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“Poeira de Estrelas” e o movimento como pensamento
Bruno Fontoura · quarta, 21 de novembro de 2018 · Cultura Espetáculo faz parte do Festival Y e mostra as similaridades das pessoas com as estrelas. |
Yola Pinto trás o público para o palco e o torna parte da peça em "Poeira de Estrelas" (Imagem de divulgação) |
21974 visitas A sala de espera do Teatro das Beiras, que cinco minutos atrás estava soterrado no típico silêncio de adultos matando o tempo nos seus telemóveis, agora era preenchida por risadas e crianças brincando de pega-pega entre uma mesa ou outra. Junto com seus familiares, estes pequenos estão esperando pelo espetáculo “Poeira de Estrelas”, em que eles não serão apenas o público, mas parte de toda a história que a atriz e bailarina Yola Pinto irá contar através dos seus movimentos e materiais cênicos. A peça foi apresentada neste sábado, dia 17 de novembro, e faz parte da 14ª edição do Festival Y, que reúne o trabalho de artistas contemporâneos nas mais diversas áreas, como dança, música e fotografia. O espetáculo é inspirado no livro “Poeiras de Estrelas”, do astrofísico canadense Hubert Reeves, que identificou através dos seus estudos elementos semelhantes na composição dos corpos das estrelas e nos dos seres humanos, como o ferro, o oxigênio e o carbono. Essa informação é levada para as crianças, público alvo da peça, pelo contato delas com a areia, sempre intermediado pelos movimentos de Yola Pinto. A areia simboliza tanto as estrelas no final de sua vida quanto a transição da matéria para algo novo. O que antes estava no sistema solar irradiando brilho e calor hoje pode fazer parte de nós. Outro componente da peça é a grande caixa no meio do palco, à volta da qual o público se senta. Após caminhar ao redor dela, a artista vai desconjuntando a caixa, retirando quadrados e peças dobráveis e espalhando elas pelo espaço para construir todo o cenário conforme o espetáculo avança. Conforme os materiais vão tomando forma com a ajuda da atriz, os pais e as crianças também vão se deslocando dos seus lugares de origem e se reorganizando no palco. “O movimento aqui é pensamento e ação”, explica Yola Pinto, “não só de observar, mas ter um papel ativo de transformação, sentir-se parte e haver uma informalidade”. A peça nasceu em 2015 de uma coprodução com Teatro Municipal de São Luiz, em Lisboa, a partir de um projeto chamado “Viagem na Terra”, produzido por Tânia Guerreiro. Todos os espetáculos que surgiam a partir deste projeto tinham como foco a relação do homem com o universo ao seu redor e propor uma forte interação entre o público e a obra apresentada. O “Poeira de Estrelas” começou a tomar forma com a formação de uma equipe multidisciplinar, na qual fizeram parte Rui Catalão, dando apoio à dramaturgia; Sara Franqueira, que fez o desenvolvimento do objeto cênico; Noiserv na música; e Cristóvão Cunha com o desenho de luz. O desenvolvimento da obra até a sua conclusão durou cinco meses. Além da interação do público durante o espetáculo, houve um momento de conversa entre Yola Pinto com os espectadores após o encerramento da peça. A troca de informações e de experiências é o diferencial tanto do projeto “Viagem na Terra” quanto do Festival Y. Alguns pais se pronunciaram, declarando que ficaram entretidos com a obra e viram seus filhos ficarem muito à vontade em mexer e interagir com os cenários e objetos cênicos. Este era o objetivo de “Poeira de Estrelas”: criar um espaço de transformação e renovação. |
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