Páscoa toca cristãos
e judeus
A celebração
da Esperança
Celebração comum
a judeus e católicos, a Páscoa continua a marcar
o calendário de todas as religiões saídas
das sete tribos de Israel. Os Judeus, celebram a épica
fuga do Egipto, evento precedido pelo massacre de todos os primogénitos
da nação. Só as crianças judias escaparam
à matança dos inocentes, pois o anjo do Senhor
poupou as casas marcadas com o sangue de cordeiros. Esta foi
a última das sete terríveis pragas que assolaram
o Egipto e mergulharam o país em choro e ranger de dentes.
Recebida, finalmente, ordem de deixar o cativeiro, os hebreus
seguem Moisés até ao Mar Vermelho, onde se opera
um dos mais espantosos milagres do Antigo Testamento. Perseguido
por soldados egípcios, arrependidos da libertação
e sedentos de vingança, Moisés aparta as águas
do mar para deixar passar o povo eleito.
Já os católicos vêem nesta Páscoa
um significado diferente. Recordam a Paixão e o Calvário
de Cristo, narrada nalgumas das páginas mais poderosas
do Novo Testamento. Há o mal-estar dos judeus, que desconfiam
e não compreendem aquele que se proclama rei, e que vão
movendo influências junto dos romanos para arranjar uma
solução política para o escândalo.
Há a solene Última Ceia, que as missas revivem
com a Eucaristia, e que se reveste de aspectos particularmente
dramáticos. A premonição, dirigida a Pedro
- "antes do galo cantar me negarás duas vezes"
-; a traição, por trinta dinheiros, e o beijo amargo
de Judas, que o pagará caro numa figueira. Há ainda
a detenção, que se cumpre com requintes reservados
aos foragidos, e a falsa surpresa de Jesus - pois andava não
a monte, mas livremente no meio dos judeus. O negócio
com Pôncio Pilatos - político que se preocupa sobretudo
com a ordem na província, e que não deseja imiscuir-se
nas questões internas desses estranhos hebreus - é
rápido: solte-se Barrabás, condene-se o essénio.
Porquê? Nem sequer havia acusação formada.
Rei dos judeus serviu tão bem como qualquer outra.
Os Apóstolos não se apercebem claramente do que
se está a passar nessa Última Ceia, tanto que,
depois do desfecho, "julgavam-no morto", e é
com estupefacção que ao terceiro dia, ante os gritos
das mulheres, se apercebem que o túmulo afinal estava
vazio.
Para os cristãos a Páscoa, que marca a ressurreição,
é o fechar das penitências quaresmais, sinónimo
de esperança numa vida nova, de renovação
e Salvação, porque o Filho de Deus bebeu até
ao fim o cálice que redimiu os pecados do homem.
Além das próprias e autênticas páginas
do Novo Testamento, uma das mais belas versões da história
- muito positivista, muito século XIX - encontra-se em
A Relíquia, de Eça de Queirós. Um
livro que recorda que ninguém sabe, exactamente, o que
sucedeu nesses dias prodigiosos, e que esse continua a ser um
dos mistérios e pilares da fé cristã.
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