Um filme de
Laurence Ferreira Barbosa |
POR PEDRO JESUS
Integrado nos ciclos semanais
apresentados pela RTP2, passou recentemente naquela estação
televisiva Detesto o Amor, uma película realizada por
uma jovem realizadora francesa de ascendência portuguesa,
Laurence Ferreira Barbosa. Todavia, a relação do
filme com o nosso país não se esgota neste facto,
visto que a produção do filme esteve a cargo do
"nosso" Paulo Branco, que cada vez se assume como uma
das referências a nível de produções
europeias.
O título apelativo é talvez o primeiro factor de
interesse do filme. Mas não se pense que se trata de
um filme de seres amargurados que desistem de qualquer coisa,
trata-se antes de um mosaico de personagens que procuram sempre
algo, ainda que não o assumam logo de início.
Tal como na sua primeira longa-metragem, que recebeu o título
As pessoas normais não têm nada de especial (confirma-se
a escolha de títulos com uma criatividade à "prova
de bala"), Laurence Ferreira Barbosa escolhe um espaço
fechado para filmar as suas personagens. Se no primeiro caso,
a realizadora filmava numa instituição para pessoas
com perturbações mentais, a maioria das cenas de
Detesto o Amor passam-se num consultório ou no hospital.
O filme roda em volta de três personagens fulcrais: a médica
que não consegue manter uma relação fria
e distanciada dos seus pacientes, o actor hipocondríaco
que alega ter sido uma cobaia nas mãos da médica,
e o jovem infectado com o vírus HIV, a quem a médica
incute o dever de lutar pela vida.
É a partir da entrada destas duas personagens com uma
aura tão "pesada" na vida profissional e pessoal
da doutora, que Laurence Ferreira Barbosa constrói um
filme delicioso em que se reflecte sobre aqueles que estão
condenados e querem viver e os outros, aqueles que só
se consideram vivos quando atacados por alguma patologia.
Assistimos pois a um drama que faz uso de vários elementos
típicos da comédia, provavelmente com o intuito
de tratar um tema tão recorrente nos nossos dias, a SIDA,
e dar-lhe uma abordagem mais suave e descomprometida. O argumento
oscila entre o drama e a comédia, sem nunca cair na lágrima
fácil ou na relativização de questões
mais "sérias". Além disso, as considerações
e os "flashes" que passam constantemente pela mente
da médica são delirantes!
Salienta-se a presença da actriz principal Jeanne Balibar,
uma daquelas caras por quem as objectivas se apaixonam, tal a
expressividade do seu rosto.
A ver sem pretensões.
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