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Frank Ronan,
Editora Gradiva


O melhor anjo
POR PEDRO JESUS


" Tinha acabado de explicar a nossa amizade como uma espécie de amor. O mesmo que sentira pelo meu pai, um amor perfeito, que não precisava de manifestações emotivas nem de qualquer compromisso forçado. Ouvir Smallgods negar a existência do amor era como dizerem-me que alguém tinha morrido. Ainda não lhe tinha contado que tinha enlouquecido no Verão. Enquanto ele estivera longe, tivera a certeza de que iria compreender. Agora, na sua presença, já não estava tão certo".

Até há pouco tempo, de Frank Ronan tinha apenas a noção que era um jovem irlandês, escritor de culto. Seguidamente li " Os Homens que amaram Evelyn Cotton" e "Lovely", dois dos seus livros que com maior pertinência exploram a complexidade das relações amorosas.
Já em "O Melhor Anjo", o livro que aqui se pretende apresentar, Ronan reflecte sobre um outro tipo de emoções, aquelas que cercam a amizade. O autor escreve sobre este tema, acreditando que a amizade deve subsistir num estado de completo desinteresse por outras motivações que não ela própria, isto é, livre do desejo, livre dos interesses materiais e intelectuais, livre da hipocrisia.
Frank Ronan apresenta-nos as vidas de John Moore e de Godfrey (Smallgods) Temple, que se conhecem no seu último ano de ensino secundário e que estabelecem entre si uma ligação que será acompanhada num espaço de três anos. Este é um período de profundas mudanças para estes dois jovens, já que se trata da época de traçar as primeiras escolhas para os seus futuros. Se John necessitava de um verdadeiro companheiro que o fizesse desviar das suas fobias relacionadas com a solidão e com a loucura, Godfrey precisava de um amigo pleno, alguém que não fizesse caso da sua arrogância e que não se inibisse com a sua postura citadina, que contrastava com os mais rígidos padrões rurais. A cumplicidade que se estabelece entre eles, é o tema central do livro, que demostra ainda a importância que esta terá nas suas vidas e na vida das suas famílias e companheiras. Todavia, a narrativa não se esgota na amizade dos jovens, pelo que nos é apresentado um retrato social e humano das várias personagens que fazem parte das vidas de John e Godfrey.
Pelo meio há ainda espaço para reflectir sobre outras questões, tais como a miséria material vs riqueza intelectual (representados na figura de Smallgods) ou sobre os vários tipos de abuso, sejam eles o incesto ou o abuso por parte daqueles que se encontram investidos de um determinado poder ou função.
E numa última análise, poderíamos afirmar ainda que este é um livro em que as maiores revelações são feitas sem quase darmos por elas e em que os dados que julgávamos ter por adquiridos, são postos a nu sob uma perspectiva completamente nova.

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