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Os efeitos da pandemia na saúde mental das mulheres
Mariana Leitão e Daniela Fernandes · quarta, 3 de mar?o de 2021 · Covilhanenses relatam aumento na ansiedade e processos depressivos decorrentes da sobrecarga de trabalho. Uma pesquisa recente revelou que 39 por cento das portuguesas se sentem mais cansadas e tristes desde a chegada da pandemia. |
Ansiedade e depressão são ainda mais comuns entre as mulheres |
22032 visitas O ano novo mal começou, mas o sentimento é como se não tivéssemos saído de 2020. Distanciamento e confinamento continuam a ser palavras de ordem. A pandemia trouxe consequências como o desemprego, a falência de pequenas empresas, a solidão. Segundo especialistas, todos estes fatores associados podem provocar danos à saúde mental e queixas como ansiedade e depressão são ainda mais comuns entre as mulheres. A costureira Paula Brito, de 50 anos, perdeu o emprego há quase um ano e o aumento da ansiedade levou à compulsão alimentar. Para amenizar o problema, a covilhanense procura caminhar e manter na mente os pensamentos positivos, “mesmo que a vida não esteja a levar o rumo que esperava”. Paula continua à procura de emprego, sempre com um espirito otimista e com a motivação para que o seu futuro seja melhor. Mesmo mantendo os passeios diários com os cães, aos 80 anos, Maria Alice também percebeu mudanças no humor. A dona de casa é doente crónica e a pandemia agravou as insónias. “Sou depressiva e esta situação acabou por me debilitar mais”, conta. Já Helena Cleto, 50 anos, preferiu levar a sério o confinamento total, saindo de casa apenas para o necessário. “Mudou tudo”, relata a cantora de fado e mãe de uma criança de 10 anos. Conta que se viu obrigada a ajustar a rotina para ajudar o filho com os estudos. “Virei professora do meu filho, foi muito complicado para mim, e até para ele”, diz Helena. Por causa do encerramento dos estabelecimentos culturais, a agenda de apresentações foi reduzida a zero. Helena ainda sente os efeitos da depressão e admite: “todas estas mudanças na minha vida e ter deixado de cantar deixaram-me muito em baixo”. A covilhanense afirma que se sente ansiosa sobre o futuro e que o filho é a sua “maior força”. Os problemas enfrentados por estas mulheres aparecem em números revelados por um estudo recente que procurou perceber quais os efeitos da pandemia na qualidade de vida dos portugueses. De acordo com a sondagem realizada pela Aximage para o DN/JN e TSF com 1183 pessoas entre os dias 9 e 15 de janeiro, 47 por cento dos entrevistados disseram ter notado a pioria da qualidade de vida, principalmente os que estão entre os 35 e 64 anos. Ainda segundo a sondagem, 39 por cento das mulheres dizem-se mais cansadas, tensas, ansiosas e tristes. Esta é uma realidade que a enfermeira Jéssica Sousa, do serviço de saúde SNS 24, percebe desde o começo da pandemia. Ela afirma que a maior parte das ligação que recebe é de pacientes do sexo feminino que confessam estarem “exaustas e sobrecarregadas pelo trabalho doméstico, pelos filhos e pelo emprego”. A própria enfermeira tem trabalhado duas horas a mais que o habitual desde que a Covid-19 apareceu. Já para a técnica de farmácia Cátia Silva, o trabalho diminuiu de oito para cinco horas por dia. Aumento mesmo foi na venda de calmantes, pois nota que as pessoas estão “mais nervosas, mais estressadas, com muita falta de paciência”. Segundo Cátia, as principais clientes da farmácia são mulheres, “algumas contam a dificuldade que têm em lidar com o stress e com a pressão, o que se reflete no seu sono”. Tudo isto tem provocado o aumento da venda de calmantes naturais e produtos para ajudar a restabelecer o sono. “São as mulheres que têm uma maior abertura para pedir ajuda”, revela. A técnica de farmácia também relata que as pessoas estão mais impacientes e que esses comportamentos são observados até no cumprimento das regras de segurança do estabelecimento onde trabalha. “Às vezes, um simples pedido para cumprir as regras básicas para contenção da transmissão do vírus são logo vistas como uma afronta e ficam logo revoltados”, conclui Cátia Silva. |
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