "e que pudesse refletir outras realidades também importantes no país. Por isso é que nunca é referido Canas de Senhorim". A ideia é transmitir que "Canas é todos os lugares" porque o verdadeiro objetivo desta peça é que as pessoas se identifiquem com ela. Após o espetáculo, que chamou dezenas de pessoas ao teatro, realizou-se uma sessão entre público e artistas, onde quem quisesse ficar poderia falar e opinar sobre o que anteriormente tinha visto e relatar experiências na primeira pessoa relacionadas com a temática da peça. Esta conversa contou, também, com a presença do diretor da companhia Amarelo Silvestre e com as atrizes. Neste círculo de espectadores percebeu-se a ideia que levou à concretização da peça e do cenário: "Foi um desafio lançado pela Rafaela Santos (uma das atrizes) e avançado por Victor Hugo Pontes". Foi num período de mudanças e num sentimento de "ambivalência frustrada", que Rafaela pensou fazer um diálogo artístico com a sua vizinha e amiga onde pudesse surgir uma dualidade entre teatro e dança. "Nessa altura, a Leonor já estava a trabalhar com o Victor e foi-lhe proposta a participação neste projeto". Para Victor, esta foi uma zona de desconforto que lhe agradou. "Estava habituado a trabalhar com uma equipa de som, imagem, etc." e, o facto de ter vivido sempre numa cidade grande dificulta o processo de escrever sobre uma pequena vila do centro de Portugal. Relativamente ao cenário, este foi criado a partir das "especificidades deste lugar" que nunca é mencionado, são elas as minas e o carnaval. A tão procurada identificação pessoal com a peça foi sentido pela assistência, "desde o princípio ao fim conseguimos identificar mais ou menos a história das personagens" refere uma das espectadoras. "Durante o espetáculo foram ditas coisas que à partida não fazem sentido, mas essas coisas pertencem ao nosso quotidiano, desde o biberão até ao caixão", disse ainda. Segundo Urbano Sidoncha, docente da Universidade da Beira Interior e convidado por parte da organização, este espetáculo interpela a vários níveis "pois existe uma ideia de travessia, uma vez que está tudo em constante mutação. Esta ideia junta-se com a tese da identidade, que nos faz preservar as memórias", diz. Depois de "Canas 44", por , o Festival Y irá contar com mais seis espetáculos na área da dança, música e teatro, durante o mês de dezembro no auditório do teatro das beiras, Covilhã. |
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