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O sagrado dentro de nós
Bruno Fontoura · quarta, 10 de outubro de 2018 · Cultura Exposição da artista Maria Guia Pimpão debate sobre os limites entre o que é divino e o que é profano. |
Exposição vai até o dia 5 de novembro no Museu de Arte Sacra da Covilhã (Imagem de Divulgação) |
21982 visitas O ser humano possui um grande interesse por aquilo que não consegue explicar. Nas primeiras sociedades, ainda não havia a climatologia para esclarecer a existência dos raios durante as tempestades ou a física para esclarecer como o atrito entre duas pedras poderia resultar em fogo. A solução que nossos antepassados encontraram para compreender esses fenômenos naturais e outros dos quais eles não possuíam total controle foi a criação de mitos. Por exemplo, na Grécia Antiga, os cidadãos acreditavam que os trovões representavam a fúria do todo poderoso Zeus e que o fogo foi criado para servir de ferramenta de trabalho do deus ferreiro Hefesto. Com o tempo, a ideia de que exista alguma coisa superior a nossa experiência terrena, por muitos denominado de algo “sagrado”, influenciou fortemente a cultura, tanto na ciência quanto na filosofia e nas artes. Pensadores como Émile Durkheim e artistas como Leonardo da Vinci já debateram e tentaram representar o “sagrado” em suas obras, porém, não seria a própria concepção de sagrado uma forma de profanação, já que ela foi concebida por seres como nós, tão alheios aos grandes mistérios que ainda cercam o mundo? Ou será que carregamos um pouco do sagrado conosco por fazermos parte da humanidade e tudo que a envolve? Estas são algumas das questões que a artista Maria Guia Pimpão aborda na sua exposição “Do Sagrado e do Profano”, que está aberta ao público da Covilhã no Museu de Arte Sacra da cidade. A inauguração aconteceu neste sábado, dia 6 de outubro, com a presença da própria Pimpão para comentar sobre o seu novo trabalho. A mostra reúne óleos sobre a tela que retratam situações de vulnerabilidade humana, como a fome em “Pietá” e a tristeza de uma mulher por não ter nos braços o seu filho em “De Mãos Vazias”; momentos bíblicos, a expressão no rosto de Jesus Cristo ao ser crucificado em “Hece Homo” e quando Adão e Eva provaram do fruto proibido em “Da Árvore Colhi os Frutos”; e cerimônias religiosas, como as duas meninas vestidas de branco em “A Primeira Comunhão”. As obras estarão expostas para o público até 5 de novembro, com entrada gratuita. O embrião do evento surgiu durante o convite que o Museu de Arte Sacra fez para Maria Guia de organizar uma mostra do seu trabalho que seja voltada ao debate do sagrado. “Eu disse que não tinha nada de sagrado, como poderia fazer uma exposição sobre isso?”, contou a artista, que logo percebeu que suas obras com o objetivo de captar a essência da mulher dentro da sociedade também poderiam ser representações do assunto. O Sagrado Feminino, como assim é chamado, propõe relembrar toda a simbologia e a importância que as mulheres possuem na história das religiões e na organização da sociedade. De fato, a maioria dos quadros expostos são protagonizados por mulheres, colocando-as como uma espécie de ponte entre os humanos e o divino. Os momentos bíblicos representados também são símbolos de como pode haver uma intersecção entre o mundo profano e o mundo sagrado. Quando Adão e Eva provam do fruto proibido do conhecimento, os personagens mostram que mesmo sendo as criações de que Deus mais se orgulhava, eles ainda eram imperfeitos. Quando Jesus foi crucificado após ser submetido a torturas e humilhações e ainda assim conseguiu reunir forças para perdoar seus algozes, pois viveu como um mortal e soube o tipo de socialização que a população da época era submetida. “O rosto de Cristo carrega uma parte do divino, até o fato de ele estar olhando para os céus representa isso, mas a expressão de dor e sofrimento o liga com o ser humano”, explica Maria Guia Pimpão. A visita à exposição é válida para a reflexão sobre nosso papel dentro da história e desenvolvimento dos mitos. Compreender a origem das religiões e das suas representações pode contribuir para a interpretação do contexto político e social das sociedades durante determinadas épocas. As obras possuem símbolos de fácil reconhecimento, com imagens famosas do catolicismo, como anjos, o Gênesis e Jesus Cristo. |
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