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Um quarto dos concelhos portugueses não tem noticiário local frequente
Urbi · quarta, 7 de dezembro de 2022 · Região Estudo realizado pela Universidade da Beira Interior mapeou os "desertos de notícias" em Portugal. Maior problema está nas regiões de Trás-os-Montes e Alentejo. |
Relatório foi divulgado esta segunda-feira, 2 de dezembro |
22029 visitas Mais de metade dos concelhos em Portugal é ou está na iminência de se vir a tornar desertos de notícias, enquanto um quarto deles não têm cobertura noticiosa frequente, aponta o estudo “Desertos de Notícias Europa 2022: Relatório de Portugal”, realizado pelo projeto MediaTrust.Lab, da Universidade da Beira Interior. Os dados revelam que mais de um quarto dos concelhos de Portugal estão em algum tipo de deserto de notícias, ou seja, não têm cobertura noticiosa satisfatória ou frequente. Dos 308 concelhos, 78 (25,3%) estão em algum tipo de deserto de notícias, isto é, não possuem meios de comunicação com sede no concelho sobre o qual produzem conteúdos. Destes 78 concelhos, 54 (17,5%) estão num deserto total, isto é, não possuem nenhum meio de comunicação que produza notícias, e 24 (7,8%) estão em semi-deserto, ou seja, têm apenas noticiário menos frequente ou insatisfatório. De referir ainda que há 88 (28,6%) que se encontram sob ameaça de entrarem no deserto, pois possuem apenas um meio com produção noticiosa regular. No total, 166 (53,9%) encontram-se ou em deserto de notícias, em semi-deserto ou estão ameaçados. Falamos de concelhos que se encontram numa situação de alerta em relação à cobertura noticiosa. Neste estudo, que analisou os media registados na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), não foram observadas as características das notícias publicadas nem se o noticiário veiculado pelos meios de comunicação social é produzido por jornalistas com carteira profissional. Foi aferida a presença ou ausência de jornalistas e de meios de comunicação social nos concelhos. “Este é um estudo pioneiro em Portugal e também na Europa, em que se pretende lançar um primeiro olhar para o problema da falta de cobertura noticiosa sobre os territórios mais pequenos. São concelhos em que a população se informa sobre Portugal e sobre a Europa, mas não há informação fiável sobre o que acontece em seu entorno. É preciso aprofundar este estudo incluindo outros indicadores e continuar o mapeamento anualmente para perceber a evolução da cobertura noticiosa, nomeadamente no interior do país”, explica Pedro Jerónimo, coordenador do estudo, que também tem autoria dos investigadores Giovanni Ramos e Luísa Torre. As regiões Norte, Centro e Alentejo concentram mais de 80% dos desertos e semi-desertos de notícias em Portugal. Nestas regiões, encontram-se 63 dos 78 concelhos em desertos e semi-desertos. No distrito de Portalegre, de um total de 15 concelhos, 9 (60%) estão incluídos no mapa dos desertos. Em Bragança, são 7 (58,3%) dos 12 concelhos.
Caminhos para fortalecer os media regionais O estudo foi lançado nesta segunda-feira, dia 5 de dezembro, na Universidade da Beira Interior, no âmbito do Fórum “O papel dos media no desenvolvimento do(s) território(s)”, que também contou com debate que reuniu Flávio Massano, presidente da Câmara Municipal de Manteigas, João Leitão, professor do Departamento de Gestão e Economia da UBI, e João Moraes Palmeiro, diretor executivo do Aveiro Media Competence Center (AMCC). Foi assinado ainda protocolo entre a UBI e a Associação Portuguesa de Imprensa. Manteigas é atualmente um deserto de notícias. Para Flavio Massano, presidente da Câmara Municipal, os meios de comunicação social são fundamentais para ligar as pessoas ao território, incluindo aqueles que vivem longe. “Em alguns territórios, como em Manteigas, se não houvesse redes sociais, poderíamos estar num período comparado a ditadura, pois não há informação. Já há desinformação, já há discurso extrmista, fake news, discurso de ódio. Mas não há uma fonte fidedigna que transmita os fatos do nosso concelho,” diz ele, apontando que o Estado deve intervir nestas lacunas, sendo mais um dos elementos de combate à desertificação dos territórios. Não é mais Estado, mas é preciso que o Estado alcance outro nível de qualidade, sobretudo como entidade de regulação, diz o professor João Leitão. “É necessário um Estado que seja capaz de pensar uma visão digital, moderna, que antecipe a mudança que está em curso. E que seja capaz de o fazer através da regulação, evitando a captura das agências reguladoras e dos agentes que estão no terreno, para que os media possam assumir sua função de literacia e capacitação,” explica Leitão. Outra questão fundamental neste debate é o financiamento dos meios regionais e (outros) modelo de negócio possíveis. Para o diretor executivo da AMCC, João Moraes Palmeiro, a indústria mediática não conseguiu acompanhar a mudança dos hábitos de consumo de notícias em todo o mundo e o resultado foi um desequilíbrio grave: as plataformas levam 95% do investimento em publicidade global, e só 5% é canalizado para os media. “Há um problema grave de modelo de negócio, mas muitos media preferem ter a notícia lida 1000 vezes gratuitamente do que ter 100 pessoas a pagar para ler. Esse modelo de negócio não permite que os media existam. Mesmo assim, muitas vezes conseguimos angariar investimento mas não conseguimos o resultado pois falta cultura, organização e falta fazer negócio,” afirma. |
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